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ToggleExodo 12
1. Introdução
A morte, última inimiga do homem (1 Co 15:26), visitaria o Egito com uma praga final e desferiria um derradeiro golpe sobre o orgulhoso governante daquela terra. Numa noite dolorosa, todos os filhos primogênitos e todos os animais primogênitos no Egito morreriam e haveria grande clamor por toda a terra (Êx 11:6; 12:30). Só então o Faraó deixaria o povo de Deus ir.
No entanto, a morte não visitaria os hebreus e seus animais, pois pertenciam ao Senhor e eram seu povo especial. Na terra de Gósen, só morreriam os cordeirinhos inocentes, um para cada lar hebreu. Essa noite marcaria a instituição da Páscoa, a primeira festa nacional de Israel. Neste capítulo, vamos examinar cinco aspectos distintos da Páscoa.
O rei Faraó iria colher aquilo que havia semeado antes contra o povo judeu, porque, a semeadura é uma lei fundamental da vida (Mt 7:1, 2), e Deus não é injusto quando permite que essa lei funcione no mundo. O Faraó afogou os bebês hebreus, de modo que Deus afogou o exército do Faraó (Êx 14:26-31; 15:4, 5). Jacó mentiu para o pai, Isaque (Gn 27:15-17), e, anos depois, os filhos de Jacó mentiram para ele (Gn 37:31-35). Davi cometeu adultério e mandou matar o marido de Bate-Seba (2 Sm 11); a filha de Davi foi estuprada e dois de seus filhos morreram assassinados (2 Sm 13; 18). Hamã construiu uma forca para matar Mordecai, mas o próprio Hamã acabou enforcado nela (Et 7:7-10). “Não vos enganeis, de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7).
2. A páscoa e os judeus
A Páscoa marcou um recomeço para os hebreus e uniu-os como uma nação. Quando O Senhor nos liberta da escravidão, é o começo de um novo dia e de uma nova vida.
O ano religioso judaico começará no mês de abril. No calendário moderno, seria o mês de abril. Assim, a festa da Páscoa marcava o início do ano religioso, e, na Páscoa, a atenção volta- se para o cordeiro.
O cordeiro é um dos principais elementos da Páscoa.
Ao falar do cordeiro nos lembramos da pergunta de Isaque: “Onde está o cordeiro?” (Gn 22:7). Pergunta que introduziu um dos principais temas do Antigo Testamento, enquanto o povo de Deus esperava o Messias. A pergunta de Isque foi respondida, finalmente, por João Batista, quando ele apontou para Jesus e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
Nos versículos que lemos vemos que o cordeiro foi escolhido e examinado (w. 1-6a) no décimo dia do mês e observado com cuidado durante quatro dias para garantir que estava dentro das especificações divinas.
Não há dúvidas de que Jesus preenchia todos os requisitos para ser o Cordeiro, pois Deus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3:1 7). Nos dias que antecederam a Páscoa, os inimigos do Senhor interrogaram-no repetidamente, e ele passou em todos os testes. Jesus não conheceu pecado algum (2 Co 5:21), não pecou (1 Pe 2:22) e nele não há pecado (1 Jo 3:5). Portanto, Ele é o Cordeiro perfeito de Deus.
O cordeiro foi morto (Êx 12:5b, 7, 12, 13, 21-24), e seu sangue foi colocado na verga e nas ombreiras da porta nas casas em que viviam famílias israelitas. Não foi a vida do cordeiro que salvou o povo, mas sim a morte do cordeiro. “Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (FHb 9:22; Lv 1 7:11).
Algumas pessoas dizem que admiram a vida e os ensinamentos de Jesus, mas não aceitam sua morte na cruz. Contudo, foi sua morte na cruz que pagou o preço pela nossa redenção (Mt 20:28; 25:28; Jo 3:14-17; 10:11; Ef 1:7; 1 Tm 2:5, 5; Hb 9:28; Ap 5:9). Jesus foi nosso substituto; ele morreu em nosso lugar e sofreu o julgamento por nosso pecado (Is 53:4-5; 1 Pe 2:24). O nascimento de Cristo trouxe Deus ao homem; a morte de Cristo trouxe o homem a Deus. Segundo William Plummer, a morte de Cristo foi o mais terrível golpe já desferido contra o império das trevas.
O cordeiro foi assado e comido (vv. 8.17,46), e essa refeição foi feita às pressas, sendo que cada membro da família estava pronto para sair quando fosse dado o sinal. A refeição consistiu de cordeiro assado, pães asmos e ervas amargas, e cada um destes alimentos simboliza uma verdade espiritual importante.
