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Problemas controversos da hermenêutica
1. INTRODUÇÃO
Existem cinco problemas centrais na hermenêutica que precisam afetam a nossa interpretação da Bíblia. Do mesmo modo que a perspectiva da inspiração afeta nossa forma de interpretar a Bíblia, o modo como vamos resolver estes problemas na hermenêutica também afetará a nossa interpretação.
2. PROBLEMA I – A VALIDEZ DA INTERPRETAÇÃO
Talvez uma das perguntas fundamentais da hermenêutica seja: “É possível dizermos qual seja o significado válido de um texto? Ou há muitos significados diferentes para um mesmo texto? É preciso que consideremos o problema de Naphtunkian.
PC1: O Dilema de Naphtunkian
Situação: Certa vez você escreveu uma carta a um amigo íntimo. A caminho do seu destino o serviço postal perdeu sua mensagem, e ela permaneceu perdida durante os dois mil anos seguintes, em meio a guerras nucleares e a outras transições históricas. Um dia ela é descoberta e recuperada. Três poetas da sociedade contemporânea de Naphtunkian traduzem sua carta separadamente, mas por infelicidade chegam a três significados diferentes. “O que isto significa para mim”, diz Tunky 1, “é. . .“ “Discordo”, diz Tunky II. “O que isto significa para mim é. . .“ “Vocês dois estão errados”, alega Tunky III. “Minha interpretação é que é a correta.”
Resolução: Como um observador imparcial que vê a controvérsia da perspectiva celestial onde você agora está (assim esperamos), que conselho você gostaria de dar aos Tunkys para resolver as diferenças? Admitiremos que você foi um escritor razoavelmente claro na exposição de suas idéias.
a. E possível que sua carta tenha, realmente, mais de um significado válido? Se a sua resposta for “Sim”, passe para a letra (b). Se for “Não”, passe para (c).
b. Se a sua carta pode ter uma variedade de sentidos, existe algum limite quanto ao número de significados? Se houver um limite, que critérios você proporia para diferençar entre os significados válidos e inválidos?
c. Se a sua carta contiver somente um significado válido, que critérios usaria você para discernir se a melhor interpretação é a de Tunky I, II, ou III?
Se você concluir que a interpretação de Tunky II é superior, de que modo justificaria sua opinião perante Tunky I e III?
O problema acima, expressa uma das mais decisivas circunstâncias da Hermenêutica. Será que os autores bíblicos, tinham a intenção de escrever documentos com sentidos múltiplos?
E. D. Hirsch, em seu livro, Validade da Interpretação, discute a filosofia que vem sendo aceita desde a década de 1920. Segundo este ponto de vista: “O significado de um texto é o que ele significa para mim”. Em mesma linha de pensamento T. S. Eliot sustenta: “…a melhor poesia é impessoal, objetiva e autônoma, que leva uma vida própria depois de escrita, totalmente separada da vida de seu autor”.
A tendência de se crer numa pluralidade de sentidos dos textos bíblicos, tem uma influência forte do RELATIVISMO, que influenciou a crítica literária em outras áreas além da poesia. Por força desta influência, o estudo do que diz um texto tornou-se um estudo “do que ele diz ao crítico individual”.
No estudo da bíblia, a tarefa do exegeta é determinar tão intimamente quanto possível o que Deus queria dizer em determinada passagem, e não o que ela significa para mim. Se aceitarmos o ponto de vista de que o sentido do texto é o que ele significa para mim, então a Palavra de Deus pode Ter tantos significados quantos forem os seus leitores.
Em segundo lugar, se admitirmos que o sentido de um texto é o que ele significa para cada indivíduo, então, não poderemos julgar como errado uma interpretação herética.
2.1 A distinção entre aplicação e interpretação
Dizer que um texto tem uma interpretação única não significa dizer que também tem única aplicação possível. Assim, quando a expressão bíblica “nada poderá nos separar do amor de Deus”, tem um significado único, mas terá diferentes aplicações, dependendo da situação experimentada pelo indivíduo.
Vamos então formular um princípio da hermenêutica:
REGRA HERMENÊUTICA: Há uma única interpretação e sentido de um texto, porém várias aplicações.
3. PROBLEMA II – INTERPRETAÇÕES DAS ESCRITURAS LITERAL, FIGURATIVA E SIMBÓLICA
Primeiro, vamos entender o que é um sentido literal, figurativo e simbólico de uma Palavra. Vejamos um exemplo. As três sentenças seguintes trazem a palavra coroa, sendo usada em três dimensões diferentes:
Literal: Foi colocada uma coroa na cabeça do Rei.
Figurado: (Um Pai exaltado com o filho diz) “Na próxima vez que você me chamar de coroa, você vai ver estrelas ao meio dia”.
Simbólico: (Ver apocalipse 12:1)
Na teologia liberal, existe uma ênfase em interpretações simbólicas e figurativas. Dessa forma, fatos como a viagem submarina de Jonas, o dilúvio, a queda do homem, etc…, devem ser entendidos apenas como metáforas, símbolos e alegorias, e não como acontecimentos históricos reais. Este tipo de interpretação procura desmentir a veracidade de inúmeros fatos bíblicos.
