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Texto Básico: Tiago 1:1 Texto Devocional: 1 Coríntios15:1-11 Versículo Chave: “Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta” – Tg 2:17.
Introdução
A epístola de Tiago é uma carta prática. Pertence à classificação de literatura na Bíblia conhecida como “literatura de sabedoria”. Seu propósito é caracterizado por instruções para o viver diário e por uma compreensão das perplexidades da vida. Henrietta Mears a denominou de “manual prático de religião”, e outros escritores a chamam de “guia prático para a vida e a conduta cristã”.
Broadus Hale foi iluminado ao observar que “as falhas que Tiago estava tentando corrigir em seus leitores (fé sem obras, palavras sem atos, censuras, ambição, amor desordenado pelo ensino, valor à riqueza e posição, tratamento depreciativo dos pobres e viúvas, etc.) eram e são tipicamente farisaicas”. Desta forma, esta epístola é um convite e uma exortação para que os cristãos judeus lutem para ir além do judaísmo farisaico ou da fé inoperante. Assim como creram em Jesus Cristo para a salvação, a partir daí deveríam de viver como discípulos do Senhor, e não apenas como fariseus “melhorados”. O vinho novo exige odres novos.
I-QUEM E ESTE TIAGO?
Os “Tiagos” do Novo Testamento. Quatro homens no Novo Testamento são chamados de Tiago.
Tiago, o filho de Zebedeu. O irmão de João que, juntamente com ele e Pedro, formava aquele trio mais íntimo de Jesus (Mc 5:37; 9:2; 10:35; 14:33).
Tiago, o filho de Alfeu. Um dos Doze. Seu nome é mencionado na lista dos apóstolos (Mc 3:18). Em Marcos 15:40 ele é chamado “Tiago, o menorm (texto paralelo em Mt 27:56). Nada mais sabemos sobre ele.
Tiago, o pai de Judas. É mencionado em Lucas 6:16. Este Judas se diferencia do Iscariotes, conforme João 14:22, e provavelmente é o mesmo Tadeu de Mateus 10:3 e Marcos 3:18.
Tiago, “o irmão do Senhor” (Gl 1:19). Este Tiago tinha uma posição influente na igreja de Jerusalém (At 12:17; 15:13; Gl 2:9).
Destes quatro, apenas dois poderiam ser o autor da epístola: o filho de Zebedeu e o irmão do Senhor. Contudo, Herodes Agripa I fez o primeiro “passar ao fio da espada” (At 12:2) no ano 44 d.C., e a carta foi escrita numa data posterior. Além disso, o autor da epístola não se identifica como um apóstolo, como o fazem Paulo e Pedro em suas cartas. Isto apóia a conclusão de que nenhum dos dois apóstolos chamados Tiago escreveu esta carta. Diante disto, resta-nos Tiago, o irmão do Senhor Jesus.
Tiago, o irmão do Senhor
Os irmãos de Jesus são nomeados com Tiago aparecendo sempre em primeiro lugar, o que indicaria que ele era o mais velho dos quatro (Tiago, José, Judas e Simão – Mc 6:3). Os evangelhos também nos informam que eles não eram simpáticos ao ministério de seu outro irmão, Jesus. O evangelista João declara abertamente que “…nem mesmo os seus irmãos criam nele” (Jo 7:5). E provável que o episódio de Maria e os irmãos querendo falar com Jesus tenha sido uma tentativa de levá-IO para casa, acreditando que Ele pudesse estar fora de si (Mt 12:46-50). Os irmãos tinham tão pouca simpatia por Ele que, ao precisar cumprir o dever de filho mais velho, pediu que o apóstolo João cuidasse de Maria (Jo 19:26-27). Ao relatar que o Cristo ressurreto apareceu particularmente a Tiago (1 Co 15:7), o Espírito Santo nos informa, pelo apóstolo Paulo, que nosso Senhor sabia que seu “meio- irmão” precisava de um encontro especial com Aquele que fora gerado no mesmo ventre, mas não pelo mesmo Pai. Atos 1:14 declara que os irmãos de Jesus, juntamente com Maria, estavam presentes no cenáculo, aguardando o cumprimento da promessa do Pai (At 1:4; 2:1).
Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo
Ao colocar-se como “servo”e chamar Jesus Cristo de “Senhor”, Tiago testemunha claramente que, graças a Deus, reconheceu que seu irmão mais velho era realmente tudo o que afirmava ser.
II – PARA QUEM TIAGO ESCREVEU?
“… às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações.” (Tg1:1)
Esta carta foi incluída na divisão do Novo Testamento que ficou conhecida como “Epístolas Gerais”, porque não se dirige a um leitor ou igreja específicos. Todavia, D.A. Carson e outros encontram na carta evidências internas que Tiago a escreveu para um público específico. Vários trechos da carta, dizem eles, deixam claro que os destinatários eram cristãos judeus, como a maneira natural de mencionar o Antigo Testamento (Tg 1:25; 2:8-13) e a referência ao lugar onde os destinatários se reuniam como uma sinagoga (Tg 2:2).
