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ToggleExpondo o livro de levítico – capítulos 1-7
1)Nome
Levítico significa “pertencente aos levitas”. Os levitas eram membros da família de Arão que não foram ordenados sacerdotes, mas eram responsáveis por ajudar os sacerdotes no culto do tabernáculo (Nm 3:1-13). Esse livro contém as instruções divinas para os sacerdotes em relação aos vários sacrifícios, às festas e às leis de separação (entre limpo e imundo).
2)Tema
Gênesis apresenta o pecado e a condenação do homem, enquanto Êxodo é o livro da redenção.
Levítico trata de separação e de comunhão. Em Êxodo, a nação foi tirada do Egito e levada ao Sinai, mas, em Levítico, o Senhor fala do tabernáculo (Lv 1:1) e explica como o homem pecador pode caminhar em comunhão com Deus.
Nesse livro, na língua original, encontramos mais de 80 vezes as palavras “santo” ou “santidade”. A primeira seção do livro trata dos sacrifícios, pois não podemos nos aproximar de Deus sem o derramamento de sangue. Em Levítico, encontramos a palavra “sangue” 88 vezes.
A segunda metade do livro cobre as leis de pureza e explica como as pessoas devem levar uma vida separada para agradar ao Senhor. Deus livrou a nação da escravidão; agora, ele quer que ela ande em santidade e pureza para a glória dele.
Como fomos salvos por intermédio do sangue do Cordeiro e libertados da escravidão deste mundo, também devemos caminhar em comunhão com nosso Senhor (1 Jo 1:5-10). Precisamos do sangue de Cristo, o Sacrifício Perfeito, para purificar-nos do pecado, como também precisamos obedecer à Palavra e andar em pureza e em santidade neste mundo mau. Levítico mostra-nos tudo isso por meio de tipos e de símbolos.
3)Sacrifício
Levítico é um livro de sacrifício e sangue, temas repulsivos para a mente moderna. Hoje, as pessoas querem uma “religião sem sangue” e salvação sem sacrifício, mas isso é impossível.
Talvez Levítico 16 seja o capítulo-chave do livro, e o capítulo 17 deixa claro que é o derramamento de sangue que trata do problema do pecado (17:11). A palavra “expiação” significa “cobrir”; usa-se essa palavra no livro cerca de 45 vezes.
O sangue dos sacrifícios do Antigo Testamento não leva embora o pecado (Hb 10:1-18). Alcançou-se isso de uma vez por todas por meio do sacrifício de Cristo na cruz. O sangue dos sacrifícios do Antigo Testamento apenas cobria o pecado e apontava para o Salvador, cuja morte consumaria a obra redentora.
A oferta de sacrifícios, por si mesma, não salva o pecador. Tem de se crer na Palavra de Deus, pois é a fé que salva a alma. Davi sabia que apenas os sacrifícios não afastariam seus pecados (SI 51:16- 17); os profetas também deixaram isso claro (Is 1:11 -24). No entanto, quando o pecador tem um coração contrito e crê na Palavra de Deus, então o Senhor aceita seu sacrifício (veja Caim e Abel, Gn 4:1 -5).
Levítico apresenta muitas imagens de Cristo e sua obra redentora na cruz. Os cinco sacrifícios ilustram vários aspectos da pessoa e da obra dele, e o Dia da Expiação é um belo retrato de sua morte na cruz. Não tente tirar todos os detalhes de cada exemplo. Algumas instruções referentes aos sacrifícios, por exemplo, têm propósitos práticos por trás delas e não precisam necessariamente trazer lições espirituais especiais.
4)Lições práticas
Hoje não praticamos os sacrifícios levíticos, mas esse livro ainda traz algumas lições práticas valiosas, e faríamos bem em meditar a respeito delas.
A expiação do pecado requer o derramamento de sangue. O pecado não é uma coisa leve e sem importância; ele é odioso aos olhos de Deus. O pecado custa muito — todo sacrifício é caro para o adorador judeu.
Nesse livro, Deus faz distinção entre o limpo e o imundo. Ele também adverte as pessoas: “Sereis santos, porque eu sou santo” (11:44).
Ele proporciona um caminho de perdão e de restauração! É claro, esse “Caminho” é Cristo, o “novo e vivo caminho” (Hb 10:19ss). Os sacrifícios do Antigo Testamento apontam para o Salvador por vir. Levítico costuma usar a frase “eles serão perdoados”.
