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Estudos bíblico em atos 15
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Introdução
O progresso do evangelho muitas vezes tem sido obstruído por pessoas com a mente fechada que se colocam à frente de portas abertas e que impedem outros de passar.
Em 1786, quando William Carey colocou a responsabilidade para com missões mundiais em pauta em uma reunião de obreiros em Northampton, Inglaterra, o eminente Dr. Ryland lhe disse:
– Rapaz, sente-se! Quando aprouver a Deus converter os pagãos, ele o fará sem a nossa ajuda! Mais de um servo do Senhor, cheio do Espírito de Deus, já teve de passar pelas portas da oportunidade sem o apoio da Igreja e dos líderes religiosos.
Paulo e seus companheiros enfrentaram o mesmo desafio na assembléia em Jerusalém cerca de vinte anos depois de Pentecostes. Defenderam bravamente a verdade do evangelho e a expansão missionária da Igreja.
Atos 15: O concílio em Jerusalém
1 Alguns homens foram da região da Judéia para a cidade de Antioquia e começaram a ensinar aos irmãos que eles não poderiam ser salvos se não fossem circuncidados, como manda a Lei de Moisés. 2 Paulo e Barnabé não concordaram e tiveram uma discussão muito forte com eles a respeito disso. Aí foi resolvido que Paulo e Barnabé e mais alguns irmãos fossem para Jerusalém, a fim de estudar esse assunto com os apóstolos e os presbíteros da igreja. 3 Então a igreja de Antioquia mandou que eles fossem. Eles passaram pelas regiões da Fenícia e da Samaria, contando como os não-judeus estavam se convertendo a Deus. E todos os irmãos ficaram muito alegres com essa notícia. 4 Quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros e lhes contaram tudo o que Deus havia feito por meio deles.
Tudo começou quando alguns mestres judeus legalistas chegaram a Antioquia e ensinaram que, a fim de ser salvos, os gentios deveriam receber a circuncisão e obedecer à Lei de Moisés.
Esses homens eram ligados à congregação de Jerusalém, mas não eram autorizados por ela (At 15:24). Identificados com os fariseus (At 15:5), esses “falsos irmãos” desejavam privar tanto cristãos judeus quanto gentios da liberdade em Cristo (Gl 2:110; 5:1 ss).
Não causa grande surpresa saber que havia pessoas na igreja de Jerusalém defendendo energicamente a Lei de Moisés sem conhecer a relação entre a Lei e a graça.
Eram judeus ensinados a respeitar e a obedecer à Lei de Moisés, e, afinal de contas, as epístolas aos Romanos, Gálatas e Hebreus ainda não haviam sido escritas!
Havia um grande grupo de sacerdotes na congregação de Jerusalém (At 6:7), bem como de pessoas que ainda seguiam algumas das práticas do Antigo Testamento (ver At 21:2026). Era um período de transição, e tempos assim são sempre difíceis.
O que esses legalistas faziam e por que eram tão perigosos? Tentavam misturar a Lei e a graça e colocar vinho novo em odres velhos e frágeis (Lc 5:36-39). Costuravam o véu rasgado do santuário (Lc 23:45) e colocavam obstáculos no caminho novo e vivo para Deus aberto por Jesus ao morrer na cruz (Hb 10:19-25).
Colocavam o jugo pesado do judaísmo sobre os ombros. Reconstruíam o muro de separação entre judeus e gentios que Jesus derrubara no C alvário (Ef 2:14-16). dos gentios (At 1 5:10; G l 5:1) e pediam que a igreja saísse da luz e fosse para as sombras (Cl 2:16, 17; H b 10:1). Diziam: “Antes de se tornar um cristão, o gentio precisa tornar-se judeu! Não basta simplesmente crer em Jesus Cristo. Também é preciso obedecer à Lei de Moisés!”.
Encontramos aqui várias questões importantes, sendo uma delas a obra de Cristo na cruz, conforme a declaração da mensagem do evangelho (1 Co 15:1-8; H b 10:118). Deus pronuncia um anátema solene sobre todo o que pregar qualquer outro evangelho que não seja o evangelho da graça de Deus em seu Filho, Jesus Cristo (Gl 1:1-9).
