A Loucura de Abandonar a Liberdade
GALATAS 3:1-29
A Bíblia fala de alguns tipos de loucura: a loucura de transgredir o pacto do Senhor (Js 7.15), a loucura de não acreditar em Deus (SI 14.1), a loucura de confiar nas riquezas (Lc 12.20), a loucura de Deus (1 Co 1.25), a loucura por causa de Cristo (1 Co 4.10). Paulo fala da loucura ou da insensatez dos crentes em abandonar a justificação pela graça, em Cristo, mediante a fé (Rm 5.1). Ele exclama: Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros (Gl 3.1). A palavra insensato (anoetos-grego) significa “embotado, mente desordenada, sem inteligência, estúpido, tolo”. Outra palavra forte é fascinou (baskaino – grego), que significa “enfeitiçar, fascinar por meio de magias”.
João Calvino disse: “Quando ouvimos que o Filho de Deus, com todas as suas bênçãos, é rejeitado, e sua morte, estimada em nada, qual o crente piedoso que não se sente indignado?”.
Paulo apresenta neste capítulo, três argumentos para provar a suficiência da justificação pela fé:
1. O Argumento Pessoal dos Gálatas – Gl. 3.1-5
Paulo tenta acordar os seus irmãos da demência espiritual, argumentando sobre a própria experiência espiritual dos gálatas. Ele aponta quatro experiências espirituais:
Eles contemplaram a Jesus crucificado (Gl 3.1). Paulo, ao expor o evangelho da cruz aos gálatas, o fez de maneira clara e compreensiva, como se estivesse utilizando o método audiovisual. A ênfase dele é que a sua pregação não foi obscura, mas uma imagem nítida e vivida de Jesus. É como se eles tivessem visto a Cristo face a face.
Eles receberam a pessoa do Espírito Santo, após crerem na Palavra de Deus (Gl 3.2,3). Paulo destaca dois aspectos da obra do Espírito Santo na vida do crente: (1) A conversão do crente é obra do Espírito Santo. O batismo do Espírito Santo ou o recebimento da pessoa do Espírito pelo crente acontece no momento da sua conversão (Ef 1.13,14). O ato de receber não está condicionado à prática da lei, mas à fé na Palavra de Deus que lhe foi pregada (At 2.37,38). (2) A santificação do crente ou o seu aperfeiçoamento espiritual é obra do Espírito Santo. É uma insensatez tremenda achar que o crente pode se santificar pela obediência a princípios cerimoniais da lei. Só o Espírito pode completar a obra que Ele começou (Fl. 1:6; Rm. 8:9)
Eles sofreram por causa da fé (Gl 3.4). Os gálatas haviam experimentado sofrimentos e perseguições por causa de Jesus. E a pergunta de Paulo é: havendo sofrido tanto por amor a Jesus, vocês abrirão mão destes privilégios e vitórias? Será em vão que tenhais padecido tanto? O evangelho que Paulo pregou àqueles irmãos da Galácia era “o evangelho da tribulação” (At 14.19-22).
Eles experimentaram os milagres de Deus (Gl 3.5). Paulo fala que Deus operou milagres entre os crentes da Galácia. E o maior milagre que ele opera na vida de uma pessoa é o novo nascimento (Jo 3.3). No ato da conversão, o crente recebe o Espírito (At 2.38), o qual continua a operar milagres na vida do crente. O milagre dos dons, do fruto do Espírito, o milagre da transformação do pecador à imagem de Jesus (2Co 3.17,18). Tudo isso acontece, pela pregação da fé, e não por obediência à lei.
Em síntese: Os irmãos da Galácia se tornaram crentes quando creram no evangelho, mas se tornaram loucos quando abandonaram o evangelho.
2. Argumento do Antigo Testamento – Gl 3.6-14
Após argumentar sobre a experiência espiritual dos gálatas, Paulo utiliza argumentos do Antigo Testamento para fundamentar que a justificação pela fé, é a única maneira de Deus abençoar o homem. Eis os seus argumentos:
Abraão foi abençoado com a salvação porque creu (Gl 3.6)
Como Abraão foi salvo? Ele foi salvo ou justificado pela fé? A palavra imputar significa “creditar na conta”, ou seja, quando ele creu, Deus creditou em sua conta a justiça de Cristo (Rm 4.1-8). Quem salvou Abraão? Foi Cristo, que veio da linhagem de Abraão (Gl 3.15,16).