A fim de ser mantido inteiro, o cordeiro foi assado no fogo e não cozido em água. E pouco provável que os hebreus tivessem panelas grandes o suficiente para cozinhar um cordeiro inteiro, mas, mesmo que tivessem, era proibido fazê-lo. Os ossos teriam de ser quebrados e, durante o cozimento, a carne se separaria deles. Os ossos não deveriam ser quebrados e nem pedaços de carne deveriam ser carregados para fora da casa (v. 46; Jo 19:31-37; SI 34:20). Era importante que o cordeiro fosse mantido inteiro. Na cruz era comum os ossos do condenado serem quebrados, mas de modo semelhante nenhum dos ossos de Cristo foi quebrado.
Confiamos em Cristo para nos salvar de nossos pecados por meio de seu sacrifício, mas também devemos fazer de Cristo nosso alimento, a fim de que tenhamos forças para nossa jornada como peregrinos. Nós nos apropriamos do alimento espiritual de Jesus Cristo e crescemos em graça e em conhecimento.
O sangue do cordeiro
No entanto, a fim para o livramento do povo ser eficaz, era preciso que o sangue fosse colocado nos umbrais das portas, pois Deus prometeu: “Quando eu vir o sangue, passarei por vós” (Êx 12:13). Não basta apenas saber que Cristo foi sacrificado pelos pecados do mundo (Jo 3:15)
Os hebreus mergulharam ramos de uma planta maleável, chamada hissopo, na bacia com o sangue a aplicaram-no às vergas e ombreiras das portas (Êx 12:22). Posteriormente, o hissopo foi usado para aspergir o sangue que confirmou a aliança (Êx 24:1-8) e para purificar leprosos curados (Lv 14:4, 5, 49, 51, 52). Nossa fé pode ser frágil como o hissopo, contudo, não é a crença em nossa fé que nos salva, mas sim a fé no sangue do Salvador. O diabo não pode penetrar onde o sangue de Jesus é aplicado. Aleluia!
A respeito do sangue Talmage diz: “Nossa Libertação! Assinada em lágrimas, selada com sangue, escrita em pergaminho celestial, registrada nos arquivos eternos. A tinta negra da acusação foi totalmente coberta pela tinta vermelha da cruz: “O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado”.
Comeram o cordeiro com as ervas amargas e os pães asmos
Junto com o cordeiro, os hebreus comeram ervas amargas e pães asmos (Êx 12:14¬20, 39; 13:3-7).
Ao provar as ervas amargas, os hebreus deviam se lembrar de seus anos de escravidão amarga no Egito. No entanto, quando as circunstâncias tornaram-se difíceis ao longo da jornada no deserto, em várias ocasiões o povo se lembrou dos “bons e velhos tempos” e quis voltar para o Egito (Êx 16:3; 17:1-3; Nm 11:1-9; 14:1-5). Esqueceram-se da amargura da sua servidão naquela terrível fornalha de fogo.
O pão era asmo (sem fermento) por dois motivos: não havia tempo para deixar o pão crescer (Êx 12:39) e, para os judeus, o fermento era um símbolo de impureza.
Durante uma semana depois da Páscoa, deviam comer pães asmos e remover qualquer resquício de fermento da casa.
O fermento é um símbolo do pecado; que trabalha silenciosa e secretamente; espalha-se, polui e faz com que a massa cresça (“se ensoberbeça”; 1 Co 4:18 – 5:2). Tanto Jesus quanto Paulo compararam os falsos ensinamentos ao fermento (Mt 16:5-12; Mc 8:15; G1 5:1-9), mas ele também é comparado à hipocrisia (Lc 12:1) e à vida de pecado. Paulo admoesta as igrejas locais a se purificarem do pecado em seu meio e a se apresentarem diante do Senhor como um pão sem fermento (1 Co 5:6-8).
Comeram reunidos em família e em congregação (w. 25-28; 13:8-10).
A refeição foi preparada para a família (ver Êx 12:3, 4) e devia ser comida pelos membros da família. Deus se preocupa com a família como um todo e não apenas com os pais.
Se as queridas crianças israelitas não fossem protegidas pelo sangue e fortalecidas pelo alimento, não poderiam ser libertas do Egito, o que representaria o fim de Israel como nação.
