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O que significa ser um ministro de Deus

Maxie Dunnam

Há alguns anos, eu fiquei impressionado com uma mensagem dada em um culto de ordenação de uma igreja. Ela era de Ezequiel 2.4,5: “O povo a quem vou enviá-lo é obstinado e rebelde”.

Você pode se identificar com isso?

“Diga-lhe: Assim diz o Soberano, o senhor. E, quer aquela nação rebelde ouça, quer deixe de ouvir, saberá que um profeta esteve no meio dela”.

Aqui está o cenário dessa passagem: Ezequiel está compartilhando sua história pessoal sobre como Deus o chamou para ser profeta e lhe deu uma visão. O relato bíblico é complexo e vivido, repleto de imagens. Ezequiel viu a glória de Deus descendo do céu. Ela foi tão esmagadora que ele caiu com o rosto em terra (esse é o único lugar em que devemos estar quando estamos na presença do Senhor — o rosto em terra). Deus disse: “Filho do homem, fique em pé, pois eu vou falar com você” (2.1). Então, o Senhor falou.

A mensagem que Deus deu a Ezequiel para pregar foi dada em um rolo. Ezequiel recebeu sua designação de Deus. E ela era um chamado difícil. Não era uma situação promissora — não era a oportunidade para iniciar uma nova igreja na cidade; não era uma oportunidade para servir como o pastor principal na Primei­ra Igreja do centro à qual todos os membros influentes da cidade pertenciam; não era um chamado para uma situação confortável na região de classe média alta da cidade. Deus tornou isto claro: ao exercer sua missão profética, Ezequiel teria de pregar para ouvidos surdos e viver entre escorpiões. Não havia perspectiva de suces­so para o profeta em seu chamado inicial para o ministério, e o peso da falta total de perspectiva continuou a aumentar à medida que o Senhor continuava falando.

Entretanto, o chamado trouxe consigo o poder do amparo. Jeová tornou a face do profeta mais dura que pederneira (Ez 3.9). A mensagem de condenação que Ezequiel pregaria foi lhe dada para comer (3.1) e ela teve um gosto mais doce que o mel. Daquele ponto em diante, o profeta estava inteiramente do lado de Deus, a palavra e a pessoa eram consideradas a mesma coisa. Assim, quer as pes­soas ouvissem quer se recusassem a ouvir, saberiam que um profeta havia estado no meio delas.

Eu não tenho conseguido ficar longe desse texto desde que eu o ouvi há alguns anos. Ele foi e continua sendo uma proposição problemática queimando em minha mente e coração, chamando-me para avaliar meu testemunho e ministério, julgando meu fracasso e me desafiando a um comprometimento mais profundo. Continuo me perguntando: até que ponto as pessoas sabem, enquanto estive com elas, que um profeta esteve em seu meio?

Ezequiel foi o primeiro profeta que entrou conscientemente nessa nova esfera de atividade que pode ser chamada de “cura de almas”. O chamado de Ezequiel não foi apenas um chamado tradicional para falar profeticamente; foi um chama­do para se importar com indivíduos, para desempenhar um papel pastoral ajudando pessoas a perceber sua situação aos olhos de Deus.

Qual é o papel do profeta-sacerdote? — especialmente quando desempenha­do fielmente, de forma que as pessoas saibam que o representante de Deus esteve entre elas? Ele fala com o povo em nome de Deus e fala com Deus em nome do povo.

 

Um profeta-sacerdotefala com o povo em nome de Deus

O profeta falou o seguinte em Ezequiel 36.22,23:

Por isso, diga à nação de Israel: Assim diz o Soberano, o senhor: Não é por sua causa, ó nação de Israel, que farei essas coisas, mas por causa do meu santo nome, que vocês profanaram entre as nações para onde foram. Mos­trarei a santidade do meu santo nome, que foi profanado entre as nações, o nome que vocês profanaram no meio delas. Então as nações saberão que eu sou o senhor, palavra do Soberano, o senhor, quando eu me mostrar santo por meio de vocês diante dos olhos delas.

