Estudo bíblico em atos 6
Neste capítulo, temos: I. O descontentamento que houve entre os discípulos sobre a distribuição dos fundos de caridade pública (v. 1). II. A eleição e a ordenação de sete homens para tomar conta desse assunto e aliviar os apóstolos das obras assistenciais (w. 2-6). III. O aumento da igreja pelo acréscimo de muitos discípulos (v. 7). IV Uma narrativa específica sobre Estêvão, um dos sete (v. 8). 1. A notável atividade de Estêvão para Jesus (v. 8). 2. A oposição que Estêvão encontrou nos inimigos do cristianismo, e os debates que teve com eles (w. 9,10). 3. A citação de Estêvão perante o grande Sinédrio, e os crimes de que foi acusado (w. 11-14). 4. O reconhecimento de Deus no julgamento de Estêvão (v. 15)
Três foram as tentativas de impedir o avanço da igreja primitiva. Já vimos as duas primeiras: perseguição (At 4) e infiltração (At 5). Agora, veremos a terceira, a distração (At 6). Já que Satanás não conseguiu derrotar a igreja de fora para dentro por meio da perseguição, nem de dentro para fora por meio da corrupção, tenta agora desviar o foco de sua liderança para o serviço das mesas. Curiosamente o que está ameaçando a igreja agora não é uma coisa ruim, mas boa, a assistência social.
Cap. 6 – A escolha dos sete diáconos
1 Algum tempo depois, o número de judeus que se tornaram seguidores de Jesus aumentou muito, e os que tinham sido criados fora da terra de Israel começaram a se queixar dos que tinham sido criados em Israel. A queixa deles era que as viúvas do seu grupo estavam sendo esquecidas na distribuição diária de dinheiro.
Depois da segunda perseguição levada a efeito pelos saduceus, a comunidade cristã se defrontou com outra ameaça interna, que foi quase tão perigosa quanto o engano de Ananias e Safira. Desta vez, o mal iminente era a discriminação.
Os judeus helenistas, membros da comunidade cristã, estavam murmurando porque as suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
Para entender por que essas viúvas estavam sendo discriminadas, é essencial que conheçamos a situação que perdurava entre os judeus palestinos e os helenistas. Os judeus que viviam na terra da Palestina olhavam com suspeita os seus compatriotas que viviam fora da terra.
Havia diferença na linguagem. Um grande número dos judeus que viviam fora da Palestina adotara o grego como sua língua, enquanto os que moravam na Palestina falavam o aramaico. Muitos dos costumes, que observavam os judeus palestinos, não eram considerados importantes pelos judeus helenistas.
Visto que os judeus que viviam fora da terra se associavam livremente com os gentios, os seus irmãos da Palestina tinham profundo ressentimento contra eles, porque suspeitavam que os helenistas haviam condescendido em seus princípios religiosos por desejo ao lucro financeiro.
Quando esses dois grupos de judeus se defrontaram na igreja, é evidente, mediante o que aconteceu no capítulo 6, que os cristãos judeus palestinos não haviam sufocado os seus preconceitos. Recorreram à discriminação contra as viúvas dos helenistas, e uma crise resultou disso.
Os cristãos têm infligido quase tantas feridas à comunhão quanto os perseguidores externos, abrigando em si preconceitos raciais, religiosos e de classe. Esse preconceito leva a discriminação, e a discriminação destrói a unidade dos crentes. Estas distinções não deviam ter entrado na Igreja, naquela época, e não devem entrar hoje.
De maneira demasiadamente apressada, cristãos de uma região depreciam a ortodoxia ou dedicação de cristãos de outra região. Um espírito faccioso nunca expressa a atitude de Cristo. O que pode ser dito de tensões em nível regional pode também ser aplicado à luta denominacional e às diferenças teológicas na igreja local. A gratidão pelo amor de Deus em Cristo devia motivar os cristãos a expressar amor para com outras pessoas, sem qualquer discriminação.
