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Tiago: A religião prática
Tiago faz parte das chamadas Cartas Gerais ou Universais (as cartas de Pedro, João, Judas e aos Hebreus). É a mais prática de todas as cartas e tem sido chamada de “Guia Prático para a Vida e a Conduta Cristã”.
Por que estudarmos a carta de Tiago? Apresento algumas razões:
•Ela faz parte do cânon do Novo Testamento, isto é, ela é a revelação escrita inspirada por Deus, útil para o nosso ensino e nosso aperfeiçoamento espiritual.
•Ela é um manual prático da religião cristã, a lei de Cristo para a nossa vida diária. É notável a semelhança entre o conteúdo de Tiago e o Sermão do Monte (Mt 5.3-7.27). Faça uma comparação: Tg 2.12,13 com Mt 6.14,15; Tg 3.11-13 com Mt 7.16-20; Tg 5.12 com Mt 5.34-37.
•Ela trata de assuntos ou de problemas espirituais que enfrentamos na vida cristã hoje. Provações, tentações, hipocrisia, acepção de pessoas na igreja, os tipos de fé, o controle da língua, o mundanismo na igreja, o exercício da paciência, a importância da oração.
Estudar a carta de Tiago é ser impactado com um sermão pastoral. Ele exorta de forma objetiva e amorosa a Igreja de Cristo, sem abrir mão da sua autoridade apostólica. Ele usa 44 imperativos para exortar os crentes ao desenvolvimento e à maturidade espiritual.
1. Quem Escreveu e Para Quem Escreveu?
Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações (Tg 1.1). Três informações importantes:
Autoria da carta: Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo
A carta tem o nome do seu autor, Tiago, irmão de Jesus (Mt 13.55-56 e Mc 6.3), líder da igreja em Jerusalém (At 15.13; 21.18 e Gl 2.9,12). Incrédulo durante o ministério de Jesus (Jo 7.1-5), converteu-se, provavelmente, após a ressurreição de Jesus (1Co 15.7) e foi testemunha da ascensão de Jesus (At 1.14). Foi martirizado no ano 62 d.C.
O nome Tiago era muito comum na época e a Bíblia registra a existência de algumas pessoas com este nome: (1) Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, pescador, a discípulo de Jesus, morto por Herodes – Mt 4.17-22; Mc J 3.17; At 12.1,2. (2) Tiago, filho de Alfeu, outro discípulo de Jesus – Mt 10.3 e At 1.13. (3) Tiago, pai de Judas – Lc 6.16.
Tiago se apresenta como servo de Deus e do Senhor Jesus. W. Barclay diz que há pelo menos quatro implicações neste título: obediência absoluta, humildade absoluta, lealdade absoluta e honra absoluta.
Destinatários: às doze tribos que se encontram na Dispersão
Tiago escreveu aos cristãos judeus espalhados por todo o império romano. O termo “doze tribos” significa o povo de Deus ou a nação de Israel (At 2.9-11 e 26.7). Foi escrita entre os anos 44 d.C. a 62 d.C, ano em que Tiago morreu.
Saudação: Saudações
Tiago usa apenas a expressão: saudações (chairein).
Era uma saudação típica dos gregos (At 23.26). Ele usa a mesma saudação na carta que continha a decisão do Concilio de Jerusalém (At 15.23).
2. Qual o Propósito de Tiago?
Ao ler a carta de Tiago, observamos que os destinatá-rios da carta tinham alguns problemas em sua vida pessoal e na igreja. Aquilo que foi oculto por Lucas em Atos, foi revelado por Tiago: impaciência nas tribulações, hipocrisia, acepção de pessoas, maledicência, mundanismo, brigas e cobiças, crentes doentes e afastados da igreja.