Quando qualquer líder religioso diz: “Você só pode ser salvo se fizer parte de nosso grupo!” ou “Você só pode ser salvo se participar de nossas cerimônias e obedecer às nossas regras!”, está acrescentando esses elementos ao evangelho e negando a obra consumada de Jesus Cristo. Paulo escreveu sua Epístola aos Gálatas para deixar claro que a salvação se dá inteiramente pela graça de Deus, pela fé em Cristo e mais nada!
5 Mas alguns membros do partido dos fariseus que também haviam crido se levantaram e disseram: —Os não-judeus têm de ser circuncidados e têm de obedecer à Lei de Moisés. 6 Então os apóstolos e os presbíteros se reuniram para estudar o assunto.
7 Depois de muita discussão, Pedro se levantou e disse: —Meus irmãos, vocês sabem que há muito tempo Deus me escolheu entre vocês para anunciar o evangelho aos não-judeus a fim de que eles pudessem ouvir e crer. 8 E Deus, que conhece o coração de todos, mostrou que aceita os não-judeus, pois deu o Espírito Santo também a eles, assim como tinha dado a nós. 9 “Deus não fez nenhuma diferença entre nós e eles; ele perdoou os pecados deles porque eles creram.” 10 Então por que é que vocês estão querendo pôr Deus à prova, colocando uma carga nas costas dos que agora estão crendo? E essa carga nem nós nem os nossos antepassados pudemos carregar. 11 Pelo contrário, por meio da graça do Senhor Jesus, nós, judeus, cremos e somos salvos do mesmo modo que os não-judeus.
12 Então todos os que estavam ali ficaram calados e escutaram Barnabé e Paulo contarem todos os milagres e maravilhas que Deus tinha feito por meio deles entre os não-judeus.
13 Quando eles terminaram de falar, Tiago disse: —Meus irmãos, escutem! 14 Simão acabou de explicar como Deus primeiro mostrou o seu cuidado pelos não-judeus, escolhendo do meio deles um povo que seria dele. 15 As palavras dos profetas estão bem de acordo com isso, pois as Escrituras Sagradas dizem: 16 “Depois disso eu voltarei—diz o Senhor—e construirei de novo o reino de Davi, que é como uma casa que caiu. Juntarei de novo os pedaços dela e tornarei a levantá-la. 17 Assim todas as outras pessoas, todos os outros povos que eu chamei para serem meus, vão procurar conhecer o Senhor. Assim diz o Senhor, 18 que anunciou essas coisas desde os tempos antigos. ”
Ao que parece, essa assembléia estratégica foi constituída de pelo menos quatro reuniões:
(1) uma recepção pública para Paulo e seus companheiros (At 1 5:4);
(2) uma reunião particular com Paulo e os principais líderes (Gl 2:2);
(3) outra reunião pública na qual os líderes judaizantes apresentaram sua argumentação (At 15:5, 6 e Gl 2:3-5); e
(4) um debate público descrito em Atos 15:6ss. Nesse debate, quatro líderes proeminentes apresentaram sua argumentação em favor de manter as portas da graça abertas para os gentios perdidos.
Pedro recapitulou o passado (vv. 6-11). Temos a impressão de que Pedro aguardou pacientemente enquanto o “grande debate” se desenrolava, esperando que o Espírito o orientasse. “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv 18:13).
Pedro lembrou a igreja de quatro ministérios importantes que Deus realizara aos gentios, ministérios estes nos quais havia desempenhado importante papel.
Em primeiro lugar, Deus escolheu Pedro para pregar o evangelho aos gentios (At 15:7). Jesus dera a Pedro as chaves do reino (Mt 16:19), e ele as havia usado para abrir as portas da fé a judeus (At 2), a samaritanos (At 8:14-17) e a gentios (At 10). Os apóstolos e irmãos da Judéia censuraram Pedro por visitar gentios e comer com eles, mas ele apresentou diante deles uma defesa satisfatória (At 11:1-18). Convém observar que Pedro deixou claro que Cornélio e sua casa foram salvos por ouvir a Palavra e crer, não por obedecer à Lei de Moisés.