Os judeus tinham grande reputação por sua obra de beneficência em favor dos pobres e das viúvas. Quando os judeus se tomaram seguidores de Cristo, continuaram a prática a que estavam acostumados. Nas epístolas pastorais (I Tim. 5:3-11,16), as viúvas se tornam um grupo reconhecido na igreja. Um prelúdio a este “ofício” de viúva pode ser descoberto em Atos 9:39.
Ninguém pode ser tão indefeso como uma viúva, e, sofrer discriminação de um grupo devido a preconceitos, torna a sua sina ainda pior. A fim de remediar a situação, os doze, convocaram a multidão dos discípulos. Esta é a primeira vez que Lucas se refere aos apóstolos como os doze, e a primeira menção de discípulos em Atos, para designar os seguidores de Jesus.
2 Então os doze apóstolos reuniram todo o grupo de seguidores e disseram: —Não está certo nós deixarmos de anunciar a palavra de Deus para tratarmos de dinheiro. 3 Por isso, irmãos, escolham entre vocês sete homens de confiança, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, e nós entregaremos esse serviço a eles. 4 Assim nós poderemos continuar usando todo o nosso tempo na oração e no trabalho de anunciar a palavra de Deus.
Os apóstolos não consideraram que lhes era apropriado desistir de sua missão de pregadores, para servir às mesas.
A Importância Do Ensino
1. Os apóstolos eram evangelizadores, mas coisa alguma – nem o seu trabalho nem qualquer outra coisa – era capaz de entravar-lhes o seu ministério de ensino. O texto presente é demonstração desse fato.
2. Veja-se como o ministério do ensino está contido dentro da própria Grande Comissão (Mat. 28:19,20). O evangelismo, por si só, não pode cumprir essa comissão.
Mesas pode ter dois significados. Podiam ser mesas de refeição que eram usadas para os repastos comunais dos cristãos, ou mesas que eram estabelecidas para distribuir dinheiro. Possivelmente, o último significado é o correto, aqui. Os apóstolos não achavam que deviam usar o seu tempo na administração de fundos para o serviço social.
Conseqüentemente, aconselharam a congregação para escolher sete homens para tomarem conta daquela situação de emergência, e eles, por seu turno, os indicariam para a posição recém-criada. É bom que seja notado que o Codex Vaticanus dá a entender que os apóstolos fizeram a escolha, bem como a indicação.
O códex B diz «escolhamos», neste ponto, o que indicaria que os apóstolos também participariam da escolha; e talvez assim o tivessem feito. Entretanto, o texto original diz «…escolhei…», conforme aparece em quase todos os manuscritos.
Deve-se observar, com base nessas palavras dos apóstolos, que à congregação é que cabia o privilégio de fazer a seleção, embora os escolhidos devessem ser aprovados e consagrados pelos apóstolos. Trata-se de uma ação democrática bem definida e clara. (Sobre essa questão e sua importância para o governo da igreja cristã, ver as notas expositivas referentes ao segundo versículo deste capítulo).
Quais eram as qualificações dos diáconos? Segundo as palavras dos apóstolos, destacam-se três qualidades principais, abaixo discriminadas:
1. Boa reputação. Isso tanto no aspecto positivo como no negativo. Não deveriam ter-se envolvido em qualquer escândalo que lançasse qualquer reflexo adverso sobre sua moralidade ou honestidade. Deveriam ser conhecidos como homens de interesses humanitários, que promovessem o seu ofício e apresentassem soluções eqüitativas aos muitíssimos problemas.
A palavra reputação…» dá-nos a entender que teriam de ser indivíduos testados, ou, segundo o que o seu sentido original entende, que lhes «tivesse sido dado testemunho. Outras pessoas precisam conhecê-los, em seus negócios e em seu caráter passado, testificando favoravelmente acerca deles.
2. Cheios do Espirito Santo. Devem ter experimentado pessoalmente a promessa feita pelo Senhor Jesus de que aos seus seguidores seria dado o divino Consolador.