Qualquer pessoa só pode ser salva pela fé (Gl 3.7) Tanto judeus quanto gentios são justificados pela fé (Rm 3.21 -26). Os da fé são aqueles que colocam a justiça e esperança de salvação na graça e na misericórdia divina. São os filhos de Abraão. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, as pessoas só foram salvas por meio da fé. De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam (Hb 11.6). Não existe outra possibilidade (Ef 2.8,9).
A fé é produzida pela Palavra de Deus no coração de todo aquele que crer, assim como aconteceu com Abraão (Gl 3.8,9).
Abraão creu na Palavra de Deus ou na promessa feita pelo Pai? Ele creu no evangelho que lhe foi pregado. A fé nasce na palavra e pela palavra. E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10.17). Pela lei ou por obras, ninguém será salvo (Gl 3.10-12) Os que estão sob a lei e não lhe obedecem completamente são malditos.
Jesus se fez maldito em nosso lugar (Gl 3.13,14). Jesus Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição em nosso lugar na cruz, para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios ou a todas as famílias da terra. Três lições nestes versos: (1) O que Jesus fez? Ele nos redimiu da maldição e da condenação da lei. (2) Por que Jesus o fez? Para cumprir a promessa dada por Deus a Abraão. (3) Como Jesus fez? Ele se tornou maldição em nosso lugar.
2. Argumento da Aliança e da Lei – Gl. 3.15-29.
O terceiro argumento de Paulo para convencer os crentes a não abandonar o evangelho da graça de Deus, envolve a promessa e a lei:
A lei não anula a promessa de Deus. Paulo fala da promessa que Deus fez a Abraão, segundo a qual todas as famílias da terra seriam abençoadas com a salvação (Gn 12.1-3). Esta promessa não foi revogada pela lei, como ensinavam os judaizantes. Não foi revogada por algumas razões: (1) Qualquer aliança feita é irrevogável legalmente: Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa (Gl 3.15). (2) Deus fez a promessa a Abraão e ao seu descendente que é Jesus: Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo (Gl 3.16). (3) Somente Deus pode mudar a aliança feita com Abraão, e nem mesmo Moisés que veio 430 anos depois: E digo isto: uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa. Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão (Gl. 3.17,18).
A lei ajuda a mostrar o pecado do homem. A lei mostra ao pecador o seu pecado e o motiva a buscar a graça que está em Jesus. Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um. É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum! Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei (Gl 3.19-21). Observe duas lições nestes versos: (1) A lei foi temporária até que Jesus viesse. (2) A lei exigiu um mediador (os anjos e Moisés – At 7.53), mas na aliança feita com Abraão, não houve a necessidade de um mediador, pois foi o próprio Deus quem estava entrando em aliança.
A lei nos serviu como prisão (carcereiro de prisão) e aio (pedagogo, guia, auxiliar) para nos levar a Jesus. Primeiro, a lei conclui: todos são pecadores, mas todos podem ser salvos pela graça. Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem (Gl 3.22). Logo, a lei revela o pecado e envia o homem para a graça. E Paulo continua: Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, de futuro, havería de revelar-se. De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzira Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio (Gl 3.23-25). Com afigura do aio, Paulo ensina duas lições importantes: Os judeus não nasceram da lei, pois o aio não era o pai da criança, mas o seu professor; o trabalho do aio era temporário e durava até a criança atingir a maturidade.
O cumprimento da promessa nos uniu a Cristo. Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa (Gl 3.26-29). A união com Cristo nos concede quatro bênçãos: a) Em Cristo somos filhos de Deus – Gl 3.26. b) Em Cristo, ganhamos um novo caráter – Gl 3.27. c) Em Cristo, somos todos um – Gl 3.28. d) Em Cristo, somos descendentes espirituais de Abraão e herdeiros da promessa do evangelho – Gl 3.29.