Já a teologia ortodoxa, apesar de reconhecer a existência de passagens figurativas e simbólicas, enfatiza a necessidade de uma interpretação literal das passagens bíblicas, e admite como fatos históricos reais passagens como a queda do homem, o dilúvio, a viagem de Jonas, etc…
REGRA HERMENÊUTICA: Interprete a Bíblia sempre literalmente.
4. PROBLEMA III – A INERRÂNCIA BÍBLICA
Existem duas posições importantes com relação a questão da inerrância bíblica:
Os evangélicos ortodoxos, que acreditam que a Bíblia é totalmente sem erros. Os evangélicos liberais, que crêem que a Bíblia é sem erro toda vez que ela fala sobre questões de salvação e da fé cristã, mas pode possuir erros fatais nos fatos históricos e outros pormenores.
4.1 Porque a inerrância é importante para os evangélicos?
Primeiro, se a Bíblia erra quando trata de questões não essenciais a salvação, então ela pode cometer erros quando trata de questões relacionadas a comportamentos sociais, familiares, sexuais, da vontade e das emoções.
Segundo. Conforme a história da Igreja tem demostrado, quando alguns grupos começam a questionar a validade de questões periféricas da Bíblia, logo passam a invalidar doutrinas maiores.
Terceiro. Se partimos da pressuposição de que a Bíblia tem erros, e encontramos aparentes discrepâncias entre dois ou mais textos, talvez a nossa decisão seja de que um deles está errado ou ambos. Se partimos do pressuposto que a Bíblia não contem erros, então procuraremos meios exegeticamente justificáveis para explicar as supostas discrepâncias entre textos bíblicos.
CONCLUSÃO: Nossa interpretação Bíblica é profundamente influenciada pelo modo como tratamos a questão da inerrância bíblica.
REGRA HERMENÊUTICA: A Biblia não possui erros em seu conteúdo. Portanto, procure meios exegéticos para justificar as aparentes discrepâncias entre textos bíblicos.
4.2 Exercício prático sobre inerrância bíblica
A- Compare as passagens bíblicas das negações de Pedro e procure explicar através de regras hermenêuticas as diferenças entre os pormenores destas narrativas. (Ver Mt. 26:69-75; Mc. 14:66-72; Lc. 22:54-62; Jo. 18:15-18,25-27)
B – Elaborar uma tabela da seguinte forma:
| MT Pessoas | MC Pessoas | LC Pessoas | JO Pessoas |
Negação 1 |
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Negação 2 |
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Negação 3 |
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| MT Lugar | MC Lugar | LC Lugar | JO Lugar |
Negação 1 |
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Negação 2 |
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Negação 3 |
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C- Procurar comentários que expliquem a razão destas diferenças nas narrativas.
D- Elabore uma conclusão sua, explicando se estas diferenças podem ser harmonizadas ou não.
4.3 Anexo especial sobre inerrância
(4.3.1) A Questão da Inerrância
De todos os problemas controversos com implicações para a hermenêutica, provavelmente um dos mais importantes debatidos pelos evangélicos hoje é o da inerrância bíblica. Este problema tem dividido os evangélicos (os que acentuam a importância da salvação pessoal mediante Jesus Cristo) em dois grupos, aos quais Donald Masters chamou de evangélicos conservadores e evangélicos liberais. Evangélicos conservadores são os que crêem que a Bíblia é totalmente sem erro; os evangélicos liberais crêem que a Bíblia é sem erro toda vez que ela fala sobre questões da salvação e da fé cristã, mas pode possuir erros nos fatos históricos e noutros pormenores.
Há vários motivos pelos quais o problema da inerrância é importante para os evangélicos. Primeiro, se a Bíblia erra quando trata de questões não essenciais à salvação, então ela pode incidir em erro toda vez que fala da natureza do homem, das relações interpessoais e familiares, dos comportamentos sexuais, da vontade e das emoções, e de uma hoste de outros problemas relacionados com o viver cristão. Uma Bíblia que erra pode ser apenas um reflexo da filosofia e psicologia hebraicas antigas, com pouca coisa para oferecer-nos. Segundo, conforme a história da igreja tem repetidamente demonstrado, os grupos que começam por questionar a validade de pequenos detalhes bíblicos, finalmente questionam também doutrinas maiores. Muitos observadores atuais têm visto repetir-se este padrão: a aceitação de uma passagem bíblica errante em assuntos periféricos logo se faz seguir da alegação de que a Escritura erra em ensinos mais centrais.