Ê muito provável que os dons espirituais também estivessem em foco. Os diáconos precisavam ser homens dotados de habilidade, sendo homens destacados na comunidade cristã, como homens de Deus, ativos e poderosos no ministério.
Deve-se notar que um dos indivíduos assim selecionado foi Estêvão, homem cheio de graça e poder- (Atos 6:8), o qual «fazia prodígios e grandes sinais entre o povo».
Visto que tais dons espirituais eram tão comuns na igreja primitiva, não somente entre os apóstolos, mas também no caso de outros líderes da segunda linha, é bem provável que a igreja primitiva tenha encarado esses sinais visíveis dos dons espirituais como característica necessária para alguém ser nomeado a qualquer ofício mais elevado, como deve ter sido inicialmente considerado o diaconato.
Além disso, o Espírito Santo, que neles estava, sem dúvida instilava-lhes graças cristãs especiais de fé, de amor, de bondade, de paciência, de longanimidade, de mansidão, as quais seriam úteis para o correto exercício de suas funções, porquanto essas qualidades não são menos operações do Espírito Santo, no íntimo do crente, do que os sinais dos dons miraculosos.
3. Cheio de sabedoria. Naturalmente, essa qualidade era resultado direto do poder habitador do Espírito Santo. Trata-se dc uma qualidade ao mesmo tempo negativa c positiva, terrena e celestial. Era mister que soubessem como rejeitar as murmurações c como cuidar delas, sabendo também cuidar dos que eram dados à fraude, à calúnia e à traição por palavras; pois. cm seu trabalho de administração do dinheiro, naturalmente sc encontravam com muitas pessoas dessa natureza, especialmente visto que tinham de tratar com pessoas mais idosas, nas quais, com freqüência, talvez por motivos físicos, sc encontra um espirito de partidarismo radical, além de idéias fechadas e preconcebidas. A sabedoria dos diáconos precisava ser terrena e prática, dando eles exemplos de discreçâo e poupança, além da aptidão pelas coisas c soluções práticas. Contudo, essa sabedoria também teria dc ter um aspecto espiritual, fazendo com que olhassem para seus semelhantes com espírito de amor, dc ternura e de bondade, sempre considerando seu destino espiritual e eterno, visando o avanço e o desenvolvimento espirituais de suas almas.
Falando de maneira geral, teriam de scr homens que cuidassem tanto das necessidades físicas como das necessidades espirituais dc muitíssimas pessoas, motivo pelo qual teriam de ser indivíduos altamente qualificados.
E perfeitamente possível que o ofício diaconal especialmente criado neste ponto da narrativa histórica, não seja idêntico ao oficio mencionado no trecho de I Tim. 3:1-13, onde aparecem, dadas pelo apóstolo Paulo, as qualificações necessárias dos pastores e diáconos, porquanto diversas modificações podem ter sido efetuadas no decorrer dos anos. Não obstante, o ofício diaconal, aqui no livro de Atos, foi o precursor dos ofícios inferiores ao apostolado, na igreja cristã; e, originalmente, sem dúvida muito se assemelhava aos ofícios pastoral e diaconal dos anos posteriores.
5 Todos concordaram com a proposta dos apóstolos. Então escolheram Estêvão, um homem cheio de fé e do Espírito Santo, e também Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau de Antioquia, um não-judeu que antes tinha se convertido ao Judaísmo. 6 Esses homens foram levados aos apóstolos, que oraram e puseram as mãos sobre a cabeça deles.
No que diz respeito às questões de governo eclesiástico é importante notarmos aqui que os oficiais e líderes da igreja primitiva eram nomeados e eleitos pela ação da comunidade inteira dos crentes, e não meramente por ação dos apóstolos. Apesar de que o NT, não estabelece quaisquer preceitos dogmáticos quanto ao governo da igreja, é óbvio, por esta passagem bíblica, que a democracia era a forma de governo geralmente seguida.
