Curso bíblico em Atos dos apóstolos
Atos 4
Esta seção de Atos é especial porque fala sobre conceitos importantes como comunhão e a oração e seus resultados. Coisas que devem ser experimentadas por todos nós que somos cristãos e família de Deus.
A oração dos crentes
23 Quando Pedro e João foram soltos, voltaram para o seu grupo e contaram tudo o que os chefes dos sacerdotes e os líderes do povo haviam dito.
Assim que receberam a liberdade, foram se juntar aos seus velhos amigos, voltando à comunhão da igreja.
Embora Deus tivesse honrado Pedro e João grandemente, convocando-os para serem suas testemunhas e os capacitando para obterem a absolvição de forma tão brilhante, eles não se vangloriaram com a honra recebida, nem se julgaram exaltados acima dos irmãos, mas foram para os seus.
Nosso crescimento no uso dos talentos e no serviço cristão não deve nos fazer pensar que estamos acima quer dos deveres quer dos privilégios da comunhão dos santos.
Embora os inimigos de Pedro e João os tivessem ameaçado severamente e se empenhado em dissolver o grupo e amedrontá-los diante da obra em que estavam engajados, os apóstolos foram para os seus, não temendo a ira dos membros do Sinédrio.
Eles poderiam estar sossegados, se, depois de soltos, tivessem se retirado para seus gabinetes de estudo e passado algum tempo em oração.
Mas, como eram pessoas de posição pública, não deviam buscar tanto a sua própria satisfação pessoal. Os seguidores de Jesus fazem melhor quando estão juntos, contanto que estejam juntos dos seus.
Pedro e João eram homens que sabiam compartilhar seus conflitos. Após serem soltos vão dividir com os demais irmãos suas lutas e angustias.
Jesus compartilhava também das suas lutas com seus discípulos. Ele fez isso no Getsêmani e ali com ele orou ao pai junto aos discípulos que o acompanhavam.
A ADORAÇAO E ORAÇÃO DOS CRISTÃOS
24 Assim que eles ouviram isso, adoraram todos juntos a Deus, dizendo: —Senhor, tu és o Criador do céu, da terra, do mar e de tudo o que existe neles! 25 Tu falaste por meio do Espírito Santo e do nosso antepassado Davi, teu servo, quando ele disse: “Por que as nações pagãs ficaram furiosas? Por que os povos fizeram planos tão tolos?
26 Os seus reis se prepararam, e os seus governantes se ajuntaram contra o Senhor Deus e contra o Messias, que ele escolheu. ”
27 —De fato, Herodes e Pôncio Pilatos se juntaram aqui nesta cidade, com os não-judeus e com o povo de Israel, contra Jesus, o teu dedicado Servo que escolheste para ser o Messias. 28 Eles se reuniram para fazer tudo o que, pelo teu poder e pela tua vontade, já havias resolvido que ia acontecer. 29 Agora, Senhor, olha para a ameaça deles. Dá aos teus servos confiança para anunciarem corajosamente a tua palavra. 30 Estende a mão para curar, a fim de que, por meio do poder do nome do teu dedicado Servo Jesus, milagres e maravilhas sejam feitos.
Esta oração da comunidade crente ilustra a maneira pela qual a igreja devia ser fortalecida e encorajada pela soberania de Deus. Em face da ameaça de violência física, a igreja afirmava o controle de Deus sobre a situação (v.28) e, encorajada por isto, pedia maior ousadia.
Nesta oração o senhorio absoluto de Deus é destacado, porque Ele controla os homens e faz realizar a sua vontade. Os apóstolos entendiam que apesar de terem sido perseguidos em estar a fazer a obra de Deus, tudo que sucedia com eles era fruto de uma ação soberana de Deus.
Neste mundo, há muitos males e sofrimentos aparentemente sem motivo. Precisamos, portanto, aprender a confiar em Deus como aquele ser supremo que controla todas as coisas, e que faz tudo cooperar juntamente para o bem de suas criaturas, e, sobretudo, de seus escolhidos.
31 Quando terminaram de fazer essa oração, o lugar onde estavam reunidos tremeu. Então todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a anunciar corajosamente a palavra de Deus.