“Às doze tribos”
Após o exílio babilônico (538 a.C.), as doze tribos de Israel já não existiam mais fisicamente, mas a expressão era usada para indicar o povo de Deus reunido nos últimos dias (Ez 47:13; Mt 19:28; Ap 21:12). Sendo assim, “doze tribos” é uma expressão simbólica que denota os que são filhos de Deus por causa da fé em jesus Cristo, ou seja, “a igreja como o novo povo pactuai de Deus” (Introdução ao NT, Vida Nova, p.460). Alguns chegam a acreditar que havia cristãos judeus de cada uma das doze tribos de Israel entre estes convertidos, embora a comprovação não seja possível.
“Que se encontram na Dispersão”
A palavra “dispersão”, no grego diaspora, era usada para os judeus que viviam fora da Palestina e, por extensão, o local onde viviam. Ela aparece três vezes no N.T. (Jo 7:35; Tg 1:1 e 1 Pe 1:1). “Esta palavra adquiriu um sentido metafórico, caracterizando os cristãos em geral como aqueles que viviam longe de seu verdadeiro lar celestial” (Carson, ob. cit., p.460).
Alguns estudiosos do N.T. sugerem que o pano de fundo da epístola de Tiago seja Atos 11:19: “Então, os que foram dispersos por causa da tribulação que sobreveio a Estêvão se espalharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus”. O termo “dispersos” pertence à mesma raiz de “dispersão”. É possível harmonizar os leitores de Tiago com esses primeiros cristãos judeus que foram perseguidos em Jemsalém e tiveram que se espalhar pelos lugares mencionados no versículo acima. A carta seria a maneira possível de Tiago pastorear aquele “rebanho disperso”.
III-O QUE TIAGO PRETENDIA TRANSMITIR A SEUS LEITORES?
Ao pedir de seus leitores, “tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1:22), Tiago deixa- nos claro que escreveu sua carta para dar conselhos práticos; encorajar aqueles que estavam sofrendo na dispersão; corrigir certas tendências de conduta; e confrontar os cristãos com as responsabilidades da vida cristã. O esboço a seguir nos ajudará a perceber os principais assuntos da epístola.
Deus
É interessante observarmos a doutrina de Deus em Tiago, pois ele O apresenta como: Doador de sabedoria (1:5), Santo – Ele mesmo a ninguém tenta (1:13), Imutável (1:17), Criador (1:18), Justo (1:20), Pai (1:27; 3:9), Deus que escolhe os rejeitados (2:5), Amigo de Abraão (2:23), Criador do homem (3:9), Zeloso – não tolera rivais (4:4), Doador de graça e resistente aos soberbos (4:6), Legislador e Juiz (4:12).
Jesus Cristo
O nome de “Jesus Cristo” aparece duas vezes (1:1; 2:1), e “Senhor” (que também é Jesus) ocorre 14 vezes (1:7, 12; 2:1; 3:9; 4:10, 15; 5:4, 7, 8, 10, 11, 14, 15). A preferência por se referir a Cristo como o “Senhor” ensina-nos que o autor quer que seus leitores saibam que o Deus de Israel a partir daí deve ser visto na pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Fé e obras
É provável que a mais importante contribuição desta epístola para a fé evangélica seja a relação fé-obras. Ao usar o termo “fé” por 12 vezes, Tiago demonstra que a nossa confiança no amor e poder de Deus e o conteúdo doutrinário, ou seja, aquilo em que cremos, define um cristão. Mas, se tudo isso não redundar em prática de coisas boas, esta fé está morta. A lição na 8 desta revista tratará exclusivamente deste assunto.
A escatologia
Tiago lembra a seus leitores que “…o juiz está às portas” (Tg 5:9). Este lembrete funciona como uma espécie de motivação para os cristãos v|»erem de maneira santa e agradável a Deus (1:10-11; 2:12-13; 3:1; 5:1-6, 9, 12). Mas as recompensas de Deus também fazem parte da escatologia (últimas coisas), e é por isso que temos Tiago 1:12; 2:5; 4:10; 5:7-11.
A lei.
Numa carta escrita por um cristão- judeu a leitores com iguais raízes raciai«, não poderia faltar o tema “lei”. O termo ocorre sete vezes na epístola (1:25; 2:8, 9, 10, 11, 12; 4:11). E importante destacar que para Tiago a lei do N.T. se cumpriu no ensino e na obra de Jesus. Daí ele usar a expressão “lei da liberdade” (1:25; 2:12), que é a lei de Cristo.
Questões éticas e práticas da vida cristã
São questões como provação, pobreza e riqueza, tentação, visita a órfãos e viúvas, sabedoria, acepção de pessoas, mau uso da língua, mundanismo, soberba, maledicência, omissão na prática do bem, opressão dos ricos, queixas, juramento, oração e apostasia. Muitos comentaristas vêem uma ligação muito direta entre a epístola de Tiago e o Sermão do Monte (Mt 5-7). Concordamos plenamente.
CONCLUSÃO
Se precisássemos resumir Tiago, diriamos que ele remove todo o pensamento que a fé pode estar presente em uma vida não transformada. Se você acredita nesta afirmação, então seja bem-vindo a esta série de estudos sobre a carta de Tiago, pois ela é uma carta para a igreja de hoje.
Estes estudos estão disponíveis em: www.pastorjosiasmoura.com