Isso também transparece no caso da escolha de Matias, em substituição a Judas Iscariotes, porquanto os «cento e vinte irmãos agiram juntamente para preencher tal ofício, como ação essencial da igreja cristã, posto que em seu estágio inicial de desenvolvimento. Nesse caso, os líderes (os apóstolos) tomaram a iniciativa e mostraram quais as necessidades da comunidade, porquanto eram os responsáveis pela questão.
Deve-se observar que nessa lista todos os nomes são gregos. Apesar de ser verdade que muitos judeus da Palestina tinham também um nome grego, além do nome hebraico, é bem provável que a maioria desses diáconos se compusesse de judeus helenistas. Parece quase certo, portanto, que a queixa acerca das viúvas se originara entre os judeus helenistas. E isso fez, naturalmente, com que a maioria dos indivíduos escolhidos para cuidar do problema tivesse sido selecionada dentre os helenistas.
7 A palavra de Deus continuava a se espalhar. Em Jerusalém o número dos seguidores de Jesus crescia cada vez mais, e era grande o número de sacerdotes judeus que aceitavam a fé cristã.
Somente neste versículo, em todo o livro de Atos, é que encontramos qualquer declaração no sentido de que o evangelho cristão fazia qualquer impressão sobre a casta sacerdotal judaica.
O trecho de João 12:42 encerra uma nota similar a esta, observando que muitas das «próprias autoridades» criam em Cristo, embora nunca tivessem declarado a sua fé, por receio de serem expulsos da sinagoga.
Pouquissimos membros do sinédrio, vieram a crer no evangelho, com exceção de Nicodemos e José de Arimatéia.
Os sacerdotes, cujo cargo honorífico surgiu da lei de Moisés, estavam propensos a serem conduzidos pelo evangelho de Cristo. Pelo visto, eles vieram em massa. Muitos deles concordaram em unir-se e entregar, de uma só vez, seus nomes a Jesus Cristo para continuarem tendo o crédito uns dos outros e para fortalecerem as mãos uns dos outros: Uma grande multidão de sacerdotes foi, pela graça de Deus, ajudada a vencer seus preconceitos e a obedecer à fé, assim é descrita conversão dos sacerdotes.
Os sacerdotes adotaram a doutrina do evangelho. Seus entendimentos foram levados cativos ao poder da verdade de Cristo, e todo pensamento contestador e oponente foi conduzido à obediência de Cristo (2 Co 10.4,5). As pessoas conhecem o evangelho para a obediência da fé (Rm. 16.26). A fé é um ato da obediência, pois este é o mandamento de Deus: que creiamos (1 Jo 3.23). Os sacerdotes evidenciaram a sinceridade de terem crido no evangelho de Cristo através de uma submissão alegre a todas as suas regras e preceitos. O desígnio do evangelho é refinar e reformar nosso coração e nossa vida. A fé nos dá a lei, e devemos ser-lhe obedientes.
Naturalmente, muitos desses homens continuaram certamente a realizar os seus deveres religiosos no templo de Jerusalém, porquanto o tempo certo para o rompimento formal entre o judaísmo e o cristianismo ainda não havia chegado.
Provavelmente essa menção da conversão de muitos sacerdotes à fé é feita a fim de deixar entendida uma das razões da grande perseguição que não demorou a rebentar contra os cristãos, a começar pelo martírio de Estêvão: porquanto passou a ser uma situação impossível para o sinédrio contemplar impassivelmente muitos importantes membros de sua comunidade confessarem abertamente a Jesus Cristo.
“…crescia a palavra de Deus…”. Está aqui em foco a mensagem da igreja cristã primitiva acerca da missão messiânica e do Senhor Jesus, isto é, a mensagem toda que a igreja primitiva anunciava concernente a Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, o Salvador, o Juiz e o Rei vindouro.