A resposta graciosa que Deus deu à oração que os apóstolos e os seus fizeram – resposta dada não em palavras, mas em poder. 1. Deus deu aos apóstolos e os seus um sinal de que aceitou a oração que faziam:
E, tendo eles orado(v. 31), talvez muitos pediram uns depois dos outros, conforme a regra (1 Co 14.31), e quando concluíram as atividades do dia, moveu-se o lugar em que estavam reunidos.
Houve um vento veemente e impetuoso, semelhante ao que ocorreu quando o Espírito foi derramado sobre eles (cap. 2.1,2), que fez tremer o lugar onde agora era a casa de oração deles.
O tremor do lugar tinha o objetivo de lhes infundir temor reverente, despertá-los, elevar-lhes as expectativas e lhes dar uma prova sensorial de que Deus estava verdadeiramente com eles. Objetivava, talvez, lembrá-los de uma profecia: Farei tremer todas as nações[…] e encherei esta casa de glória(Ag 2.7). Tencionava mostrar-lhes a razão para temerem mais a Deus e, por conseguinte, temerem menos os homens.
Aquele que moveu o lugar poderia mover o coração dos que ameaçaram os seus servos, porque Deus ceifará o espírito dos príncipes: é tremendo para, com os reis da terra (SI 76.12).
O lugar foi abalado para que a fé fosse fundada e firmada.
Deus deu aos apóstolos e aos seus discípulos maior medida do seu Espírito, que foi o pedido pelo que oravam.
A oração, sem dúvida, foi aceita e respondida: Todos foram, cheios do Espírito Santo (v. 31). Com isso, foram despertados e capacitados a falar com ousadia a palavra, de Deus e não com medo dos olhares orgulhosos e arrogantes dos homens.
O Espírito Santo lhes ensinou o que falar e como falar. Os que eram habitualmente dotados com o poder do Espírito Santo ainda tiveram oportunidade de novos enchimentos, de acordo com as necessidades do serviço que faziam.
Eles foram cheios do Espírito Santo no tribunal (v. 8), e agora foram cheios do Espírito Santo no púlpito, fato que nos ensina, a viver em total dependência da graça de Deus segundo o dever diário requer de nós.
Precisamos ser ungidos com óleo fresco em toda nova ocasião. Assim como na providência, também na graça de Deus, não só em termos gerais vivemos e existimos, mas também nos movemos em cada ação em particular (cap. 17.28).
……..Então todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a anunciar corajosamente a palavra de Deus.
Temos aqui um exemplo do cumprimento da promessa de que Deus dará[…] o Espíríto Santo àqueles que lho pedirem(Lc 11.13) visto que era uma resposta da oração para que fossem cheios do Espírito Santo. Nós, também, vemos um exemplo do aperfeiçoamento desse dom que é exigido de todos para quem é dado: Tenha e use, use e tenha mais.
Quando eles foram cheios do Espírito Santo, eles anunciavam com ousadia a palavra de Deus, pois a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil (2 Co12.7). Temos de desenvolver os talentos, e não enterrá-los (Mt 25.14-30).
Os crentes repartem os seus haveres
32 Todos os que creram pensavam e sentiam do mesmo modo. Ninguém dizia que as coisas que possuía eram somente suas, mas todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham. 33 Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e Deus derramava muitas bênçãos sobre todos. 34 Não havia entre eles nenhum necessitado, pois todos os que tinham terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro 35 e o entregavam aos apóstolos. E cada pessoa recebia uma parte, de acordo com a sua necessidade. 36 José era levita e havia nascido na ilha de Chipre. Os apóstolos o chamavam de Barnabé, que quer dizer “Aquele que dá ânimo”. 37 Foi assim que José vendeu um terreno dele e entregou o dinheiro aos apóstolos.
Estes versículos nos dão uma ideia geral de como viviam os cristãos do primeiro século.
Os discípulos amavam uns aos outros afetuosamente. Oh! Quão bom e quão suave é(SI 133.1) ver que era um só coração e a alma da multidão dos que criam(v. 32) e que não havia discórdia nem divisão entre eles.