Em segundo lugar, Deus concedeu o Espírito Santo aos gentios para dar testemunho de que haviam, verdadeiramente, nascido de novo (At 15:8). Somente Deus pode ver o coração humano; assim, se essas pessoas não tivessem sido salvas, Deus jamais teria lhes concedido o Espírito (Rm 8:9). Mas não receberam o Espírito por guardar a Lei, mas sim por crer na Palavra de Deus (At 10:43-46; ver Gl 3:2). A mensagem de Pedro foi: “todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (At 10:43) e não: “todo aquele que crê e guarda a Lei de Moisés”.
Em terceiro lugar, Deus eliminou uma diferença (At 15:9, 11). Durante séculos, Deus determinara uma distinção entre judeus e gentios, e cabia aos líderes religiosos judeus proteger e manter essa distinção (Lv 10:10; Ez 22:26; 44:23). Jesus ensinou que as leis alimentares judaicas não tinham qualquer relação com a santidade interior (Mc 7:1-23), e Pedro reaprendeu essa lição quanto recebeu a visão no terraço em Jope (At 10:1ss).
Desde a obra de Cristo no Calvário, Deus não faz distinção alguma entre judeus e gentios no que se refere ao pecado (Rm 3:9, 22) e à salvação (Rm 10:9-13). A purificação do coração dos pecadores dá-se exclusivamente pela fé em Cristo; a salvação não é concedida pela observância da Lei (At 15:9). Seria de se esperar que Pedro concluísse sua defesa dizendo: “Eles [os gentios] foram salvos como nós, os judeus”, mas disse justamente o contrário! “[Nós, os judeus] fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles [os gentios] o foram”.
O quarto ministério de Deus – e a declaração mais enfática de Pedro – foi a remoção do jugo da Lei (At 1 5:10). De fato, a Lei era um jugo que pesava sobre os judeus, mas esse jugo havia sido removido por Jesus Cristo (ver Mt 11:28-30; Gl 5:1 ss; Cl 2:1 4-17). Afinal, a Lei havia sido dada a Israel para protegê-lo dos males do mundo gentio e prepará-lo para trazer o Messias ao mundo (Gl 4:1-7). A Lei não tem poder de purificar o coração do pecador (Gl 2:21), de conceder o dom do Espírito Santo (Gl 3:2), nem de dar vida eterna (Gl 3:21). Aquilo que a Lei não era capaz de fazer, Deus realizou por meio do próprio Filho (Rm 8:1-4). Os que creram em Cristo receberam a justificação da Lei de Deus no coração e, por meio do Espírito, obedecem à vontade de Deus. Não são motivados pelo medo, mas pelo amor, pois “o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13:8-10).
Paulo e Barnabé falaram do presente (v. 12). O testemunho de Pedro causou grande impacto sobre a congregação, pois todos permaneceram calados até que tivesse terminado. Então, Paulo e Barnabé se levantaram e contaram a todos o que Deus havia feito entre os gentios por meio de seu testemunho. Lucas usou apenas uma frase para resumir esse relatório, uma vez que já o havia apresentado em detalhes em Atos 13 e 14. Paulo e Barnabé eram extremamente respeitados pela igreja (ver At 15:25, 26), de modo que seu testemunho tinha grande peso.
Sua ênfase foi sobre os milagres para os quais Deus lhes havia dado poder para realizar entre os gentios. Esses milagres eram prova de que Deus operava por meio deles (Mc 16:20; At 1 5:4) e de que eram os mensageiros escolhidos por Deus (Rm 1 5:18, 19; Hb 2:2-4). “Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (Gl 3:5). Haviam pregado a graça, não a lei, e Deus havia honrado essa mensagem.