5) Levítico 1 -7
Hebreus 10:1 -14 deixa claro que em Cristo temos o cumprimento total de cada sacrifício do Antigo Testamento. Esses cinco sacrifícios especiais ilustram os vários aspectos da pessoa e da obra do Salvador.
Oferta queimada — a consagração completa de Cristo (capitulo 1)
Para esse sacrifício, precisava-se de um macho perfeito de 1 ano, o melhor do rebanho. Levava-se o sacrifício para a porta do tabernáculo, pois havia apenas um local de sacrifício aceitável para Deus (veja Lv 17).
O oferente punha as mãos sobre a cabeça do holocausto. Assim, identificava-se com o animal e transferia seu pecado e culpa para o animal inocente.
Matava-se o animal, e o sacerdote aspergia o sangue em volta do altar de bronze, que ficava na entrada do tabernáculo.
Depois, tirava-se a pele do animal (dava-se a pele para o sacerdote), cortavam-no em peças e queimavam-no completamente no altar.
A frase-chave é: “Tudo isso sobre o altar” (v. 9): o animal inteiro que era queimado no fogo dava- se para Deus. Esse é um retrato da consagração total que nosso Senhor fez de si mesmo a Deus. “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10:9).
Veja também João 10:17 e Romanos 5:19. Levítico 6:8-13 salienta que a primeira coisa que o sacerdote tinha de fazer todas as manhãs era uma oferta queimada. Assim, oferecia-se todos os outros sacrifícios durante o dia sobre o fundamento da oferta queimada.
Romanos 12:1-2 instrui os cristãos a se darem como sacrifício vivo — como oferta queimada viva — totalmente consagrados a Deus. Da mesma forma que os sacerdotes deviam manter o fogo ardendo continuamente sobre o altar (6:12- 13), nós devemos nos consagrar continuamente ao Senhor para a glória dele.
Oferta de manjares — a perfeição de Cristo (capitulo 2)
O uso da palavra “manjares” implica que não há sangue envolvido nessa oferta. Podia ser farinha fina, manjares ou até espigas de milho secas.
A farinha fina retrata o caráter e a vida perfeitos de Cristo — não há nada imperfeito ou maculado nele.
O azeite simboliza o Espírito de Deus. E note que há dois usos para o azeite: (1) misturar (v.4), o que nos lembra que Deus nasceu do Espírito; e (2) despejar (v. 6), o que simboliza a unção de Cristo, pelo Espírito, para o ministério. O azeite nos faz lembrar da parábola das 10 virgens. Cinco foram prudentes, ao colocarem azeite em suas lâmpadas.
O incenso limpo acrescenta um aroma agradável à oferta, o que retrata a beleza e o aroma da vida perfeita de Cristo aqui na terra.
A oferta tem de ir ao fogo, assim como Cristo sofreu o fogo do Calvário.
A oferta sempre deve ter sal (v. 13), o que simboliza a pureza e a ausência de queda, pois não há perversão de qualquer espécie em Cristo.
Entretanto, a oferta não podia ter fermento, pois este simboliza o pecado (1 Co 5:6-8; Mt 16:6; Mc 8:15), pois não havia pecado em Cristo.
A oferta também não devia conter mel, que é a coisa mais doce que existe na natureza. Não há nada da “doçura humana natural” em Cristo: ele era amor divino em carne.
Como é maravilhosa a perfeição de Cristo! Que o Espírito de Deus possa operar em nós para que nos tornemos mais parecidos com ele — equilibrados, até perfumados, limpos.
Oferta pacífica — Cristo, nossa paz (capitulo 3)
Esse procedimento é quase o mesmo da oferta queimada, exceto que o oferente recebia de volta algumas partes do animal e banqueteava-se com elas.
Primeiro, davam o animal para Deus (vv. 3-5), mas o oferente devia comer o resto de acordo com as regras estabelecidas em 7:11-21.
O banquete devia ser alegre, mostrando que havia paz entre o oferente e o Senhor, que a barreira do pecado fora removida. Para a verdade do Novo Testamento, veja Efésios 2:14,1 7 e Colossenses 1:20.