Observe aqui: 1. Havia multidões que criam(v. 32). Até em Jerusalém, onde a influência maléfica dos principais dos sacerdotes era muito forte, houve quase três mil convertidos em um dia e quase cinco milem outro (cap. 2.41; 4.4).
Além destes, todos os dias acrescentava o Senhor à igreja(cap. 2.47). É claro que todos eram batizados e possuíam a mesma confissão da fé, pois o mesmo Espírito que dotou os apóstolos com ousadia para pregar a fé de Cristo, dotou aqueles com ousadia para confessá-la.
As multidões eram todas de um coração e de uma alma(v.32). Embora houvesse muitos e numerosos indivíduos de diferentes idades, temperamentos e posições sociais no mundo que, talvez, antes de crerem eram completamente estranhos, quando se encontraram em Cristo, aproximaram-se uns dos outros como se fizesse muitos anos que se conheciam.
De onde vinham esses novos convertidos? Talvez proviessem de diferentes seitas judaicas, ou houvessem, antes da conversão, tido discórdias em questões civis. Mas agora tudo isso foi esquecido e abandonado. Eles eram unânimes na fé cujo fundamento era Cristo.
Pelo fato de todos terem sido unidos ao Senhor, eles se uniram uns aos outros em amor santo. Este era o fruto santo da lei que Jesus, poucas horas antes da crucificação, deu aos discípulos: Que vos ameis uns aos outros(Jo 13.34), e de sua oração por eles quando estava para morrer: Para que todos sejam um (Jo 17.21).
Como se organizavam estes primeiros convertidos: Temos motivos para supor que eles se dividiram em diversas congregações, ou assembleias de adoração, conforme se situavam suas residências, sob a responsabilidade de seus respectivos ministros. Mesmo isso, não ocasionou ciúme ou inquietação, porque eram de um coração e de uma alma e amavam os membros de outras congregações tão verdadeiramente quanto os membros de suas próprias congregações. Esta era a situação que então vigorava e não percamos a esperança de vê-la novamente, quando o Espírito do alto for derramado sobre nós.
A beleza do Senhor nosso Deus brilhava em todos os primitivos cristãos e em tudo o que faziam: Em todos eles havia, abundante graça(v. 33), não só em todos os apóstolos, mas em todos os cristãos, chartsmegale- graça que tinha algo abundante em si (magnífica e extraordinária) estava sobre todos eles.
1. Jesus derramou abundância de graça sobre os cristãos primitivos, qualificando-os para grandes obras e os dotando com grande poder. A graça vinha do alto, de cima.
2. Havia frutos evidentes desta graça em tudo o que os primitivos cristãos diziam e faziam, sendo-lhes uma honra e recomendando-os ao favor de Deus, o que lhe é precioso(1 Pe 3.4). 3. Alguns estudiosos asseveram que incluía a graça que os primitivos cristãos possuíam diante do povo. Todo o mundo via beleza e excelência neles, e os respeitava.
Eles não se apegavam às propriedades, eram-lhes indiferentes. Não diziam, com certo tom de orgulho e vanglória, que as coisas que possuíam eram deles, ostentando-as ou confiando nelas.
Não diziam que coisa alguma do que possuíam era sua própria, porque haviam abandonado tudo por amor a Cristo e sabiam que todos os bens terrenos lhes seriam tirados por serem seguidores fiéis dele. Eles não afirmavam que coisa alguma[…] era sua própria, porque não podemos dizer que algo seja nosso próprio, senão o Pecado.
O que temos no mundo pertence mais a Deus do que a nós. O que possuímos é de Deus, temos de usá-lo para Ele e lhe prestaremos conta disso.
Ninguém dizia, que coisa alguma do que possuía era sua própria, Porque eles repartiam de boa mente e eram comunicáveis (1 Tm 6.18).
Ninguém desejava comer o seu bocado sozinho, mas o que cada um e sua família podiam dividir, os vizinhos pobres eram bem-vindos em participar.
Os que possuíam grandes propriedades não eram ávidos em retê-las, mas eram prontos a dispô-las em prol dos irmãos e a passar por dificuldades financeiras para ajudá-los. Não admira que eles fossem de um coração e de uma alma(v. 32), mostrando tanto desapego com as riquezas deste mundo. A retenção do que têm e o desejo ardente de ter mais são a causa do aumento de guerras e lutas entre os homens.