Se recapitularmos o relatório da primeira viagem missionária (At 13 – 14), veremos que a ênfase é sobre a obra de Deus, não sobre a fé dos homens. Ver Atos 13:8, 12, 39, 41,48; 14:1, 22, 23, 27. Convém observar, também, a ênfase sobre a graça (At 13:43; 14:3, 26). Deus abriu aos gentios “a porta da fé”, não “a porta da Lei”. Prova disso é que a igreja de Antioquia, a congregação que enviou Paulo e Barnabé, foi fundada por pessoas que “crendo, se converteram ao Senhor” (At 11:21) e experimentaram a graça de Deus (At 11:23). Foram salvos da mesma forma como os pecadores o são nos dias de hoje, “pela graça […] mediante a fé” (Ef 2:8, 9).
Tanto Pedro quanto Paulo receberam de Deus visões bastante específicas, instruindo-os a testemunhar aos gentios (At 10:1ss; 22:21). Paulo, porém, foi separado por Deus como o apóstolo aos gentios (Rm 11:13; Gl 2:6-10; Ef 3:1-12). Se os pecadores gentios deviam obedecer à lei de Moisés a fim de ser salvos, por que Deus deu a Paulo o evangelho da graça e o enviou aos gentios? Deus poderia muito bem ter enviado Pedro!
Pedro recapitulou os ministérios de Deus aos gentios no passado, e Paulo e Barnabé relataram a obra de Deus entre os gentios no presente. Tiago foi o último a falar e se concentrou no futuro.
Tiago relacionou todas essas coisas ao futuro (w. 13-18). Tiago era irmão de Jesus (Mt 13:55; Gl 1:19) e escreveu a Epístola de Tiago. Ele e seus irmãos só creram em Cristo depois da ressurreição (Jo 7:5; 1 Co 1 5:7; At 1:14). Tiago apresentava forte inclinação para a Lei (há pelo menos dez referências à Lei em sua epístola) e, portanto, desfrutava maior aceitação entre o partido legalista da igreja de Jerusalém.
A idéia central do discurso de Tiago é concordância. Em primeiro lugar, afirmou concordar plenamente com Pedro de que Deus estava salvando os gentios pela graça. Os judaizantes devem ter se espantado quando Tiago chamou esses gentios salvos de “um povo para o seu nome [de Deus]”, pois, durante séculos, essa designação honrosa coube somente aos judeus (ver Dt 7:6; 14:2; 28:7 0).
Hoje, em sua graça, Deus está chamando um povo, uma Igreja de judeus e gentios. Na verdade, o termo grego para “igreja” (ekklesia) significa “uma assembléia chamada para fora”. Mas, se são chamados para fora, sua salvação é inteiramente pela graça, não pela observância da Lei!
Os judaizantes não entendiam como os gentios e os judeus poderiam se relacionar dentro da Igreja ou como a Igreja encaixava-se na promessa de Deus de estabelecer um reino para Israel. O Antigo Testamento declarava tanto a salvação dos gentios (Is 2:2; 11:10), quanto o estabelecimento futuro de um reino glorioso para Israel (Is 11 -12; 35; 60), mas não explicava a relação entre essas duas promessas. Os legalistas da Igreja zelavam tanto pela glória futura de Israel quanto pela glória passada de Moisés e da Lei. Parecia-lhes que aceitar os gentios como “iguais”, no que se referia às questões espirituais, era uma atitude que colocava em risco o futuro de Israel.
Hoje, é possível compreender melhor essa verdade, pois Paulo a explicou em Efésios 2 e 3 e Romanos 9 a 11. Os judeus e gentios salvos eram membros do mesmo corpo e “um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). A verdade acerca da Igreja, o corpo de Cristo, era um “mistério” (um “segredo santo”) oculto nas eras passadas, mas revelado à Igreja pelo Espírito. O plano de Deus para a Igreja com relação a esse mistério não cancela seu grande plano para Israel com relação às profecias. Paulo deixa claro em Romanos 9 a 11 que há um futuro para Israel e que Deus cumprirá as “promessas do reino” que fez a seu povo.
