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Estudo EBD: Tiago 3:1-12 – Controlando a Língua
Estar à frente, segurando o microfone, parece ter se tomado status e tem atraído muitos pregadores. Porém são poucos os que percebem a responsabilidade de falar em nome de Deus. Se há algo que devemos ler cuidado é no orgulho que Satanás coloca nos corações. Orgulho em ser notado, ovacionado e tido como um grande pregador. E tudo indica que Tiago tinha esta preocupação em seu coração. Em um dos capítulos mais conhecidos do Novo Testamento, o apóstolo inicia desta forma: “Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor.” (3:1).
Tiago já tinha falado sobre falar menos e ouvir mais (1:19), mostrando que refreara língua é um dos elementos da religião pura (1:26). Falar não é algo tão simples, principal mente para aqueles que tem a responsabilidade do ensino na igreja. Se há algo que o mestre precisa ter é coerência no que fala, para que a sua mensagem ganhe sentido e validade. O mestre na igreja primitiva desempenhava um papel importantíssimo, tendo como tarefa crucial à comunicação da doutrina cristã.
A observação aqui nos leva a refletir sobre as motivações de querer ser um mestre. Naturalmente, o ministério de ensino conferia—e ainda confere – um certo tipo de respeito, autoridade e prestígio. Desta forma percebemos que este problema não é novo. Muitos ainda hoje pensam em ensinar ou pregar por causa do prestígio e não por amor à obra de Deus. Alguém pode pregar muito bem sem auxílio do Espírito Santo. Pode, até mesmo, realizar a obra de Deus sem que o Espírito interfira de forma significativa, motivada apenas pelas habilidades humanas. Mas sabemos que aquilo que o homem realiza sem a direção de Deus morre quando o homem morre também.
O ministério da Palavra é de uma responsabilidade tremenda, e por isso Tiago fala do juízo com maior rigor. Aqui podemos lembrar das palavras de Jesus, que disse: “…A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido.” (Lc. 12:48). A advertência não é para desencorajar aqueles que querem servir, e sim para mostrar-lhes a importância de se falar em nome do Senhor. No Antigo Testamento vemos Deus questionar aqueles que falavam em Seu nome: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não ouçam o que os profetas estão profetizando para vocês; eles os enchem de falsas esperanças. Falam de visões inventadas por eles mesmos, e que não vêm da boca do SENHOR.” (Jr. 23:16).
No verso 2 Tiago continua: “Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar lodo o seu corpo. O instrumento principal do mestre é a língua. E o rigor do julgamento o coloca diante de uma situação perigosíssima, pois a língua é a parte mais difícil de controlar no corpo. Tropeçar aqui tem um sentido moral pode significar “errar, equivocar-se, pecar”. Esta declaração no início do verso 2 mostra a universalidade do pecado (Rm. 3:9-18; 1 Jo. 1:8). O livro de Provérbios destaca a seriedade e a força das palavras (10:8,11; 16:27,28; 17:27; 18:7,8; 23:12). É tão difícil controlar a boca. É dela que se expressa àquilo que é falso, calunioso, cortante e que pode dominar outras pessoas. Desta forma, ninguém pode se achar perfeito, porque em alguma coisa vamos tropeçar.
Dos versos 3 a 5 Tiago usa alguns exemplos para mostrar o efeito devastador da língua. No verso 3 ele usa a ilustração dos freios usados em cavalos, e que controla todo o corpo do animal, e no verso 4 o leme que controla os navios, capaz de guiá-los a qualquer lugar. As duas ilustrações focalizam uma mesma ação: controle. Os dois objetos (o freio, o leme) são pequenos e exercem um controle firme sobre duas coisas grandes (o cavalo, o navio). E neste aspecto vou concordar com a interpretação de Douglas J. Moo de que “assim como o freio determina a direção do cavalo, e o leme, ao navio, também a língua pode determinar o destino do indivíduo”.
Não é à toa que a Bíblia diz: “Quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato” (Pv. 10:19). Jesus também afirmou: “Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados (Mt. 12:36,37).
Aquilo que falamos aponta para o nosso destino. Se usarmos palavras desagradáveis elas acabarão por influenciar-nos. Se falarmos mal das pessoas sempre estaremos sozinhos, pois ninguém vai confiar em nós. As grandes contendas ocorrem por causa de pequenas palavras, ditas no momento e jeito errados. Da mesma forma, como grandes incêndios se iniciam com uma pequena faísca, assim grandes problemas começam com pequenas e desagradáveis palavras. E esta a argumentação de Tiago nos versos 5 e 6a: “… Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha. Assim também, a língua é um fogo”
No restante do versículo 6, Tiago aponta para três coisas da língua:
- “é um mundo de iniquidade”: Tiago possivelmente está apontando para as consequências do uso da língua. Dela podem sair os maiores absurdos.
- “contamina a pessoa por inteiro”. Os pecados cometidos com a língua se alastram pela pessoa como um todo. A língua amaldiçoa, profana, orgulha-se, diz juramentos falsos, mente e engana, conduz ao adultério, a idolatria e ao homicídio.
- “incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno”: Tiago vê que a língua põe a perder a vida do homem, quando usada malignamente. A existência humana fica afetada do começo ao fim com aquilo que 6 dito de forma errada. Este fogo vem do inferno.
Nos versos 7 e 8, novamente o apóstolo tenta mostrar a dificuldade de se domar a língua. Os animais têm sido domados pelo homem. Este domínio é uma clara alusão a Gênesis 1:26, em que Deus diz que o homem dominaria sobre os animais. Mas Tiago logo depois afirma: “A língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero”.
Tiago aponta para duas coisas da língua:
- ”E um mal incontrolável”. Literalmente significa que é um mal não contido, indomável, já que no grego temos o vocábulo akatastos. Isso mostra que a língua simboliza o mal incontrolável que há no íntimo.
- “cheio de veneno mortífero”. Esta descrição reflete o ensino do Antigo Testamento. No Salmo 140:3 podemos ler: **Afiam a língua como a da serpente; veneno de víbora está em seus lábios” (cf. Pv. 10:8; 11:9).
A conclusão de Tiago é fantástica, pois revela o objetivo de Deus para Sua Igreja. Os versos 9 a 12 revelam que a incoerência e a instabilidade não refletem o propósito de Deus. É triste ver que ”Com a língua bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.” (v.9). Ao mesmo tempo em que se cantam hinos de louvor e adoração a Deus, as pessoas saem da celebração para falar mal do irmão.
Amaldiçoar não é apenas falar uma praga contra a pessoa. É o desejo de que aquela pessoa seja afastada da presença de Deus e experimente o castigo do inferno. É o desejo de que algo de errado aconteça com o outro. Jesus não ensinou isso, pelo contrário: “Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam(Lc. 6:27,28; cf. Rm. 12:14).
A postura dúbia em que da língua procedem a bênção e maldição (v. 10) e inaceitável. Da mesma forma que, de uma fonte não pode brotar água saudável e imprópria, assim não há como de uma mesma boca sair palavras abençoadoras e amaldiçoadoras. A tragédia da língua está exatamente nesta incoerência.
E por fim Tiago usa o exemplo das árvores, e novamente vemos aqui uma proximidade com o ensino de Jesus. O Senhor Jesus disse certa vez: “A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons…Assim pelos seus frutos vocês os conhecerão” (Mt. 7:18,20). Neste caso, Jesus estava apontando para os falsos profetas. Tiago está falando que é impossível uma figueira produzir azeitonas, e uma videira figos. Esta Figura de linguagem aponta para a necessidade de coerência. Nossas palavras e ações apontam para o que realmente somos.
Até a próxima semana.
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