Os primeiros cristãos abundavam em atos de caridade visto que todas as coisas lhes eram comuns(v. 32). Não havia, pois, entre eles necessitado algum (v. 34), uma vez que medidas eram tomadas para o sustento de todos. Os que eram mantidos nas instituições beneficentes foram, provavelmente, excluídos quando se tornaram cristãos.
Por conseguinte, nada mais justo que a igreja assumisse o sustento dessas pessoas. Assim como havia muitos pobres que receberam o evangelho, também havia alguns ricos que podiam sustentá-los, e a graça de Deus lhes concedia boa vontade. O que muito colheu não teve em excesso, porque o que teve de sobra teve para quem colheu pouco, a fim de que este não passasse necessidade (2 Co 8.14,15).
O evangelho colocou todas as coisas em comum, não para que os pobres tenham a permissão de roubar os ricos, mas para que os ricos tenham a função de socorrer os pobres.
Muitos dos primeiros cristãos venderam suas propriedades para levantar fundos para as obras assistenciais.
Por seus cálculos, o Dr. Lightfoot considera que este era o Ano do Jubileu na nação judaica, o quinquagésimo ano (o vigésimo oitavo desde que se estabeleceram em Canaã, mil e quatrocentos anos atrás). Desta forma, as terras que fossem vendidas naquele ano não seriam devolvidas até o próximo jubileu, fazendo com que recebessem um bom preço e sua venda granjeasse muito dinheiro.
Atos 5
Ananias e Safira
1 Mas um homem chamado Ananias, casado com uma mulher que se chamava Safira, vendeu um terreno 2 e só entregou uma parte do dinheiro aos apóstolos, ficando com o resto. E Safira sabia disso. 3 Então Pedro disse a Ananias: —Por que você deixou Satanás dominar o seu coração? Por que mentiu para o Espírito Santo? Por que você ficou com uma parte do dinheiro que recebeu pela venda daquele terreno? 4 “Antes de você vendê-lo, ele era seu; e, depois de vender, o dinheiro também era seu. Então por que resolveu fazer isso? Você não mentiu para seres humanos—mentiu para Deus!”
5 “Assim que ouviu isso, Ananias caiu morto; e todos os que souberam do que havia acontecido ficaram com muito medo.” 6 Então vieram alguns moços, cobriram o corpo de Ananias, levaram para fora e o sepultaram. 7 A mulher de Ananias chegou umas três horas depois, sem saber do que havia acontecido com o marido. 8 Aí Pedro perguntou a ela: —Me diga! Foi por este preço que você e o seu marido venderam o terreno? —Foi! —respondeu ela. 9 Então Pedro disse: —Por que você e o seu marido resolveram pôr à prova o Espírito do Senhor? Os moços que acabaram de sepultar o seu marido já estão lá na porta e agora vão levar você também. 10 No mesmo instante ela caiu morta aos pés de Pedro. Os moços entraram e, vendo que ela estava morta, levaram o corpo dela e o sepultaram ao lado do marido. 11 E toda a igreja e todos aqueles que souberam disso ficaram apavorados.
Neste capítulo, temos:
I. O pecado e castigo de Ananias e Safira, que, por mentirem ao Espírito Santo, foram feridos de morte segundo a palavra de Pedro (w. 1-11).
II. O estado da igreja em franco desenvolvimento, no poder que acompanhava a pregação do evangelho (w. 12-16).
III. O encarceramento dos apóstolos e a milagrosa libertação da prisão, com novas ordens para continuarem pregando o evangelho. A obediência dos apóstolos às ordens recebidas, e o grande desgosto e irritação causado naqueles que os perseguiam (vv. 17-26).
IV. A acusação que os apóstolos receberam diante do grande Sinédrio, e a defesa apresentada (vv. 27-33).
V. O conselho de Gamaliel em relação aos apóstolos acusados, para que não fossem perseguidos, mas tivessem a permissão de irem embora a fim de que as consequências se mostrassem. O acatamento do grande Sinédrio, por ora, deste conselho, e a liberação dos apóstolos com nada mais que um açoite (w. 34-40).