Em Levítico 7:28-34, observe que os sacerdotes recebiam o peito e a coxa direita, lembrando-nos de que o povo de Deus tem de se alimentar de Cristo a fim de se fortalecer.
Levítico 17:1-9 diz que toda vez que um israelita mata um animal deve tratar o ato como oferta pacífica. Não seria maravilhoso se víssemos cada refeição como uma oferta pacífica a Deus e fizéssemos de nosso tempo à mesa ocasião de comunhão com ele e uns com os outros?
Não pode haver paz longe de Cristo. É necessário o sangue da cruz para liquidar o problema do pecado de uma vez por todas.
Oferta pela culpa — Cristo se fez pecado por nós (capitulo 4)
Não há oferta pelo pecado cometido “atrevidamente” (Nm 1 5:30-31), mas há prescrição para pecados de ignorância.
Observe que se deve aspergir o sangue diante do véu (v. 6) e pô-lo também nos chifres do altar de incenso (v. 7), o que mostra a seriedade do pecado.
Os versículos 3-12 apresentam instruções para os pecados dos sacerdotes; os versículos 13-21 dão as instruções para os pecados de toda a congregação — observe que se requer o mesmo sacrifício para os dois casos! Os pecados do sacerdote (o ungido de Deus) igualam-se aos pecados de toda a nação! Nos versículos 22-26, temos as regulamentações para os governantes, e nos versículos 27-35, para as pessoas comuns. Portanto, a oferta dependia da posição e da responsabilidade da pessoa que quebrou a Lei de Deus.
Veja que a oferta não é queimada no altar de bronze, mas levada para fora do acampamento e queimada em um local limpo. Isso lembra-nos Hebreus 13:11-13 e o fato de que Cristo foi crucificado “fora do arraial”, rejeitado pela nação que veio salvar. No Novo Testamento, a passagem de 2 Coríntios 5:21, que diz que Cristo se fez pecado por nós, oferece o paralelo para esse pecado. Veja também 1 Pedro 2:24.
É maravilhoso ver que mesmo o mais pobre ofensor pode fornecer uma oferta pelo pecado, pois em 5:7 vemos que Deus também aceita rolas ou pombas. Maria e José ofereceram esse holocausto humilde (Lc 2:24), mostrando a pobreza da família de nosso Senhor.
Oferta pela culpa — Cristo pagou a dívida do pecado (capítulos 5:1—6:7)
As ofertas pelos pecados e pela culpa são muito próximas. Na verdade, elas retratam dois aspectos da morte de Cristo em favor do pecador perdido.
A diferença é que a a oferta pelo pecado lida com o pecado como parte da natureza humana, com o fato de que todas as pessoas são pecadoras, enquanto a pela culpa enfatiza os atos pecaminosos de forma individual.
Observe que, na oferta pela culpa, o ofensor tem de restituir pelo que fez (5:16; 6:4-5). Portanto, essa oferta lembra- nos de que o pecado é caro e que, quando há arrependimento sincero, há restituição e reembolso.
Levítico 5:14-19 enfatiza que transgredimos contra Deus, enquanto 6:1-7 destaca a culpa em relação a outra pessoa. Nos dois casos, vê-se o pecado como uma dívida a ser paga, e, claro, Cristo pagou total e completamente essa dívida.
É interessante notar a ordem em que a Bíblia registra esses sacrifícios. Deus inicia com a oferta queimada, a completa consagração de seu Filho à obra redentora, pois o plano de salvação inicia-se na eternidade passada. Contudo, do ponto de vista do homem, a ordem é inversa. Primeiro, vemos que cometemos vários tipos de pecados e, depois, percebemos que estamos em dívida com Deus e com o homem. Isso é a oferta pela culpa. Contudo, à medida que o trabalho de condenação continua, percebemos que somos pecadores — nossa verdadeira natureza é pecaminosa! Isso é oferta pelo pecado. Depois, o Espírito revela-nos Cristo, aquele que fez paz por intermédio do sangue de sua cruz, e descobrimos a oferta pacífica. Quando crescemos em graça, entendemos a perfeição de nosso Senhor e que ele “nos concedeu gratuitamente no Amado“; essa é a of
erta de manjares. O resultado disso tudo deve ser nossa consagração total ao Senhor — a oferta queimada.
Não precisamos de quaisquer sacrifícios hoje. “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb 10:14). Aleluia! Que Salvador!