Essa mensagem, pois, é aqui intitulada «palavra de Deus», porque em Cristo Deus apusera o seu selo de aprovação, e através dele é que transmitia a sua mensagem ou palavra de redenção e glória para os homens.
8 Estêvão, um homem muito abençoado por Deus e cheio de poder, fazia grandes maravilhas e milagres entre o povo. 9 Mas ficaram contra ele alguns membros da “Sinagoga dos Homens Livres”, que era a sinagoga dos judeus que tinham vindo das cidades de Cirene e Alexandria. Estes e outros judeus da região da Cilícia e da província da Ásia começaram a discutir com Estêvão.
10 Mas o Espírito de Deus dava tanta sabedoria a Estêvão, que ele ganhava todas as discussões.
11 Então eles pagaram algumas pessoas para dizerem: —Nós ouvimos este homem dizer blasfêmias contra Moisés e contra Deus! 12 Dessa maneira eles atiçaram o povo, os líderes e os mestres da Lei.
Depois foram, agarraram Estêvão e o levaram ao Conselho Superior. 13 Então arranjaram alguns homens para dizerem mentiras a respeito dele. Essas pessoas afirmaram o seguinte: —Este homem não para de falar contra o nosso santo Templo e contra a Lei de Moisés. 14 Nós o ouvimos quando ele dizia que esse Jesus de Nazaré vai destruir o Templo e mudar todos os costumes que Moisés nos deu.
15 Todos os que estavam sentados na sala do Conselho Superior olhavam firmemente para Estêvão e viram que o rosto dele parecia o rosto de um anjo
A história de Estêvão, considerada em seus pontos gerais, tem diversos propósitos, a saber:
1.Mostrar a grandeza da personalidade de Estêvão, bem como o sucesso de suas atividades, inspiradas pelo Espirito Santo, como exemplo para todos os crentes de todos os séculos.
2.Explicar quais os motivos desse primeiro martírio no seio da igreja primitiva, como também a violência e a iniquidade continuas dos membros do sinédrio.
3. Mostrar, de modo geral, como começaram as primeiras perseguições contra os cristãos, as quais se prolongaram por cerca de duzentos anos.
4. Mostrar por que os cristãos eram perseguidos, a saber, não porque houvesse neles qualquer maldade, mas antes, porque pregavam a verdadeira doutrina de Jesus, o Messias, como a mensagem de Deus. e porque a nação de Israel, naqueles dias, era controlada por líderes ímpios, violentos e desvairados. Esse é um tema importante do livro de Atos, porquanto o autor sagrado procurava mostrar a um oficial romano —Teófilo —e, por conseguinte, a Roma, que o cristianismo merecia ser protegido pelo estado, e não perseguido, não devendo ser considerado como seita facciosa e traiçoeira. Mas essa defesa foi ignorada por quem de direito, porquanto não demorou muito para que o próprio império romano começasse a mover perseguição contra os cristãos. Antes mesmo deste livro de Atos haver sido compilado por Lucas, já haviam começado as perseguições movidas pelos romanos; e Pedro. Paulo e muitos outros haviam sido martirizados por causa disso.
5. Dar exemplo, a outros crentes, que talvez fossem convocados pelo Senhor a participar dessas perseguições, a fim de que se mostrassem perseverantes, dando bom testemunho, tal como fizera o Senhor Jesus, e como agora mesmo fizera Estêvão.
6. Mostrar que a perseguição e a morte tão-somente concedem ao crente uma melhor visão de Cristo, em que o salvo compartilha da glória do Senhor, porquanto Estêvão entregou o seu espirito nas mãos de Jesus. O fato de que Cristo pode assim receber os espíritos subentende, se não mesmo ensina diretamente, a divindade do Senhor Jesus, ou, pelo menos. A sua majestade e exaltação celestiais.
7. Mostrar que a nação de Israel é que realmente havia apostatado, posto que os profetas de Deus sempre sofreram às mãos de seu próprio povo, e Israel finalmente rejeitou ao seu próprio Messias. Por conseguinte, a nova comunidade religiosa é que representava o verdadeiro Israel de Deus.