VI. O progresso alegre dos apóstolos na obra apesar da proibição recebida e da indignidade que lhes foi feita (w. 41,42).
Mas o que podemos dizer sobre o caso de Ananias e Safira?
O capítulo começa com um termo melancólico: mas (v. 1), o qual detém o prospecto agradável e feliz das coisas que vimos nos capítulos anteriores.
Como se dá com cada pessoa, assim toda igreja, mesmo em seu melhor estado, tem o seu mas.
1. Os discípulos eram muito santos e sublimes, e parecia que todos eram sumamente bons, mas havia hipócritas entre eles, cujo coração não era reto diante de Deus(cap. 8.21). Eram pessoas que, quando foram batizadas e assumiram a aparência depiedade,negaram a eficácia dela(2 Tm 3.5) e ficaram aquém. Mesmo nas melhores sociedades terrenas há uma mistura de maus e bons. O joio cresce junto com o trigo até a colheita.
2. Era digno de nota que os discípulos tivessem alcançado essa perfeição para a qual Jesus recomendou o jovem rico: eles venderam o que tinham e deram tudo aos pobres (Mt 19.20,21). Mas até isso serviu de véu e disfarce para a hipocrisia, pois se cria que a venda de posses e a doação do valor da venda fosse prova irrefutável de sinceridade.
3. Os sinais e maravilhas que os apóstolos operaram até aqui eram milagres de misericórdia, masagora ocorre um milagre de juízo. Este é um exemplo de severidade que ocorre após exemplos de bondade, para que Deus seja amado e temido.
O pecado de Ananias e Safira, sua esposa.
É bom vermos marido e mulher unidos no que é bom, mas juntos na prática do mal é ser como Adão e Eva, quando concordaram em comer o fruto proibido e foram um na desobediência.
1. O pecado de Ananias e Safira consistiu na ambição de serem considerados discípulos eminentes, do primeiro escalão, quando na verdade não eram verdadeiros discípulos.
Queriam passar por uma das árvores mais frutíferas na videira de Cristo, quando na realidade não tinham raiz.
Eles venderam uma propriedadee depositaram o preço(como fez Barnabé) aos pés dos apóstolos(w. 1,2) para que não ficassem para trás dos próprios dirigentes dos cristãos.
Eles tinham em mira o aplauso e a aclamação para ficarem em posição mais digna possível e promoção na igreja, pois talvez pensassem que ela em breve se destacaria em pompa e grandeza secular.
Veja que é possível os hipócritas negarem alguma coisa a eles mesmos para se servirem de outra. Eles se privam de vantagem secular em um caso, com vistas a obter crédito em outro.
Ananias e Safira aceitariam a confissão do cristianismo para mostrar boa, aparência na carneG16.12), e assim escarneceriam de Deus e enganariam as pessoas, pois sabiam que não iriam até ao fim com a confissão cristã.
É digno de nota e até determinado ponto correto que o jovem rico não fingiu seguir Jesus, mas retirou-se triste(Mt 19.22), pois sabia que, numa situação difícil, ele não se sustentaria até o fim.
Ananias e Safira fingiram ir até o fim para receberem o crédito do discipulado, quando na verdade não iriam. Veja que a consequência é muitas vezes fatal quando a pessoa mantêm a confissão cristã por um período maior do que ad
mite o seu princípio interior.
2. O pecado de Ananias e Safira foi cobiçarem as riquezas do mundo e desconfiarem de Deus e sua providência: Eles venderam uma propriedade (v. 1), e talvez, num repentino impulso de zelo, resolveram dedicar o valor total da venda para fins caridosos.
Em seguida, fizeram um voto, ou pelo menos concordaram entre si em agir assim.
Mas, quando receberam o dinheiro, o coração deles fraquejou e retiveram parte do preço(v. 2), porque amaram o dinheiro, pensaram que era muito para ser entregue de uma só vez às mãos dos apóstolos e o quiseram para si.
Embora agora todas as coisas fossem comuns entre os membros da igreja, não o seriam por muito tempo, e o que fariam em tempos de necessidade se não deixassem nada reservado para. si? Eles não podiam confiar na palavra de Deus para que lhes provesse o sustento, mas julgaram que seriam mais espertos que os demais, guardando para tempos de privações.
