O reino de Deus na esfera da Justiça
Romanos 14.17
Como podemos entender o conceito bíblico de Reino de Deus? A palavra reino no original grego é basiléia e também denota domínio, soberania e poder real. Associado a Deus, esse reino assume dois significados, o primeiro está diretamente relacionado ao governo de Deus no coração do homem, que ocorre logo após a sua regeneração (veja João 3.3; Colossenses 1.13). Em razão disso, quem é dirigido pelo Espírito Santo tem o Reino de Deus sobre si. O outro aspecto do Reino de Deus está ligado ao governo milenar de Cristo sobre toda a terra por ocasião da Suaparousia (segunda vinda) e está reservado para o futuro (ICoríntios 15.23-25).
Quando o Reino de Deus chega ao coração do homem, isso produz uma mudança radical, a ponto de afetar definitivamente a sua forma de pensar, falar, e de viver de maneira geral; quem governa sua vida agora é o próprio Deus, por esse motivo as suas ações e procedimentos no seu relacionamento com outras pessoas devem ser pautados pela Palavra, sendo que uma de suas ações é determinada pela “justiça (…) no Espírito Santo”.
PROPOSIÇÃO: O comportamento do cristão que é governado por Deus é sempre norteado pela retidão.
I- “PORQUE O REINO DE DEUS É (…) JUSTIÇA (…) NO ESPÍRITO SANTO”.
– Jesus Cristo declarou para seus ansiosos discípulos que se alguém verdadeiramente buscasse em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, essa pessoa não teria razão para temer crises ou a não satisfação de necessidades imediatas (veja Mateus 6.33). Mas, afinal, por que o Mestre também incluiu a justiça nessa busca? Exatamente porque precisamos reconhecer o direito de Deus sobre a nossa vida, e fazemos isso obedecendo à sua Palavra (Mateus 21.32).
– Em um primeiro momento, a Escritura ensina que a “justiça de Deus” nos é atribuída pela fé em Cristo, mediante o Seu sacrifício redentor (veja Romanos 3.21-25), e isso significa dizer que diante de Deus o cristão regenerado não tem mais culpa, está justificado e livre de qualquer condenação.
– De outro lado, Paulo revela – no texto em estudo – outro tipo de “justiça” que é aplicada ou conferida ao crente mediante a ação do Espírito de Deus. Neste caso, está em foco algo que é próprio do caráter de Deus, e é “enxertado” no homem salvo para que este manifeste no diaadia a virtude da justiça.
–Além de aprendermos o que é certo fazer, nós também precisamos de graça e de poder que nos capacitem a praticar a justiça, e essa força nos é concedida pelo Espírito Santo em nosso comem interior (veja ICoríntios 4.20).
II– O CONCEITO DE JUSTIÇA NO ANTIGO TESTAMENTO.
– A palavra mais comum no AT para justiça é tsedeq, e traz a idéia de lealdade ou de conformidade a uma norma estabelecida (por exemplo, pela Lei; veja Deuteronômio 6.25), ou a um acordo como o de Jacó com Labão (Gênesis 30.33). De forma geral, tsedeq está voltada para as questões de relacionamento seja no aspecto moral, judicial ou do governo de Deus sobre os seus servos.
– Davi ensina no salmo 15 que o cidadão dos céus é aquele “que vive com integridade, e pratica a justiça…” (v. 2). Neste texto também encontramos um belo exemplo de um homem justo, ou seja, íntegro, que obedece à Lei de Deus e que respeita o direito do seu próximo.
– Outro sentido de justiça (forense) na velha aliança era o da retribuição, ou seja, “olho por olho, dente por dente” (Dt. 19.21). Quem matava, morria, não havia perdão. Nesta questão, todavia, Jesus Cristo enfatiza que não estamos completamente isentos para julgar o próximo, por isso o nosso julgamento sempre deve ser pautado pela compaixão e imparcialidade (veja João 8.7).
III- CONCEITO DE JUSTIÇA NO NOVO TESTAMENTO.
– Na visão de Paulo, toda pessoa que se converte torna-se automaticamente um servo da justiça (veja Romanos 6.18). Essa expressão equivale a dizer que, após o nosso encontro com Deus, os nossos atos devem corresponder à nossa profissão de fé, ou seja, quem se declara cristão precisa reproduzir atos que condizem com a sua fé. Em outras palavras, é necessário ser: reto, justo, honesto, honrado, fiel, digno de confiança nos empreendimentos e negócios com o próximo.
– Há três termos gregos que são igualmente traduzidos para o português como justiça, mas com certa variação de significados. O primeiro é dike e está mais relacionado com penalidade, punição, julgamento ou execução de uma sentença (Dicionário Vine), observe um exemplo: “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts 1.9). Outro termo semelhante a dike é krisis juízo, julgamento, condenação (veja Mateus 10.15).
– O terceiro e mais comum é dikaiosune e tem a ver com justiça no sentido de retidão, eqüidade ou de fazer o que é correto, direito: “Se sabeis o que é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (1 Jo 2.29). Dikaiosune span> também pode significar misericórdia ou caridade (veja Mateus 6.1).
– No texto em estudo, notamos que Paulo emprega o terceiro termo para justiça. Em um primeiro momento, dikaiosune expressa um dos atributos do caráter de Deus (pois Ele julga com absoluta retidão e imparcialidade; veja Romanos 3.5), mas pela obra santificadora do Espírito Santo, essa virtude de caráter também é conferida ao crente. Dessa forma, proceder em retidão é uma das marcas de Cristo em nós.
Paulo deixa claro para os crentes de Roma que o Reino de Deus é supramaterial (veja Mateus 6.33), está acima da matéria e consiste basicamente do controle divino da nossa vontade, emoção e intelecto. Uma das melhores maneiras de evangelizar ou de comunicar o conhecimento de Deus aos perdidos ocorre quando vivemos o Evangelho, ou quando procedemos corretamente nos relacionamentos, negócios e demais atos com o nosso próximo (Romanos 6.19).
Está escrito que os injustos não herdarão o Reino de Deus (veja 1 Coríntios 6.9) e o homem se toma justo quando aceita a justiça de Deus que é Cristo (Romanos 5.1). É por esse motivo que Malaquias enfatiza a diferença entre o justo e o perverso no dia do Juízo de Deus (Malaquias 3.19). A justiça divina nos torna dignos do céu e o Espírito Santo nos capacita a uma vida pautada por ações justas ou moralmente corretas.