Ezequiel está dizendo que a honra de Deus precisa ser restaurada à vista das nações, e essa honra está conectada com a santidade de Deus; na verdade, é parte integral dela. Ezequiel está falando com as pessoas em nome de Deus. Nós, tam­bém, precisamos falar com as pessoas em nome de Deus. Precisamos chamar o povo de Deus à santidade se queremos chamar a nação à justiça de Deus.

O nome de Deus fora profanado não apenas pelos pagãos, mas pelo seu próprio povo. O mundo de hoje não está dando atenção à igreja, e o mundo de amanhã não dará atenção à igreja até que, e a menos que, aqueles de nós que nos consideramos povo de Deus demonstremos a santidade de Deus perante os olhos do mundo.

Em nenhum outro período houve uma preocupação tão grande com a san­tidade como hoje. O chamado está vindo de quase todo o espectro da tradição teológica, do calvinismo ao catolicismo. A preocupação com a santidade foi reacen­dida porque o evangelho tem sido relativizado por aqueles que quiseram revisar a teologia cristã. A santidade é uma questão de vida ou morte em nossa cultura atualmente? Essa é uma questão importante porque nossa cultura se tornou sem valores, quase completamente libertina.

Essa libertinagem reforça a necessidade de santidade e fortalece a afirmação das Escrituras de que a santidade não é uma opção para o povo de Deus. O profeta precisa falar com as pessoas em nome de Deus lembrando-as dessa ordem para ser santo. Não é provável que as nossas palavras proféticas à nação sejam ouvidas a não ser que exista ao menos um restante do povo de Deus que procure ser, como o apóstolo Paulo, imitador de Deus — santos como ele é santo e vivendo no amor de Cristo como Cristo nos amou e se ofereceu por nós, uma oferta perfumada e um sacrifício agradável a Deus (cf. Ef 5.1,2).

 

A santidade e o amor não podem estar separados

A santidade sem o amor não é o tipo de santidade de Deus. E amor sem san­tidade não é o tipo de amor de Deus. Nossa função sacerdotal profética de falar com o povo de Deus requer que nos identifiquemos com as pessoas, que tenhamos paixão por sua salvação e tenhamos uma compaixão tal que vai até sofrer por sua causa.

Até que ponto os nossos membros sabem que realmente nos importamos com eles? Assim como Javé tornou Ezequiel responsável, ele não nos tornou respon­sáveis por aqueles que confiou ao nosso cuidado? Isso foi mais dramático no caso de Ezequiel. Javé ameaçou exigir a vida do profeta se ele permitisse que as pessoas morressem sem serem avisadas. Assim, Javé disse a ele: ‘”Portanto, comece a gemer, filho do homem! Comece a gemer diante deles com o coração partido e com amarga tristeza” (Ezt 21.6).

Você está gemendo perante os olhos do seu povo? Os seus ouvintes veem esse tipo de paixão fluindo de sua vida?

Quem são as pessoas em sua congregação que, embora possam ser membros da igreja, realmente sentem que não fazem parte? Quem são as pessoas na sua comunidade que ainda precisam receber uma mensagem clara de você, pessoal­mente, e de sua congregação de que você se importa profundamente com elas e que Deus as ama? E quanto aos pobres? Você está comprometido com a verdade irrefutável das Escrituras de que Deus fez uma opção preferencial a favor dos po­bres? E quanto aos trabalhadores pobres, sabendo que entre eles encontramos principalmente as mães solteiras?

E quanto ao vasto segmento de pessoas em cada comunidade para quem Cris­to e sua igreja são realmente estranhos? Você está ordenando sua vida e a vida do culto da sua igreja, seu ministério e missão de tal modo que isso vá até o campo delas, e você procura falar a linguagem delas, uma linguagem que elas entendem? Você oferece algo que vá ao encontro das suas necessidades — não no local onde você gostaria que elas tivessem, mas onde elas realmente estão?

