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ToggleLiderança Estratégica – O conceito de “Mundo plano”
Conforme citado anteriormente, o MUNDO É PLANO é uma obra de autoria do jornalista norte-americano Thomas L. Friedman. Escrita em 2005, foi reeditada apenas um ano depois, segundo o próprio autor, em função da velocidade das mudanças por que passa o mundo contemporâneo.
O autor reflete e conclui sobre os impactos dos avanços tecnológicos sobre as pessoas, organizações e, naturalmente, sobre a diversidade de nações que compõem o mundo globalizado.
Ao apresentar as razões do Achatamento do Mundo,
Friedman destaca porque o “Achatamento” e seus impactos serão observados, no futuro, com uma importância similar à invenção da imprensa por Gutenberg, ao surgimento do Estado-Nação ou à Revolução Industrial.
Os impactos do avanço tecnológico ocasionam novos modelos sociais, políticos e empresariais, em uma velocidade espantosa. Esses novos tempos trazem como desafios os imperativos de entender, absorver, agir e acompanhar essas mudanças.
O autor aborda os efeitos do avanço tecnológico e da Globalização, levando o leitor a refletir sobre a evolução desse fenômeno econômico, político e social.
Pode-se dizer que a evolução da Globalização obedeceu às seguintes fases:
1ª – De 1492, com o início do comércio entre o Velho e Novo mundo, até aproximadamente 1800 – A chamada globalização dos países.
2ª – De 1800 até o final da década de 1990 – fruto das Revoluções Industriais, ocorre a maturação de uma economia global – A chamada globalização das em- presas.
3ª – A partir do ano 2000, a globalização entra em uma nova etapa, na qual, além do encurtamento de distâncias, ocorre a Planificação do Mundo – a globalização das pessoas.
Nessa fase ocorre uma verdadeira explosão de conectividade, em razão, dentre outros fatores, da fibra ótica, da possibilidade do maior acesso aos computadores pessoais, da criação em larga escala de softwares e dos mecanismos de busca de informação. Enfim, foi criada uma plataforma que permitia a liberdade de trabalho e de colaboração a partir de qualquer parte do planeta.
Friedman chamou de convergência do MUNDO PLANO a integração entre o computador pessoal, o cabo da fibra ótica e o aumento da produção dos softwares de fluxo de trabalho.
Essa convergência ampliou o poder das pessoas que passaram a competir em melhores condições e mesmo em igualdade com outros indivíduos espalhados pelo mundo.
Além disso, as pessoas entenderam que a partir da socialização do conhecimento seria possível não só competir, mas também, colaborar. A possibilidade de colaboração conferiu mais poder às pessoas. Esse poder, um novo poder, como foi citado na abertura do texto, tende a impactar, fortemente, a arte de liderar.
A metáfora da competição no Mundo Plano também pode ser entendida a partir do um pressuposto militar, o de que o terreno plano não oferece grandes vantagens a nenhum dos competidores. Portanto, assim como na Arte da Guerra, para competir na aldeia global planificada torna-se necessário encontrar novas formas de se obter a vantagem – ou seja, inovar.
Para Thomas Friedman, o Achatamento do Mundo é consequência da ação de 10 forças:
- a queda do Muro de Berlim;
- a abertura do capital da Net Escape;
- os softwares de trabalho;
- uploading;
- terceirização;
- off shoring;
- cadeia de suprimento;
- internalização;
- informação;
- esteroides.
Vejamos a seguir, as implicações de cada uma das Forças para o Achatamento do Mundo.
Força 1: 09 de novembro de 1989 – Queda do muro de Berlim
De acordo com o autor, a queda do Muro de Berlim permitiu uma percepção mais homogênea do mundo. A queda do muro materializou o fim da bipolaridade polí- tica ocidente – oriente. É como se energias represadas com fatores econômicos, psicossociais e políticos passassem a interagir de forma mais plana, colocando em contato milhares de pessoas por um fluxo de informações, de pessoas e de capitais que ampliou mercados e redesenhou mapas políticos.
Força 2 – 9 de agosto de 1995 – Abertura de capital da Netscape
A abertura de capital da Netscape aconteceu em um contexto de vários eventos importantes ocorridos na década de 1990. O primeiro deles foi a explosão da Internet como conectividade mundial de custo baixo custo. O segundo foi o aparecimento da Word Wide Web, que permitia às pessoas publicarem seus conte údos digitais para mundo. Aos dois primeiros veio se somar a disseminação dos navegadores comerciais, os quais passaram a simplificar a busca e apresentação de sites e documentos.
O primeiro browser comercial amplamente popular foi criado por uma empresa pequena, da Califórnia – a Netscape. Ao abrir seu capital e ofertar publicamente seu produto a empresa permitiu que pessoas de 5 a 95 anos, como frisa Friedman, pudessem tornar a internet viva e ser procurada por um número cada vez maior de pessoas, diariamente.