Embora Estêvão tivesse sido indicado para um ofício administrativo, não se passou muito tempo sem que ele mostrasse a sua eficiência em outras esferas.
Sua sabedoria não era apenas prática. Ele possuía habilidade em sabedoria filosófica não diferente da que tinha renome mundial em Alexandria. Com esta espécie de conhecimento, ele era um polemista de primeira ordem.
Além de possuir todas essas qualidades, Estêvão era capaz de fazer prodígios e grandes sinais. Até esta altura o poder de fazer milagres estava limitado aos apóstolos (mas veja Mar. 9:38-40); agora Estêvão demonstrava não ser menor do que os apóstolos nessa capacidade.
Estêvão começou a fazer o seu apelo a um elemento diferente do público judaico. Ele dirigiu-se aos judeus helenistas. Possivelmente, ele sentira a urgência de fazê-lo, porque pertencia a essa classe de judeus e estivera anteriormente associado com muitos deles na sinagoga helenista.
Estêvão envolveu-se em um debate com alguns dos judeus helenistas, e os resultados do encontro fizeram dele o primeiro mártir cristão.
Não somos capazes de determinar quantas sinagogas estavam representadas pela oposição. As discussões abrangem uma a cinco sinagogas, dependendo da maneira de agrupar que a pessoa escolha. É concebível que os libertos, cireneus, alexandrinos, e os da Cilicia e Ãsia, representassem a mesma sinagoga. Os libertos provavelmente significavam os judeus que Pompeu levara a Roma em 63 a.C.
Estêvão era esperto demais para os seus oponentes. Incapazes de fazer-lhe frente em argumentos, apelaram ao público, por meio de testemunhas falsas.
Alegaram que ele falara palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus. Essa alegação causou muita agitação entre o povo, os escribas e anciãos, ao ponto de fazer com que Estêvão fosse levado perante o sinédrio. Aqui, pela primeira vez, parece que temos a corte legal regular dos judeus, em vez de uma corte sacerdotal de inquérito.
Diante da corte, as falsas testemunhas testificaram que Estêvão era culpado de falar contra este santo lugar e contra a lei. Além disso, acusaram-no de dizer que Jesus iria destruir o Templo e mudar os costumes de Moisés.
Falsas testemunhas, no julgamento de Jesus, o haviam acusado de ter dito que iria destruir o Templo (Mar. 14:58). A multidão zombeteira diante da cruz gritara a mesma acusação contra Jesus (Mat. 27:40; Mar. 15:29).
Na sala do tribunal, todos os olhos estavam fixos em Estêvão, e Lucas diz que a sua face era como a de um anjo. A descrição nos faz lembrar a face brilhante de Moisés, quando ele desceu do monte Sinai, e a aparência de Jesus no monte da transfiguração.
Nem mesmo o intelecto de Saulo de Tarso era páreo à altura para Estêvão, porquanto este era ajudado divinamente em seu conhecimento e expressão, e possuía poderes miraculosos que confundiam os seus oponentes.
Nesse tempo, quão pouco sabia Saulo de Tarso que, algum dia, seria ele mesmo um expositor ainda mais poderoso do cristianismo do que o próprio Estêvão, pois, de fato, foi o maior expositor das verdades divinas de todos os tempos!
Como Estêvão teria morrido muito mais feliz, se tivesse tido tal conhecimento de antemão, conhecendo que a sua vida e o seu testemunho haveriam de produzir tão notável resultado!
Ê realmente notável que Estêvão tenha sido o primeiro mestre cristão ao qual se atribui, de modo especial, o dom da ‘sabedoria’. Nos evangelhos, essa virtude é atribuída a nosso Senhor (ver Mat. 13:54; Luc. 2:40,52), e também se fala sobre a ‘sabedoria de Salomão’ (ver Mat. 12:42).
Na próxima semana continuamos.