Apesar de haver muitos lares judeus em Cósen, Deus via todos eles como uma congregação (vv. 3, 6). Hoje em dia, quando as congregações cristãs se reúnem para celebrar a Ceia do Senhor, Deus vê cada um desses grupos como uma parte do corpo que é um só, a Igreja. Foi por isso que Paulo escreveu sobre “todo o edifício […] toda família […] todo o corpo” (Ef 2:21; 3:1 5; 4:16). Israel era uma só nação por causa do sangue do cordeiro, e a Igreja é uma só comunidade por causa do sangue de Jesus Cristo.
A comemoração anual da Páscoa daria aos pais israelitas a oportunidade de ensinar a seus filhos sobre o significado de sua liberdade e sobre o que Deus havia feito por eles, de modo que cada nova geração compreendesse o que significava ser membro daquela nação escolhida por Deus. Nossos filhos também precisam entender o que significa fazer parte da família de Deus. Somos uma nação santa, eleita e escolhida por Deus.
3. Conclusão
Preciso terminar esta reflexão lembrando de algo importante.
Normalmente, chamamos esse acontecimento de “páscoa dos judeus”, mas a Bíblia a chama de “Páscoa do (ao) SENHOR” (Êx 12:11, 27; Lv 23:5; Nm 28:1 6).
A observação dessa data era mais do que a comemoração do “Dia da Independência”, pois a festa era celebrada em nome “do Senhor” (Êx 12:48; Nm 9:10, 14). “É o sacrifício da Páscoa ao Senhor” (Êx 12:27).
O enfoque todo é sobre o Senhor, pois o que aconteceu de especial naquela noite foi por causa dele. Em Êxodo 12, “o Senhor” é mencionado pelo menos dezenove vezes, pois era ele quem estava no controle de tudo.
A páscoa é do Senhor, porque Deus revelou seu poder (w. 29,30).
De pois que os hebreus realizaram sua festa de Páscoa “de noite”, esperaram pelo sinal de Deus para partir.
À meia noite, o Senhor feriu os primogênitos, a morte visitou todos os lares egípcios e fez-se um grande clamor por todo o Egito (Êx 11:6; 12:30). A morte não respeita ninguém e, naquela noite, afligiu tanto a família do mais desprezível prisioneiro egípcio como a do próprio Faraó. No entanto, não ocorreu uma única morte entre os hebreus na terra de Gósen.
A lição apresentada aqui é óbvia: a menos que esteja protegido pelo sangue de Cristo, quando a morte vier, você se verá completamente despre
parado, e ninguém sabe quando a morte virá.
A páscoa é uma festa do Senhor, porque Deus cumpriu suas promessas (w. 31-36).
Deus disse a Moisés o que aconteceria, e Moisés anunciou esses fatos ao Faraó (Êx 11:1-8), porém o Faraó não acreditou, No entanto, a Palavra de Deus não falhou.
Conforme ele havia dito a Moisés, os primogênitos do Egito morreram, houve um grande clamor naquela terra, o Faraó mandou os hebreus partirem e o povo egípcio deu-lhes livremente de sua riqueza. Naquela noite, cumpriram-se promessas que haviam sido feitas a Abraão séculos antes (Gn 15:13, 14), “Nem uma só palavra falhou de todas as suas boas promessas, feitas por intermédio de Moisés, seu servo” (1 Rs 8:56).
A Páscoa é um festa do Senhor, porque Deus livrou seu povo (w. 37-42, 51).
Os israelitas marcharam destemidamente para fora do Egito, às vistas dos egípcios que estavam ocupados enterrando seus mortos (Nm 33:3, 4).
Se havia cerca de seiscentos mil homens hebreus no êxodo, então o número total do povo era de, aproximadamente, dois milhões de pessoas, Como um exército com suas divisões (Êx 12:17, 51), marcharam rapidamente e de modo ordenado, levando consigo seus rebanhos. Nenhum hebreu era fraco demais para marchar, e os egípcios ficaram felizes ao vê-los saindo de suas terras (SI 105:37, 38).
As promessas de Deus nunca falham, e seu tempo nunca é errado (Êx 12:40-41). O êxodo ocorreu quatrocentos e oitenta anos antes do quarto ano de reinado de Salomão (1 Rs 6:1), que se deu em 966 a.C.
O êxodo de Israel do Egito é mencionado em várias partes das Escrituras como a maior demonstração do poder de Jeová na história de Israel.
William Gouge dizia: “O poder de Deus é a melhor guarda, a escolta mais segura e o castelo mais inabalável que qualquer pessoa pode ter”.
Que Deus possa nos abençoar nesta ocasião e que a presença de Cristo, que é a nossa páscoa, se renove a cada dia dentro de nossos corações. Amem.
Pr. Josias Moura de Menezes