Tiago afirmou que os profetas também concordavam com essa conclusão, e, para provar, citou Amos 9:11, 12. É importante observar que não disse que as declarações de Pedro, Paulo e Barnabé eram um cumprimento dessa profecia. Disse apenas que a$ palavras de Amos concordavam com o testemunho deles. Em uma leitura atenta de Amos 9:8-15, vemos que o profeta revela acontecimentos do fim dos tempos, quando Deus reunirá seu povo, Israel, o levará para sua terra e o abençoará abundantemente.
Deus revelou essas verdades a seu povo de maneira gradual, mas seu plano havia sido determinado desde o princípio. Nem a cruz nem a Igreja foram um “plano de emergência” de Deus (At 2:23; 4:27, 28; Ef 1:4). Os judaizantes acreditavam que Israel deveria ser “levantado” em seu reino glorioso antes de os gentios poderem receber a salvação, mas Deus revelou que sería por meio da “queda” de Israel que os gentios encontrariam a salvação (Rm 11:11-16). Na ocasião da assembléia em Jerusalém, a casa e o trono de Davi se encontravam, de fato, caídos; mas, um dia, seriam restaurados, e o reino seria estabelecido.
19 E Tiago continuou: —A minha opinião é esta: eu acho que não devemos atrapalhar os não-judeus que estão se convertendo a Deus. 20 Penso que devemos escrever a eles uma carta, dizendo que não comam a carne de animais que foram oferecidos em sacrifício aos ídolos, que não pratiquem imoralidade sexual, que não comam a carne de nenhum animal que tenha sido estrangulado e que não comam sangue. 21 Pois, desde os tempos antigos, a Lei de Moisés tem sido lida todos os sábados nas sinagogas, e as suas palavras são anunciadas em todas as cidades.
A carta do concílio aos crentes gentios
22 Então os apóstolos e os presbíteros, com o apoio de toda a igreja, resolveram escolher entre eles alguns homens e mandá-los para Antioquia com Paulo e Barnabé. Os escolhidos foram Judas, chamado Barsabás, e Silas. Esses dois homens eram muito respeitados pelos membros da igreja. 23 E mandaram por eles a seguinte carta: “Nós, os apóstolos e os presbíteros, irmãos de vocês, mandamos saudações aos nossos irmãos não-judeus que vivem em Antioquia e na província da Síria e na região da Cilícia. 24 “Soubemos que alguns do nosso grupo foram até aí e disseram coisas que criaram problemas para vocês. Porém não foi com a nossa autorização que eles fizeram isso. 25 Portanto, nós todos resolvemos, sem nenhum voto contra, escolher alguns homens e mandá-los a vocês. Eles vão com os nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo, 26 que têm arriscado a sua vida a serviço do nosso Senhor Jesus Cristo. 27 Estamos enviando, então, Judas e Silas para falarem pessoalmente com vocês sobre estas coisas que estamos escrevendo. 28 Porque o Espírito Santo e nós mesmos resolvemos não pôr nenhuma carga sobre vocês, a não ser estas proibições que são, de fato, necessárias: 29 “não comam a carne de nenhum animal que tenha sido oferecido em sacrifício aos ídolos; não comam o sangue nem a carne de nenhum animal que tenha sido estrangulado; e não pratiquem imoralidade sexual. Vocês agirão muito bem se não fizerem essas coisas. Saúde a todos! ””
30 Então mandaram que os quatro partissem, e eles foram para Antioquia. Lá reuniram os cristãos e entregaram a carta. 31 Quando estes a leram, ficaram muito alegres com as palavras de ânimo que havia nela. 32 Judas e Silas, que eram profetas, falaram muito com os irmãos, dando-lhes assim ânimo e força. 33 Eles passaram algum tempo ali, e depois os irmãos, fazendo votos de boa viagem, os mandaram de volta para aqueles que os tinham enviado. 34 Porém Silas achou melhor ficar ali. 35 Mas Paulo e Barnabé ficaram algum tempo em Antioquia. Eles e muitos outros cristãos ensinavam e anunciavam a palavra do Senhor.