Pensaram que podiam servir a Deus e a Mamom ao mesmo tempo (Mt 6.24): a Deus, depositando parte do dinheiro aos pés dos apóstolos, e a Mamom, guardando a outra parte nos próprios bolsos.
Agiram como se não houvesse plena suficiência em Deus para lhes recompor a totalidade da fazenda, exceto se retivessem uma parte em suas próprias mãos mediante caução.
O coração estava dividido, por isso foram culpados (Os 10.2). Eles coxearam entre dois pensamentos (1 Rs18.21): se tivessem sido legítimas pessoas mundanas, não teriam vendido a propriedade; se tivessem sido legítimos cristãos, não teriam retido parte do preço.
3. O pecado de Ananias e Safira se caracterizou por acharem que enganariam os apóstolos, fazendo-os entender que entregaram o valor total da venda, quando na verdade era apenas uma parte. Eles chegaram com muita firmeza, grande demonstração de devoção e religiosidade, como os outros, e depositaram o dinheiro aos pés dos apóstolos(v. 2) como se fosse o total. Eles dissimularam com Deus e seu Espírito, com Cristo e sua igreja e ministros. Foi este o pecado deles.
Os apóstolos curam muitos doentes
12 Os apóstolos faziam muitos milagres e maravilhas entre o povo, e os seguidores de Jesus se reuniam no Alpendre de Salomão. 13 Ninguém de fora tinha coragem de se juntar ao grupo deles, mas o povo falava muito bem deles. 14 Uma multidão de homens e mulheres também creu no Senhor e veio aumentar ainda mais o grupo. 15 Por causa dos milagres que os apóstolos faziam, as pessoas punham os doentes nas ruas, em camas e esteiras. Faziam isso para que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra cobrisse alguns deles. 16 Multidões vinham das cidades vizinhas de Jerusalém trazendo os seus doentes e os que eram dominados por espíritos maus, e todos eram curados.
Este é o relato geral dos milagres que os apóstolos fizeram: E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos(v. 12), muitos milagres de misericórdia para um de juízo.
Agora o poder do evangelho voltou ao seu curso de ação próprio, ao canal de misericórdia e graça. Deus saíra do seu lugar para castigar, mas agora retorna ao seu lugar, ao propiciatório – o assento da misericórdia.
Os milagres que os apóstolos fizeram comprovaram sua missão divina. Não foram poucos milagres, mas muitos, de diversos tipos e muitas vezes repetidos. Eram sinais e prodígios, maravilhas a ponto de serem reconhecidamente sinais da presença e poder divinos.
Não foram milagres feitos às ocultas, mas abertamente entre o povo, que tinha a liberdade de investigá-los. Se tivesse havido fraude ou conluio, o povo teria descoberto.
Estes milagres fizeram a igreja se manter unida e firme em sua lealdade aos apóstolos e uns aos outros: E […] todos da igreja estavam[…] unanimemente no alpendre de Salomão(v. 12). (1) Eles se reuniam no templo, ao ar livre, no lugar chamado alpendre de Salomão.
E estranho que os administradores do templo permitissem que os crentes fizessem a reunião ali. Mas Deus inclinou o coração dos responsáveis para tolerar os crentes por algum tempo a íim de facilitar a propagação do evangelho. Os que permitiam compradores e vendedores não puderam, por vergonha, proibir tais pregadores e realizadores de milagre.
Todos se reuniam em adoração pública. Constatamos que a instituição de reuniões religiosas era observada desde o início na igreja, prática que de jeito nenhum deve ser diminuída ou abandonada.
As reuniões promovem a continuação da confissão religiosa. Eles se reuniam no templo permanecendo unânimes na doutrina, adoração e disciplina. Não havia descontentes nem murmuradores com a morte de Ananias e Safira, como houve contra Moisés e Arão sobre a morte de Corá e sua congregação: Vós matastes o povo do Senhor(Nm 16.41). A separação dos hipócritas, por julgamentos distintivos, faz os sinceros apegarem-se mais uns aos outros e serem mais fiéis ao ministério do evangelho.
Na próxima semana continuamos.