A Netscape criou o navegador e outros produtos que garantiriam que os protoco- los abertos fossem utilizados pelo público, evitando seus monopólios por grandes empresas.
Força 3 – Os Softwares de Fluxo de Trabalho
Esses softwares são considerados uma revolução silenciosa, pois permitiram a agilidade no trabalho e a integração entre departamentos, empresas e países. A associação desses softwares à utilização do HTML, uma espécie de linguagem da Internet, permitiu às pessoas publicar documentos e dados que pudessem ser transmitidos e lidos em qualquer computador e em qualquer lugar. Além disso, outros softwares passaram a permitir a integração entre máquinas sem a ação de pessoas.
Cria-se, nas palavras do autor, uma plataforma global para uma força de trabalho global de pessoas e computadores.
Força 4 – Uploading: explorando o Poder das Comunidades
Essa é uma das formas revolucionárias de colaborar. Uma revolução que ajudou a planificar o mundo. A possibilidade de as pessoas colocarem seus próprios vídeos, áudios, imagens e outros tipos de arquivos à disposição de todos, qualificou os usuários como produtores e socializadores do conhecimento.
Friedman se concentra em três formas de uploanding: o desenvolvimento de sof- twares em comunidades, Wikipedia e blogging/podcasting.
No desenvolvimento de softwares em comunidades, as ferramentas são desen- volvidas por várias pessoas, ou seja, a propriedade é coletiva, pois os códigos são abertos. Como exemplos dessas ações pode-se citar o sistema Linux, o Gimp e o Mozilla.
Outro exemplo de upload coletivo é a Wikipedia – wiki significa rápido. Wikis são sites que possibilitam aos usuários a edição rápida. Com isso, as pessoas podem colaborar umas com as outras, socializando seus conhecimentos. A Wikipedia, a enciclopédia do povo, é um grande exemplo de socialização do conhecimento.
Por sua vez, o blogging permite que as pessoas exponham suas ideias e façam postagens com um alcance inimaginável.
Força 5 – Terceirização: ano 2000
A ocupação da plataforma plana por pessoas e organizações de diversos países modificou o mercado de trabalho. As pessoas passaram a poder trabalhar de suas cidades origens, em fluxos de trabalhos iniciados em outro continente. Um bom exemplo dessa situação é a relação dos EUA e da Índia em termos terceirização de serviços e de mão de obra.
Força 6 – Offshoring
A entrada na CHINA na Organização Mundial do Comércio em dezembro de 2001 causou um grande impacto no mercado mundial de trabalho. Em função de possuir mão de obra barata, o território chinês passou a ser alvo de outros países para a abertura de empresas.
O offshoring é um modelo de negócio no qual uma empresa transfere um parque tecnológico com toda a sua inteligência para outro país.
Os incentivos tributários e a mão de oba mais barata são os suportes para esse modelo de negócio no qual as empresas passaram a deslocar sua produção para o exterior, integrando-as em cadeias de fornecimento globais. A sexta força, de acor- do com Friedman, deu início a uma fase de prosperidade global sem precedentes.
Força 7 – Cadeia de Fornecimento
O avanço tecnológico permitiu um crescimento espantoso na eficiência das cadeias de fornecimento. Um bom exemplo disso é a rede Wal-Mart.
As empresas passaram a otimizar suas produções, reduzindo custos e colocando o produto certo, na hora certa e de acordo com a necessidade do mercado em qualquer lugar do planeta.
A integração de toda a cadeia de valor permitiu uma colaboração horizontal entre clientes, varejistas e fornecedores.
Força 8 – Internalização
O insourcing é um novo processo de cooperação entre empresas e de criação horizontal de valor. Algumas empresas entram, por assim dizer, no coração dos negócios de outras empresas, analisam os processos de fabricação e reestruturam, se necessário, toda a cadeia de fornecimento global. A internalização chega ao ponto de empresas venderem seus produtos sem sequer tocarem neles.
Essa Força permite que empresas pequenas, carentes de determinadas competências organizacionais, possam competir em igualdade de condições e, até mesmo, se tornem globais, a partir da colaboração com outras empresas. As empresas colaboradoras fazem seus serviços, muitas vezes, sem sequer serem percebidas no processo. É uma ação muito mais ampla do que a terceirização de mão de obra. Exige um alto grau de confiabilidade, pois a colaboração pode incluir o core business das organizações.
Força 9 – Informação: Google, Yahoo, MSN Web Search
Informação, de acordo com Friedman, é o equivalente individual ao código aberto, ao uploading, à terceirização, à internalização, à cadeia de suprimento e ao offshoring. Informar consiste na possibilidade da construção e estruturação da cadeia de fornecimento pessoal de informação.
Essa força é composta pelos motores de busca, como por exemplo, o Google, cada vez mais eficientes, permitindo a universalização do conhecimento. Os me- canismos de busca permitem uma espécie de autocolaboração.