Dirigidos pelo Espírito Santo (At 15:28), os líderes e a igreja toda (At 15:22) tomaram duas decisões: uma de caráter doutrinário acerca da salvação e outra de caráter prático acerca da vida cristã.
A decisão doutrinária já foi examinada anteriormente. A igreja concluiu que judeus e gentios eram todos pecadores diante de Deus e que só poderíam ser salvos pela fé em Cristo Jesus. Há somente uma necessidade e somente um evangelho para suprir essa necessidade (Gl 1:6-12). Deus tem somente um plano: chama um povo para seu nome. Israel foi colocado de lado, mas não foi rejeitado (Rm 11:1 ss); quando o plano de Deus para a Igreja se completar, começará a cumprir as promessas do reino aos judeus.
Tiago aconselhou a igreja a escrever aos cristãos gentios e a compartilhar as decisões da assembléia. Essa carta pedia obediência a duas ordens e uma disposição de concordar com duas concessões. As duas ordens eram que os cristãos se afastassem de toda e qualquer idolatria e imoralidade, pecados predominantes no meio dos gentios {ver 1 Co 8 – 10). As duas concessões eram que se abstivessem prontamente de comer sangue e carne de animais abatidos por estrangulação. As duas ordens não criam qualquer problema em particular, pois a idolatria e a imoralidade sempre foram erradas aos olhos de Deus, tanto para judeus quanto para gentios. Mas e quanto às duas concessões com respeito aos alimentos?
É importante lembrar que a Igreja primitiva costumava fazer várias refeições comunitárias e praticar a hospitalidade. A maioria das igrejas se reunia em casas, e algumas congregações realizavam “refeições de comunhão” com a Ceia do Senhor (1 Co 11:1 7-34). Essas refeições provavelmente não eram muito diferentes dos almoços e jantares organizados na igreja, nos quais cada um leva um prato. Se os cristãos gentios comessem alimentos que os judeus consideravam “impuros”, isso causaria divisão na igreja. Paulo trata desse problema claramente em Romanos 14 e 15.
A proibição de comer sangue foi determinada por Deus antes do tempo da Lei (Gn 9:4) e foi repetida por Moisés (Lv 1 7:11-14; Dt 12:23). Se um animal era morto por estrangulação, parte do sangue permanecia no corpo e tornava a carne inapropriada para o consumo pelos judeus. Daí a admoesta-ção de não usar esse tipo de abate. A carne kosher vem de animais puros devidamente abatidos, de modo que o sangue seja totalmente escoado do corpo.
É muito bonito ver como essa carta expressava a harmonia amorosa de pessoas
que haviam discutido entre si e defendido pontos de vista opostos. Os judeus legalistas abriram mão da idéia de que os gentios deveríam ser circuncidados a fim de ser salvos, e os gentios aceitaram prontamente a mudança em seus hábitos alimentares. Foi um acordo conciliatório feito em amor, que não afetou de maneira alguma a verdade do evangelho. Como toda pessoa casada e todo pai ou mãe sabem, há certas ocasiões em que é errado fazer concessões, mas também há momentos em que é a coisa mais certa a fazer. Samuel Johnson fez uma colocação sábia quando disse: “A vida não subsiste em sociedade, mas nas concessões mútuas”. É difícil amar e viver com quem está sempre certo, que insiste que as coisas sejam feitas a sua maneira.
Quais são os resultados práticos dessa decisão? Em primeiro lugar, o fortalecimento da união da igreja, evitando que se dividisse em dois grupos extremos: “Lei” versus “graça”. É importante observar que não se trata de concessões doutrinárias, pois estas são sempre erradas (Jd 3). Antes se refere ao processo de troca mútua em questões práticas da vida, de modo que as pessoas vivam e trabalhem juntas em amor e em harmonia.
