INTRODUÇÃO
A terceira bem-aventurança do Sermão do Monte traz uma série de lições espirituais, principalmente no tocante aos nossos relacionamentos interpessoais. Para ser manso, precisamos depender do Espírito Santo, pois nossa natureza é de reivindicar, buscar reparações e coisas semelhantes. Ter espírito de mansidão é o mesmo que ser capaz de aguentar injúrias, injustiças, prejuízos, oposição e coisas semelhantes sem ficar amargo ou azedo, e esperar a ocasião própria para elucidar os fatos. Portanto, quem é manso depende de Deus nos momentos difíceis, e demonstra isso sendo educado com os outros.
Proposição: Os mansos e não os violentos tomarão posse das promessas de Deus.
I- “BEM-AVENTURADOS OS MANSOS.”
Esta bem-aventurança é muito semelhante ao salmo 37.11, pois nele está escrito: “Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz”. Em Provérbios de Salomão encontramos um texto semelhante; vejamos: “O justo jamais será abalado, mas os perversos não habitarão a terra” (10.30). Ser “justo” é o mesmo que ser fiel, devoto, santificado, benigno. Por Cristo somos declarados justos, para vivermos com brandura.
Somos por natureza bravos, furiosos, “indomados” até termos um encontro salvador com o Senhor Jesus Cristo. Paulo é um exemplo de alguém aparentemente indomável (veja Atos 9.1), a quem o Senhor depois de salvar, declarou: “…pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16). Muito sofrimento deve padecer aqueles que resistem a Deus no tocante à mudança de caráter ou do controle do temperamento.
A mansidão embeleza o caráter do cristão e não tem nada a ver com a fraqueza, ao contrário, pois é preciso muita força de vontade e determinação para controlar o temperamento ou gênio. Podemos afirmar que ser manso é a combinação de duas outras virtudes cristãs: a humildade e o domínio próprio. O termo no grego épraüs, também traduzido por meigo, gentil, moderado, submisso.
Felizes são os mansos, ou seja, os que enfrentam injustiças ou situações constrangedoras com brandura, calma, ou com atitude humilde, livre de maldade ou do desejo de retaliação. Paulo aconselha a liderança da igreja de Corinto a estimular os crentes que tinham demanda um contra o outro a esperar na reta justiça divina, e sofrer a injustiça e o dano, por amor ao testemunho coletivo e à comunhão (veja lCoríntios 6.7). Jesus garante uma preciosa herança aos que procedem desse modo.
II- OS MANSOS HERDARÃO A TERRA.
A promessa de Deus de herdar a terra é antiga (veja Gênesis 12.1-3). Desde os tempos de Abraão, Moisés e Josué, o povo de Israel tem lutado para tomar posse da terra. Nos tempos de Jesus também não era diferente, pois Roma dominava o mundo de então e oprimia a nação eleita. A BLH traduz a terceira bem-aventurança nos seguintes termos: “Felizes os humildes, pois receberão o que Deus tem prometido”. Dessa forma, Jesus reforça que não é pela violência que receberemos o que Deus nos promete.
Podemos dizer que está em vista a recompensa escatológica de possuirmos a nova terra que será sediada pela Nova Jerusalém, a cidade celestial que nossos pais na fé esperavam confiantemente: “Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus (…) lhes preparou uma cidade” (Hb 11.16; Ap 21.2). No estado eterno, reinaremos com Cristo, onde não haverá dor, tristeza ou violência de qualquer natureza.
Estamos diante de uma promessa maravilhosa que em Romanos 4.13 Paulo chama de “herdeiro do mundo”. O termo grego para herdar é kleronoméo, e significa “receber como possessão”. Também está em vista toda a nossa herança espiritual em Cristo (veja Efésios 1.3), que não pode ser tomada à força, mas pela submissão à vontade de Deus, pela auto-renúncia, pelo jugo de Cristo (Mateus 11.29) e demais atitudes que correspondem ao caráter manso e humilde de Jesus Cristo.
III- A MANSIDÃO COMO FRUTO DO ESPÍRITO.
Na relação de características do fruto do Espírito descrita na carta de Paulo aos Gálatas figura a mansidão. Esta qualidade de alma é indispensável para embelezar o caráter do verdadeiro cristão. Esse fruto ou resultado do trabalho do Espírito em nosso caráter nos faz herdeiros ou nos toma dignos – por Cristo – das promessas de Deus.
Quem é pobre de espírito (Mt 5.3), e chora a sua condição de imperfeição moral, também deve ser manso. O Doutor Larry Coy define um comportamento manso nos seguintes termos: “Uma pessoa mansa é aquela que não reclama qualquer direito para si. Ela está disposta a submeter todos os seus bens e direitos pessoais a Deus e passa a considerar tudo o que tem como lhe tendo sido emprestado por Deus para o seu trabalho e glória”.
Cristo possui um temperamento manso (veja Mateus 11.29), calmo e tranqüilo como uma ovelha, e todos aqueles que afirmam segui-lo devem imitá-lo. Quem procede desse modo não defende os seus próprios direitos e benefícios a todo custo (por exemplo: com violência). A mansidão é mais um dos atributos comunicáveis de Deus (2Coríntios 10.1), que se desenvolve no crente pela ação do Espírito Santo. Durante o Seu ministério terreno, Jesus agiu mansamente diante de seus algozes, e hoje Ele deseja que os Seus seguidores procedam do mesmo modo. -Além de Cristo, as Escrituras apresentam inúmeras pessoas que eram mansas, por exemplo: Abraão que abriu mão de seu direito de escolher a terra em favor de Ló (veja Gênesis 13.8- 12), Moisés que foi chamado de o homem “mais manso da terra”, porque era mui humilde (Números 12.3; Êxodo 4.10); Davi, que teve paciência de esperar seu tempo para reinar e foi manso suportando Saul (ISamuel 24,26). Mas apesar de todos esses exemplos, devemos entender que ser manso não é simplesmente ser calmo, gentil ou brando, mas está em vista uma atitude firme de não reagir violentamente diante da provocação, ofensa ou qualquer tipo de agressividade (por exemplo: verbal).
CONCLUSÃO
As bem-aventuranças iniciam pela humildade, prosseguem através da humilhação e, aqui, nos estimulam ao comportamento da brandura, do gênio controlado. Como já deu para perceber, o procedimento do cristão professo é diferente daquele existente no mundo, entre as pessoas que não amam a Deus, pois nessa bem-aventurança somos orientados a agir da forma inversa ao que todo mundo faz, ou seja, não reivindicar nossos direitos, mas esperar calmamente em Deus, como diz o salmo: “Espere no Senhor e siga a sua vontade. Ele o exaltará, dando-lhe a terra por herança; quando os ímpios forem eliminados, você o verá” (37.34; NVI). Sabiamente afirmou Rudolf Stier: “A auto-renúncia é o caminho para o domínio do mundo”.