Força 10 – Esteróides: Digital, Móvel, Pessoal e Virtual
Para Friedman, os esteroides são novas tecnologias que potencializam todas as outras Forças. Na verdade, podem amplificar todas as formas de colaboração an- teriormente citadas, possibilitando sua realização de modo digital, móvel, virtual e pessoal, frisa o autor.
Como principais esteroides do Mundo Plano são citados os seguintes:
– computação: a capacidade de digitalizar, estruturar e desestruturar e transmitir palavras, dados, músicas cresce exponencialmente;
– avanços em compartilhamento de arquivos e mensagens instantâneas;
– avanços nas chamadas telefônicas pela Internet;
– a videoconferência;
– avanços na computação gráfica;
– novas tecnologias e aparelhos sem fio.
Os avanços tecnológicos permitem a quem está na plataforma permanecer “plu- gado”, com informações a sua disposição, a qualquer tempo.
Após a abordagem das Forças que planificaram o mundo, Thomas Friedman salienta que a existência dessas forças por si só não garantiria a planificação. A planificação ocorreu a partir de uma tríplice convergência que deu sinergia às Forças potencializando seus impactos.
– 1ª Convergência – Integração de hardware e software de trabalho;
– 2ª Convergência – Horizontalização de processos e de cadeia de suprimentos;
– 3ª Convergência – Inserção na plataforma de maneira muito rápida de mais de 3 bilhões de pessoas, respectivamente, da CHINA, Índia, Rússia, Leste Europeu, América Latina e Ásia Central, com um impacto significativo no mercado de tra- balho em termos de mão de obra e de fluxo de capital.
A figura abaixo representa os conceitos de Thomas Friedman que levam o leitor a várias reflexões. Dentre elas, pode-se citar a necessidade, de as pessoas, independentemente de profissão, conhecerem as vantagens e desvantagens da “Planificação do Mundo”. Da mesma forma, Estados e organizações precisam se adaptar a facilidades da nova realidade plana, que podem salvar vidas em questões de minutos, mas também trazer o terror para bem perto de todos.
A planificação do mundo está trazendo muitos desafios para todos os atores que gravitam na e no entorno da plataforma. Não pode ser esquecida, também, a questão dos atores excluídos dessa plataforma. A exclusão amplia as assimetrias que já existiam antes desse novo modelo de globalização.
Nesse contexto, convém salientar alguns questionamentos:
- Qual é o papel que os protagonistas desse processo terão que exercer para reduzir as disparidades regionais?
- Quais são os desafios desse mundo 3.0 para as lideranças?
- Os estilos convencionais de liderança são adequados a essa nova realidade?
- Como a estratégia e a liderança podem interagir para melhorar o desem- penho das organizações e dos estados?
As figuras abaixo apresentam alguns dos desafios do Mundo Plano para o exercício da liderança, particularmente para a liderança estratégica.
Os desafios ao lado apresentados impactam, decisivamente e de várias formas as organizações.
Porém, para instigar a reflexão do leitor sobre a importância da Liderança Estra- tégica, abordaremos apenas aquele que interfere mais diretamente no exercício da Liderança: a aproximação entre os níveis decisórios causada pelo dinamismo das atividades e do avanço tecnológico e que é capaz de interferir nas estruturas convencionais de governança baseadas em comando e controle.
A necessidade de decidir corretamente e com rapidez é uma competência importante para qualquer organização. Em algumas ocasiões, para aproveitamento de oportunidades cruciais, é preciso decidir sem orientações de chefes.
Como tomar as decisões corretas que não impactem a estratégia organizacional?
Uma das soluções para essa questão é a disseminação do pensamento estratégico em todos os níveis da organização. Com isso, reduzir-se-ia a incerteza de uma decisão de gerentes de nível intermediário que poderia contrariar à intenção estratégica definida pela alta cúpula gerencial
O estudo da estratégia, as discussões e a formulação não deveriam ser prerrogativas da alta cúpula organizacional, como se verifica em boa parte das organizações. Ao contrário, a estratégia deve permear todos os níveis das organizações.
O Exército Brasileiro, por exemplo, identificou essa necessidade e inseriu nos currículos da Academia Militar o ensino da Estratégia. Ou seja, desde o início da carreira ocorre a preparação do líder estratégico.
De acordo com especialistas em comportamento organizacional, já se sabe que as organizações aprendem. A esse pressuposto poder-se-ia acrescentar um outro – as organizações podem pensar estrategicamente.
Os desafios do Mundo Plano apontam para o caminho da valorização dos pensa- mentos Estratégico, Crítico e Sistêmico como competências do Líder Estratégico.
Em função do dinamismo do Mundo Plano, pessoas e organizações precisarão se adequar à Gestão de Competências Estratégicas para fazer frente às necessidades do mercado.
No próximo item, serão abordadas considerações sobre os conceitos de Sistema de Gestão das Organizações e suas implicações para a liderança.