Os comentaristas bíblicos apresentam várias suges- tões de esboço da carta bem como sobre o propósito de Tiago. Simon Kistemaker diz que a carta pode ser dividida em duas partes, composta por dois sermões: capítulos 1-2 (primeiro sermão com 53 versículos) e capítulos 3-5 (segundo sermão com 55 versículos). São cinco títulos para os cinco capítulos: Perseverança, Fé, Controle, Submissão e Paciência. Henriett Mears diz que o objetivo de Tiago foi apre- sentar Jesus Cristo como nosso modelo. Não devemos desistir, pois, temos a fé: Fé vitoriosa sobre a tentação (Tg 1.12), Fé revelada pelos nossos atos (Tg 1.22-2.26); Fé revelada pelas nossas palavras (Tg 3.1-18); Fé revelada pela pureza do caráter (Tg 4.1 -17); e Fé revelada pela vida de oração (Tg 5.1-20).
Todo cristão pode ter alegria em meio às provações (Hb 12.2). (4) Toda provação que o crente enfrenta tem a permissão de Deus (Gn 22.1).
Quais os objetivos ou resultados da provação?
Tiago segue falando sobre o assunto e apresenta os dois resultados da provação: (1) Perseverança, capacidade de resistir, paciência na tribulação: sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1.3 e Rm 5.3,4). (2) Maturidade ou integridade e perfeição de caráter: Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes (Tg 1.4).
O que precisamos fazer durante a provação?
Primeiro, na provação precisamos de sabedoria espiritual, ou discernimento para entender, suportar e sair vitorioso. Como conseguir sabedoria? Orando, responde Tiago:
Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos Og 1.5-8).
Em segundo lugar, precisamos entender que provação não tem nada a ver com quantidade de bens, ser pobre ou ser rico. A provação nivela todos os crentes diante de Deus: O irmão, porém, de condição humilde glorie-se na sua dignidade, e o rico, na sua insignificância, porque ele passará como a flor da erva. Porque o sol se levanta com seu ardente calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e desaparece a formosura do seu aspecto; assim também se murchará o rico em seus caminhos (Tg 1.9-11). A provação vem sobre todos os crentes, independente da sua condição financeira. É totalmente equivocada a ideia de que possuir bens é recompensa de dignidade espiritual.
Quando as provações terão fim?
Tiago encerra o assunto acerca da provação com uma bem-aventurança: Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam (Tg 1.12). Neste verso, Tiago nos ensina três lições: (1) Feliz é o homem que suporta a provação, sem desistir da fé. (2) O crente será provado durante toda a sua vida neste mundo. (3) O crente provado e aprovado receberá a recompensa da vida eterna.
O grande perigo da provação
A diferença fundamental entre a provação e a tentação está na sua origem e objetivo. A provação procede de Deus e visa o amadurecimento do crente. A tentação brota da nossa natureza pecaminosa, de Satanás e do mundo, e o seu objetivo é prejudicar o nosso relacionamento com Deus.
Tiago fala do grande perigo da provação para o crente: a de ser transformada em uma tentação. Dependendo da intensidade da provação, podemos ficar zangados com Deus e duvidar do seu caráter, como fez a esposa de Jó (Jó 2.9,10). Por isso ele assevera: Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta (Tg 1.13). Deus não é fonte de tentação e Ele não é atraído pelo mal. A sua natureza é santíssima. A Bíblia ensina que Satanás é o tentador (Mt 4.3; 1Ts 3.5) e que o crente deve orar a Deus pedindo “não nos deixes cair em tentação”.
A tentação brota da nossa natureza pecaminosa: Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte (Tg 1.14,15). Três lições aqui: (1) A tentação é universal e atinge a todo homem ou a cada um. (2) A tentação brota do coração corrompido do homem – Jr 17.9 e Mt 15.19. Cada um é atraído e seduzido por seu próprio desejo perverso, tal como um peixe ao ser pescado. (3) A tentação é um processo tal como a concepção de um ser vivo: cobiça + atração e sedução = dá à luz ao pecado = que resulta em morte (Rm 6.23). Os dois remédios para não cair em tentação: vida de comunhão com Deus, pela oração e leitura da Bíblia (Mt 4.1-11 e 26.41) e a fidelidade de Deus que proverá o livramento (1 Co 10.13).
Tiago continua: Não vos enganeis, meus amados irmãos (Tg 1.16). Tudo de bom que existe procede de Deus. Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (Tg 1.17).