Em segundo lugar, essa decisão possibilitou que a igreja apresentasse um testemunho unificado aos judeus incrédulos (At 15:21). Grande parte da igreja ainda se identificava com a sinagoga judaica; é bem provável que, em algumas cidades, a congregação inteira de algumas sinagogas – judeus, gentios pro-sélitos e gentios “tementes a Deus” – cria em Jesus Cristo. Se os cristãos gentios abusassem de sua liberdade em Cristo e comessem carne contendo sangue, essa atitude ofendería tanto a judeus salvos como a amigos não salvos que desejavam ganhar para Cristo. Tratava-se, simplesmente, de não ser uma pedra de tropeço para os fracos ou perdidos (Rm 14:13-21).
Em terceiro lugar, essa decisão trouxe bênçãos quando a carta foi compartilhada com as várias igrejas e congregações. Paulo e Barnabé, acompanhados de Judas e Silas, levaram as boas-novas a Antioquia, e a igreja
regozijou-se e foi encorajada ao saber que não precisaria carregar o jugo pesado da Lei (At 15:30, 31). Em sua segunda viagem missionária, Paulo compartilhou essa carta com as igrejas que fundara na primeira viagem. O resultado foi um fortalecimento da fé dessas igrejas e um aumento no número de fiéis (At 16:5).
Temos muito a aprender com essa experiência difícil da Igreja primitiva. Para começar, os problemas e as diferenças são oportunidades de crescimento, mas também podem dar lugar a dissensão e divisão. As igrejas precisam trabalhar juntas e ter tempo de ouvir, amar e aprender. Quantos conflitos e rompimentos dolorosos não poderíam ter sido evitados se alguns do povo de Deus tivessem dado ao Espírito tempo para falar e operar.
A maioria das divisões é causada por “seguidores” e “líderes”. Um líder poderoso forma um grupo de seguidores, recusa-se a ceder até nas menores questões e logo provoca uma divisão. Grande parte dos problemas da igreja não decorre de disparidades doutrinárias, mas de diferentes pontos de vista acerca de questões práticas. De que cor devemos pintar a cozinha da igreja? Podemos mudar a seqüência da liturgia? Soube de uma igreja que se dividiu porque não foi possível chegar a um acordo quanto ao lado do púlpito em que deveria colocar o órgão e o piano!
Os cristãos precisam aprender a arte de fazer concessões em amor. Precisam organizar suas prioridades a fim de saber quando lutar por algo que é verdadeiramente importante na igreja. É uma decisão pecaminosa seguir um membro influente da igreja que luta para fazer sua opinião prevalecer em alguma questão secundária. Toda congregação precisa de uma dose freqüente do amor descrito em 1 Coríntios 13, a fim de evitar dissensões e divisões.
Ao tratar de nossas diferenças, devemos perguntar: “De que maneira nossa decisão afetará o testemunho unido da igreja ao mundo perdido?” Jesus orou pedindo que seu povo fosse unido para que o mundo pudesse crer nele (Jo 1 7:20, 21). União não é sinônimo de uniformidade, pois a harmonia baseia-se no amor, não na Lei. As igrejas precisam de diversidade em meio à união (Ef 4:1-17), pois essa é a única maneira de o corpo amadurecer e realizar seu trabalho no mundo.
Deus abriu uma porta maravilhosa de oportunidade para levarmos o evangelho da graça a um mundo condenado. Mas, mesmo na Igreja de hoje, ainda existem forças que desejam fechar essa porta. Há pessoas que pregam “outro evangelho” que não é o evangelho de Jesus Cristo. Devemos ajudar a manter essa porta aberta e alcançar o maior número possível de almas.
Desacordo entre Paulo e Barnabé
36 Algum tempo depois, Paulo disse a Barnabé: —Vamos voltar e visitar os irmãos em todas as cidades onde já anunciamos a palavra do Senhor. Vamos ver se eles estão bem.
37 Barnabé queria levar João Marcos. 38 Porém Paulo não queria, pois Marcos não tinha ficado com eles até o fim da primeira viagem missionária, mas os havia deixado na província da Panfília. 39 Por isso eles tiveram uma discussão tão forte, que se separaram. Barnabé levou João Marcos consigo e embarcou para a ilha de Chipre, 40 enquanto que Paulo escolheu Silas e seguiu viagem, depois que os irmãos o entregaram aos cuidados do Senhor. 41 E Paulo atravessou a província da Síria e a região da Cilícia, dando força às igrejas.
