Mateus 5.8
INTRODUÇÃO
Esta bem-aventurança de Jesus Cristo é a sexta em uma lista de oito. O grupo de bem-aventuranças de Mateus 5 é, na verdade, a introdução do maravilhoso Sermão do Monte, em que o Senhor Jesus detalha a ética do Reino de Deus, ou o padrão de conduta que todo verdadeiro cristão deve manter no seu dia-a-dia.
Estaria o Mestre prometendo algo – “ver a Deus” – que nenhum mortal jamais poderia alcançar? De modo algum! A Bíblia nos garante que pela graça de Deus em Cristo, nem é impossível ter um coração limpo, como também ver Deus nas suas mais diversas maneiras de agir em favor de Seu povo. É, pois nosso desafio permanente, manter uma vida progressiva de consagração e busca sincera do Reino de Deus, para vermos a mão do Pai operar poderosamente a nosso favor.
Proposição: Regeneração e santificação são os meios divinos de purificar e manter limpo o coração do homem.
I – “BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO”.
– A expressão “bem-aventurados” (grego: makarios) é o mesmo que muito feliz, abençoado, afortunado. Neste caso, quem tem o coração limpo, em ordem, íntegro e livre dos grilhões do pecado – pois o que confessa o seu erro e o deixa alcança misericórdia (vejaProvérbios 28.13; João 8.34) – está de posse de uma das mais grandiosas promessas: “ver a Deus”.
– O coração é o centro da vida humana, na verdade ele representa o nosso caráter (veja Provérbios 4.19,23). No grego, a palavra kardiaaqui traduzida por “coração” não tem nada a ver com o órgão muscular dentro do peito que bombeia sangue para todo o nosso corpo, mas, trata-se do centro da vida espiritual, de onde emanam o sentimento, o raciocínio, a vontade, e, na verdade, é o nosso “homem interior” (Romanos 10.9; 2Coríntios 4.16).
– Jeremias declarou que o homem não regenerado possui um coração depravado, pois está entenebrecido, impregnado pelo pecado: “Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (17.9). Entretanto, a obra redentora de Cristo no Calvário é capaz de produzir um novo coração no homem, que a partir desse momento se torna maleável ou tratável (vejaEzequiel 11.19) e em condições de conhecer e amar a Deus (Jeremias 24.7; 32.39).
– Segundo o autor da epístola aos Hebreus, um coração limpo é aquele que em primeiro lugar é “sincero” e em um segundo momento está sempre “…purificado de má consciência” (10.22). Ser sincero (sem fingimento) e de boa consciência significa que somente entramos na presença de Deus em oração após nos livrarmos do pecado por meio da confissão e pedido de perdão com absoluta sinceridade (vejalJoão 1.9).
– Apalavra “limpos” no grego é katharós,que também é traduzida por imaculado, sem mancha, puro. Neste caso, katharóssugere uma completa isenção de impurezas, mas, sobretudo, moral,
ética. O pecado é a sujeira que somente se “desgruda” do nosso ser mediante o poder alvejante do sangue de Cristo (veja lJoão 1.7;Isaías 1.18). A limpeza espiritual que precisamos é produzida pelo Espírito Santo em um primeiro momento pela regeneração mediante a fé em Cristo e na continuação da vida cristã por uma progressiva e contínua santificação.
II – COMO MANTER O CORAÇÃO SEMPRE LIMPO?
– A regeneração é o primeiro passo para essa indispensável limpeza espiritual. Sobre isso Jesus Cristo respondeu a Pedro na experiência do lava-pés: “(…) Quem já se banhou (nasceu de novo) não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo” (Jo 13.10). Quem já é renascido, somente precisa “lavar os pés”, ou seja, na caminhada diária, vão aparecendo sujidades de todo tipo, e elas se “alojam” no coração se não forem devidamente extirpadas (veja Isaías 59.4,5) ou confessadas em atitude de verdadeiro arrependimento.
– De modo geral, os seguintes passos são fundamentais para quem deseja viver com seu coração sempre limpo ou em ordem diante do Pai: 1. Pedir a Deus em oração como fez Davi: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro em mim um espírito inabalável” (SI 51.10; grifos do autor); 2. Vigiar por manter as portas de entrada do ser (olhos e ouvidos) sempre “saudáveis” a fim de captar somente aquilo que edifica (veja Mateus 6.22,23), isso é o mesmo que guardar o coração (Provérbios 4.23); 3. Exercitar a autonegação, que inclusive é requisito obrigatório para quem deseja seguir a Cristo (Mateus 16.24); 4. Reservar tempo em meditação da Palavra de Deus, pois o nosso procedimento é sempre determinado pelo que entesouramos no coração (Lucas 2.19; Josué 1.8).
– De que forma é possível “ver a Deus?” Será isso privilégio de homens e mulheres santas? Com certeza! O escritor aos hebreus afirmou isso nos seguintes termos: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Neste caso, “ver o Senhor” é o mesmo que desfrutar sua companhia, ter comunhão com Ele, como Elias e Enoque tiveram. Está claro aqui que a santificação do crente é o caminho para “ver a Deus”.
– O sacrifício de Jesus Cristo em nosso lugar é o meio divino inicial, de nos tomar santos, guardados ou separados das contaminações deste mundo perdido (veja Elebreus 10.10; 1 João 5.18). É, pois dever de todo cristão manter-se sempre unido a Cristo, pela fé e, por meio da prática constante de Sua Palavra. Segundo Jesus Cristo, a Palavra – que é a Verdade – tem poder de nos santificar (veja João 16.7).
– Jesus afirmou que reproduzia tudo aquilo que “via o Pai fazer” (Jo 5.19). Nesse caso, “ver” (blepõ) tem ligação com uma espécie de percepção espiritual acurada para reconhecer um ato de Deus nas variadas situações ou ocasiões de Seu ministério. No cego de nascença, Jesus enxergou uma oportunidade: “…para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.3); e no caso do paralítico de Cafamaum, Ele viu Deus agindo em tudo (veja Marcos 2.1 -5); entretanto, os mestres da Lei o acusaram de blasfêmia, porque seus corações não eram puros (Marcos 2.6–12).
– O verbo ver empregado por Mateus em 5.8 é horaõ, no grego, que está conjugado no futuro (opsontai) e isto indica que somente podemos “ver” Deus operar, trabalhar, agir a nosso favor se mantivermos uma vida casta, piedosa e consagrada a Ele. Além disso, veremos a Deus na eternidade, quando ressuscitarmos em glória e na Sua semelhança (veja lJoão 3.2; Salmo 17.15).
– De uma forma bem simples, Jesus nos apresenta aqui a “receita do milagre”, ou seja, se unirmos a santidade de vida a uma busca sincera de Deus, obteremos uma resposta positiva de :odas as nossas petições.
Em Provérbios 17.20, o sábio afirma: “O perverso de coração jamais achará o bem (…)”. Está em vista aqui indivíduos que desprezam os valores cristãos por manterem um procedimento boêmio ou materialista. Na verdade, o que fazemos é sempre o resultado do que pensamos no coração (veja Provérbios 23.7). Abandonamos a perversidade, abrimos o nosso coração para Deus em humilde e sincera entrega, e isso nos dará a condição de “ver a Deus” ou “acharmos o bem”.