E quanto às pessoas em recuperação, aquelas que querem se libertar das dro­gas e do álcool? Sua igreja é uma comunidade acolhedora e hospitaleira a ponto de ajudá-las a quebrar as correntes da vergonha e da culpa?

“Comece a gemer, filho do homem” (21.6), Deus disse a Ezequiel — e ele diz isso a nós. Mostre às pessoas que você se importa, que você fala em nome de um Deus que nos ama, que perdoa nossas iniqüidades e cura nossas doenças, que nos restaura à nossa plenitude e nos dá alegria.

Um profeta-sacerdote fala com Deus em nome do povo

Não falamos somente com o povo em nome de Deus, mas falamos com Deus em nome do povo. Nosso gemer se torna nossa intercessão, nossa súplica com Deus a favor do nosso povo. Uma das ações que Deus chamou Ezequiel a realizar foi deitar por um tempo considerável, primeiro do lado esquerdo e depois do lado direito, a fim de carregar a culpa de Israel. Deus apresentou esse requerimento em Ezequiel 4.4: “Deite-se então sobre o seu lado esquerdo e sobre você ponha a iniqüidade da nação de Israel. Você terá que carregar a iniqüidade dela durante o número de dias em que estiver deitado sobre o lado esquerdo”. É um chamado poderoso para a identificação com nosso povo e o sofrimento por ele. É um cha­mado e uma ordem para a intercessão.

O mais relevante avanço que eu tive em minha vida de oração durante a década passada foi resultado da minha decisão três anos atrás de achar um modo de orar especificamente por nossa comunidade aqui no seminário. No começo de cada ano, divido nossa comunidade em subgrupos, de modo que, antes que o ano termine, tenho a oportunidade de orar por todas as pessoas em nossa comunidade. Ao menos essa é minha intenção. Antes da semana em que estou orando por um grupo parti­cular de estudantes, de um departamento e do corpo docente, eu lhes escrevo uma carta e os convido a compartilhar suas alegrias e seus motivos de gratidão, de modo que eu possa celebrar com eles. E, depois, peço que compartilhem suas necessidades e preocupações, de modo que, dessa forma, possa concentrar minha atenção.

Durante as duas últimas semanas, tenho orado por um jovem casal que acabou de noivar e outro casal que está lutando desesperadamente para manter seu casa­mento. Eu tenho orado pela esposa de um dos nossos estudantes. O esposo é surdo e ela está tendo dificuldades para arranjar emprego. Tenho orado por um bebê que acabou de ser concebido, o primeiro filho que esse casal terá. Mas tam­bém tenho orado por um bebê de seis meses que nasceu quase cego, está sendo alimentado por meio de um tubo em seu estômago e tem pés tortos que estão engessados — o primeiro filho da irmã de um estudante. Tenho orado por um pastor estudante que está em seu primeiro conflito com a congregação (e não lhe contei que esse é apenas o começo!). Tenho orado por um grupo de estudantes que estão em um projeto missionário na Venezuela. E tenho orado por três dos nossos professores que estão na América do Sul.

Não faço nenhuma afirmação a respeito do impacto e da influência de minhas orações na vida dessas pessoas — embora dificilmente passe uma semana sem que eu tenha uma afirmação comovente vinda de alguém. Mas o que é realmente importante é que, desde que eu comecei minha prática de oração, minha vida mudou. O modo com que eu faço meu trabalho como presidente dessa instituição foi transformado. Na profundidade de minha preocupação e compaixão, existe uma intensidade de espírito, porque falo com Deus em nome dessas pessoas.

Quer ouçam quer deixem de ouvir, elas saberão que um profeta esteve no meio delas.