Para o apóstolo Paulo, a igreja de Antioquia não era um estacionamento, mas sim uma plataforma de lançamento. Não podia acomodar-se a um “ministério confortável”, enquanto havia portas abertas para pregar o evangelho.
Vários elementos dessa segunda viagem indicam que, apesar dos aparentes obstáculos e das dificuldades pessoais que surgiram, Deus ainda operava.
1. Um novo companheiro. (At 15:36-41)
Paulo e Barnabé concordavam sobre a importância da viagem, mas não sobre a formação da “equipe”. Vemos aqui dois homens dedicados que acabaram de ajudar a promover a união dentro da igreja e que, no entanto, não conseguiam resolver suas diferenças! Por mais perturbadores e dolorosos que sejam esses conflitos, aparecem com frequência na história da Igreja; no entanto, Deus predomina sobre eles e realiza seus propósitos.
Não causa surpresa Barnabé defender João Marcos, pois os dois eram primos (Cl 4:10), e os laços de família deviam ser fortes.
Mas, além disso, Barnabé era o tipo de pessoa que procurava ajudar os outros de todas as maneiras, o que explica por que a igreja o chamava de “filho de exortação” (At 4:36). Estava disposto a dar a João Marcos a oportunidade de servir ao Senhor e de provar seu valor. Assim, Barnabé insistiu que levassem João Marcos consigo na viagem.
Mas Paulo mostrou-se igualmente irredutível em sua posição de que não deveriam levar Marcos! Afinal, na primeira viagem missionária, ele desertara, voltando para casa (At 13:13) e dando mostras de fraqueza. O ministério era importante demais, o trabalho exigia muito deles, e não poderiam pedir a ajuda de alguém não confiável.
A discussão continuou e se transformou em discórdia (o termo paroxismo vem da palavra traduzida por “desavença” nesse versículo), e a única solução aparente era os amigos dividirem o território e se separarem. Barnabé foi para Chipre, sua terra natal, levando consigo Marcos; Paulo chamou Silas e ambos se dirigiram à Síria e Cilícia (ver At 15:23).
Quem estava certo? Na verdade, não faz muita diferença. Talvez ambos estivessem certos em alguns aspectos e errados em outros. Sabemos que, no final, João Marcos teve o ministério restaurado e recebeu o amor e apreciação de Paulo (ver Cl 4:10; 2 Tm 4:11; Fm 23, 24).
Mesmo quem é bom e piedoso às vezes discorda de outros na igreja; esse é um dos fatos tristes da vida que devemos aceitar. Paulo olhava para as pessoas e perguntava: “O que elas podem fazer pela obra do Senhor?”, enquanto Barnabé olhava para as pessoas e perguntava: “O que a obra do Senhor pode fazer por elas?” As duas perguntas são importantes para o trabalho de Deus, e, por vezes, é difícil manter o equilíbrio.
Como novo companheiro de viagem e ministério, Paulo escolheu Silas, um dos líderes da igreja, um profeta (At 1 5:22, 32) e escolhido para transmitir às igrejas as decisões da assembléia de Jerusalém (At 1 5:27). O nome “Silas” é, provavelmente, uma versão grega do nome Saulo. Fir co-autor com Paulo das Epístolas aos Tessalonicenses e secretário de Pedro quando este escreveu sua primeira epístola (1 Pe 5:12). Como Pau-Io, também era cidadão romano (At 16:37).
Deus usa diferentes obreiros, mas sua obra prossegue. Agora, em vez de uma equipe missionária, havia duas! Se Deus dependesse de pessoas perfeitas para realizar sua obra, jamais conseguiria fazer coisa alguma. Nossas limitações e imperfeições são bons motivos para dependermos da graça de Deus, pois nossa suficiência vem somente dele (2 Co 3:5).