Lição 10 – Sofrer pelo Evangelho
2Timóteo 2.1-26, 2 Timóteo 2.3
“Participe dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus.”
Paulo estava preso pela segunda vez, em Roma, sem esperança de que seria liberto (2Tm 4.6-8). Numa cela fria, algemado e aguardando o martírio, ele esperava se alegrar encontrando Timóteo, teu filtro nafé (2Tm 1.4). O apóstolo exortava o jovem pastor a permanecer firme em seus deveres e apegado à sã doutrina, participando dos seus sofrimentos por causa do evangelho.
Num clima de extrema perseguição aos cristãos por parte do imperador Nero, do surgimento de várias heresias que dominavam a Ásia naquele tempo e da iminência do seu martírio, o apóstolo Paulo estava preocupado que o seu “verdadeiro filho nafé” guardasse “o bom tesouro” do evangelho de Cristo (2Tm 1.14) e assumisse a responsabilidade da mensagem da salvação mesmo que isso implicasse sofrimento para ele (2Tm 1.8,12).
No texto a respeito do sofrimento pelo evangelho, é possível perceber que Timóteo havia recebido:
I. Um chamado a participar (2Tm 2.1-6)
“… participe comigo dos sofrimentos…”. O servo de Deus precisa compreender que todo ganho vem acompanhado de sofrimento.
Um soldado (v.3-4). Deveria demonstrar total lealdade Àquele que o alistou. Muito mais do que viver destituído de comodidades, ele deveria estar disposto a sofrer perseguição por viver em completa consagração à missão do seu Comandante.
Um atleta (v.5). Paulo se refere a um atleta que luta segundo as regras. Todo atleta estabelece metas e mantém uma forte disciplina em relação aos seus treinos para poder levar o prêmio. No ministério, é o Senhor Quem estabelece as regras e recompensa Seus ministros (2Co 5.10).
Um lavrador (v.6). A recompensa do lavrador está no fruto do seu trabalho árduo. Não haverá colheita se não tiver trabalho. Somente os que saem andando e chorando enquanto semeiam é que voltarão com júbilo trazendo os seus feixes.
Timóteo deveria ponderar no que o apóstolo estava dizendo, porque, se ele assim fizesse, o Senhor lhe daria compreensão em todas as coisas. A meditação humana e a iluminação divina andam juntas, uma não anula a outra!
II. Modelos para imitar
Paulo passa a exemplificar o que havia acabado de falar, ressaltando o exemplo de Cristo e o seu próprio de que todo ganho vem depois de sacrifício. O soldado será condecorado, o atleta levará o prêmio, e o agricultor comerá dos primeiros frutos, se forem completamente dedicados.
Cristo. Olhando para Jesus, vemos que “… em troca da alegria que Lhe estava proposta, suportou a cruz,… e está sentado à direita do trono de Deus” (Hb 12.2). Primeiro a cruz, depois a alegria. A humilhação vem antes da glorificação. Jesus Cristo morreu, mas ressuscitou. Foi humilhado, mas Deus já O fez assentar “ai^iina de todo principado, epotestade, epoder, e domínio, e de todo nome que se possa mencionar…” (Ef 1.21).
Paulo. O apóstolo estava “sofrendo algemas”, mas suportava isso porque sabia que o seu ministério levava salvação aos eleitos de Deus. As convicções que ele possuía de que viveria e reinaria com Cristo, e de que negar a Cristo significaria ser negado por Ele também o estimulavam a permanecer firme.
O Dr. Carlos Osvaldo disse que “a certeza da fidelidade de Cristo no seu trato com Seus servos traz encorajamento para perseverar na provação” (2Tm 2.11-13) Pinto, C.O.C., Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento; Ed. Hagnos.
O texto afirma que:
- se alguém morrer com Cristo, também viverá com Cristo (v. 11);
- se alguém perseverar até ao fim, reinará com Cristo (v.12);
- se alguém negar a Cristo, será negado por Ele (v.12);
- se alguém for infiel a Cristo, isso não invalidará a Sua fidelidade devido ao Seu caráter (v.13).
Timóteo poderia, como disse Stott, quando tentado a evitar sacrifícios, humilhação, sofrimento ou morte em seu ministério, lembrar-se de Jesus Cristo, e reconsiderar tudo de novo!