 

Deus nos chama para sermos servos que ouvem e obedecem

Na história do chamado de Deus a Ezequiel nos capítulos 2 e 3 do livro que leva seu nome, Deus deu alguma direção a ele, algumas promessas que podemos aplicar a nós mesmos. Primeiro, Deus disse a Ezequiel: “Levante-se […], e lá fala­rei com você”. A lição? Devemos ouvi-la. Nossa postura precisa ser sempre uma postura receptiva. Fale, Senhor, seu servo está ouvindo.

Segundo, depois de ouvir o chamado de Deus para se levantar, de modo que pudesse falar com ele, Ezequiel disse: “Enquanto ele falava, o Espírito entrou em mim e me posem pé, e ouvi aquele que me falava” (2.2).

Deus chamou Ezequiel para se levantar, mas depois, como Ezequiel disse: “Um Espírito entrou em mim e me levantou”. Deus não nos chama para uma missão que podemos realizar dentro dos limites de nossa própria força e com os nossos próprios meios, mas unicamente com a sua ajuda divina. Desse modo, somos mantidos de joelhos, dependentes dele.

Terceiro, Ezequiel 3.1-3 diz: “E ele me disse: ‘Filho do homem, coma este rolo; depois vá falar à nação de Israel’. Eu abri a boca, e ele me deu o rolo para eu comer. E acrescentou: ‘Filho do homem, coma este rolo que estou lhe dando e encha o seu estômago com ele’. Então eu o comi, e em minha boca era doce como mel”. Precisamos nos tornar um com a palavra de Deus. O que dizemos precisa corresponder a como vivemos. Só nesse momento é que as pessoas saberão que um profeta esteve no meio delas. Robert Murray McCheyne observou: “A maior ne­cessidade de minha congregação é minha própria santidade pessoal”.

 

Tão santo quanto queremos ser

Em todos os anos do meu ministério, a maior necessidade de minha congre­gação foi minha própria santidade pessoal. Lembro-me de um tempo no começo da década de 1960 quando fui confrontado com uma compreensão chocante: “Sou tão santo quanto quero ser”. Eu era um jovem pastor metodista no Mississipi. Era o pastor coordenador de uma congregação que havia experimentado enorme crescimento e sucesso. A comunhão daquela congregação ficou fragmentada em vir­tude do meu envolvimento no movimento de direitos civis. Eu não sabia que havia qualquer coisa radical no meu envolvimento, mas muitas pessoas na congregação não conseguiam compreender o meu comprometimento e participação. E eu não conseguia compreender a falta de compreensão delas. O evangelho parecia claro.

As pressões, o estresse, a tensão me esgotaram. Eu estava física, emocional e espiritualmente exausto, pronto para entregar os pontos quando fui a um ashram1 cristão liderado por E. Stanley Jones. Jamais esquecerei quando fui ao altar em um entardecer e quando o irmão Stanley colocou suas mãos sobre mim e orou por mim. Ele conhecia a minha história. Nós havíamos estado juntos naquela semana. Quando me ajoelhei, ele disse: “Você quer ser completo e íntegro? Você quer ser santo?”. Essa foi uma experiência santificadora em minha vida que mudou o rumo do meu ministério.

Ao longo dos anos, constantemente tenho me perguntado: Quero ser santo? E tenho me lembrado muitas vezes de novo que realmente sou apenas tão santo

 

1 [N. do T.] Ashram élocal de retiro espiritual de formato semelhante a retiros hindus, mas com práticas e conteúdo cristãos.

quanto quero ser. E quanto a você? Para poder falar com o povo em nome de Deus e com Deus em nome do povo, sua vida e sua palavra precisam estar em harmonia. Quando o que você diz ao povo em nome de Deus está em concordância com a maneira em que você vive entre o povo como um imitador de Deus, o povo saberá que um profeta esteve no meio deles. Espero e oro para que as pessoas de toda congregação em que você ministrar saibam que um profeta esteve no meio delas.

 

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