III. Um chamado a realizar (2Tm 2.1-3,14-19)
Paulo prossegue dizendo sobre a importância de propagar a mensagem que fora transmitida de Jesus para ele e dele para Timóteo, a homens capazes de transmiti-la a outros, e assim por diante. O ministério da Palavra deveria ser a sua prioridade. Nada e ninguém deveria demover Timóteo dessa missão.
Em relação a este ministério podemos perceber:
Sua força: a graça que está em Cristo Jesus (v.1). A graça de Deus não apenas nos salva (Ef 2.8), mas também nos educa (Tt 2.11-12) e nos capacita (1 Co 15.10).
Seu conteúdo: o ensino apostólico (v.2a). O ministro de Deus não tem autoridade para criar a mensagem, mas deve transmitir aquela que recebeu dos apóstolos de Cristo. A igreja só é igreja se estiver alicerçada sobre o fundamento dos apóstolos (Ef. 2.20).
Seu alvo: homens moralmente sadios e intelectualmente capazes (v.2b). O sucesso do ministério de um líder está na sua capacidade de transmitir a mensagem a homens que possam transmitir a outros. Esta, sem dúvida, é a melhor maneira de proteger o “bom tesouro de Cristo”, por várias gerações, contra as falsas doutrinas e os falsos cristãos.
Sua consequência na identificação: sofrimento (v.3). O ministério de transmitir o ensino apostólico a homens sadios e intelectualmente capazes conta com a capacitação de Deus, mas também envolve sofrimento. Paulo estava preso por causa do evangelho, e Timóteo deveria seguir seu exemplo dando testemunho na presença de Deus e procurando Sua aprovação.
Mais uma vez, três metáforas são usadas, agora para se referir à responsabilidade que o obreiro de Deus deve ter com a sã doutrina:
a. Primeira metáfora – um bom obreiro (v.15-19) que tem como função principal a exposição da palavra de Deus. Se Timóteo se apresentasse a Deus manejando bem a Palavra, isto é, fizesse um corte reto na Palavra (uma referência à exatidão exigida de alguns ofícios como o de carpintaria e o de fabricação de tendas), não teria de que se envergonhar e se distinguiria de Himeneu e Fileto. Estes, com ensino “torto” falatórios inúteis e profanos”, estimulavam a impiedade e pervertiam a fé de alguns (v.17-18).
Stott destacou que a obra executada pelo obreiro cristão é o ensino, e que há dois tipos de obreiros: os aprovados que não têm de que se envergonhar, e os maus obreiros que deveríam se envergonhar profundamente. A diferença entre essas duas categorias de obreiros está no manejo da palavra da verdade.
Apesar de o falso ensino estar entrando na igreja e desviando a fé de alguns, Timóteo deveria firmar-se no duplo fundamento da verdade divina: “a verdade divina está segura nos eleitos de Deus e na separação do mal pelos verdadeiros crentes” (Carlos Osvaldo, obra já citada).
b.Segunda metáfora – os utensílios de honra e os de desonra (v.20-23). Os utensílios de ouro e de prata provavelmente eram usados em ocasiões especiais pelos donos dos palácios, diferentemente dos utensílios de madeira e barro que são do uso comum dos empregados. Paulo ainda estava se referindo aos mestres aprovados e aos reprovados, e lançou mão de outra metáfora, usando vasos nobres, para ministros autênticos como Timóteo, e vasos indignos, para os falsos como Himeneu e Fileto.
A purificação pessoal é fundamental para que o ministro de Deus se torne um “utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra”. Nada pode ser mais honroso do que ser usado pelo SenhorJesus quando Este solicitar. A purificação doutrinária (a si mesmo se purificar destes erros) e moral (v.22 – Foge) atrelada à busca pelas virtudes cristãs essenciais com aqueles que adoram ao Senhor sinceramente o tornarão nesse instrumento útil.
c. Terceira metáfora – o “servo do Senhor” (v.24-26) que não pode viver a contender, mas deve revelar características fundamentalmente cristãs e ministerialmente necessárias. Ele deve ser:
- “brando para com todos” – manso;
- “apto para instruir” – capaz de ensinar, tanto para instruir como para corrigir;
- “paciente” – tolerante com os erros doutrinários e morais das pessoas;
- apto para disciplinar “com mansidão os que se opõem” – a atitude diante da disciplina deve ser de humildade, brandura e consideração.