O problema da inerrância é importante, também, no campo da hermenêutica. Se partirmos do pressuposto de que a Bíblia contém erros, e então encontrarmos uma aparente discrepância entre dois ou mais textos, talvez nossa decisão seja de que um deles está errado, ou ambos. Se partirmos do pressuposto de que a Bíblia não contém erros, nossa motivação será no sentido de encontrar um modo exegeticamente justificável de resolver qualquer aparente discrepância. Os resultados diferentes a que chegamos em virtude das pressuposições tomadas por base tomam-se sobremaneira evidentes na parte da hermenêutica chamada “análise teológica, que consiste essencialmente em comparar um texto dado com outros que tratam do mesmo assunto. O tratamento que dermos à análise teológica diferirá de acordo com nossa suposição de que o ensino dos vários textos, adequadamente interpretados, representa uma unidade de pensamento, ou de que tais textos podem representar uma diversidade de pensamento ocasionada pela inclusão de erros. Em virtude da importância que este problema representa para a hermenêutica, na última parte deste capítulo examinaremos os argumentos apresentados no debate da inerrância.
(4.3.2) Jesus e a Bíblia
Se Jesus Cristo é, como cremos, o Filho de Deus, então sua atitude para com a Bíblia nos proporcionará a melhor resposta àquestão da inerrância. Encontramos uma análise completa no livro de John W. Wenham, Cristo e a Bíblia. Apresentamos a seguir alguns pontos resumidos.
Primeiro, Jesus foi uniforme no trato das narrativas históricas do Antigo Testamento como registros fiéis do fato. Wenham observa:
[Cristo] fez referências a: Abel (Lucas 11:51); Noé (Mateus 24:37-39; Lucas 17:26, 27); Abraão (João 8:56); instituição da circuncisão (João 7:22; cf. Gênesis 17:1012; Levítico 12:3); Sodoma e Gomorra (Mateus 10:15; 11:23, 24; Lucas 10:12); Ló (Lucas 17:28-32); Isaque e Jacó (Mateus 8:11; Lucas 13:28); o maná (João 6:31, 49, 58), a serpente no deserto (João 3:14); Davi comendo os pães da proposição (Mateus 12:3, 4; Marcos 2:25, 26; Lucas 6:3, 4) e como autor de salmos (Mateus 22:43; Marcos 12:36; Lucas 20:42); Salomão (Mateus 6:29; 12:42; Lucas 11:31; 12:27); Elias (Lucas 4:25, 26); Eliseu (Lucas 4:27); Jonas (Mateus 12:39-41; Lucas 11:29, 30, 32); Zacarias (Lucas 11:51). Esta última passagem revela seu sentido da unidade da história e sua compreensão do âmbito dos fatos que ela descreve. Seus olhos percorrem todo o curso da história “desde a fundação do mundo” até “esta geração”. Há repetidas referências a Moisés como o legislador (Mateus 8:4; 19:8; Marcos 1:44; 7:10; 10:5; 12:26; Lucas 5:14; 20:37; João 5:46; 7:19); os sofrimentos dos profetas também são mencionados com frequência (Mateus 5:12; 13:57; 21:34-36; 23:29-37; Marcos 6:4 [cf. Lucas 4:24; João 4:44]; 12:2-5; Lucas 6:23; 11:47-51; 13:34; 20:10-12); e há uma referência à popularidade dos falsos profetas (Lucas 6:26). Ele apõe o selo de sua aprovação sobre passagens em Gênesis 1 e 2 (Mateus 19:4, 5; Marcos 10:6-8).
Conquanto essas citações sejam tomadas por nosso Senhor mais ou menos ao acaso de diferentes partes do Antigo Testamento, e alguns períodos da história sejam cobertos mais amplamente do que outros, é evidente que ele conhecia a maior parte do Antigo Testamento e que ele tratava tudo igualmente como história.
Segundo, muitas vezes Jesus escolheu como base de seu ensino as mesmas histórias que a maioria dos críticos modernos considera Inaceitáveis (e.g., o dilúvio de Noé — Mateus 24:37-39; Lucas 17:26, 27; Sodoma e Gomorra — Mateus 10:15; 11:23, 24; a história de Jonas — Mateus 12:3941; Lucas 11:29-32).
Terceiro, Jesus usou com regularidade as Escrituras do Antigo Testamento como o competente tribunal de apelação em suas controvérsias com os escribas e fariseus. Sua queixa contra eles não era darem demasiado crédito às Escrituras, mas por haverem, em virtude do casuísmo de seus rabinos, distorcido os ensinos dados.
Há vários motivos pelos quais o problema da inerrância é importante para os evangélicos Primeiro, se a Bíblia erra quando trata de questões não essenciais à salvação, então ela pode incidir em erro toda vez que fala da natureza do homem, das relações interpessoais e familiares, dos comportamentos sexuais, da vontade e das emoções, e de uma hoste de outros problemas relacionados com o viver cristão. Uma Bíblia que erra pode ser apenas um reflexo da filosofia e psicologia hebraicas antigas, com pouca coisa para oferecer-nos. Segundo, conforme a história da igreja tem repetidamente demonstrado, os grupos que começam por questionar a validade de pequenos detalhes bíblicos, finalmente questionam também doutrinas maiores. Muitos observadores atuais têm visto repetir-se este padrão: a aceitação de uma passagem bíblica errante em assuntos periféricos logo se faz seguir da alegação de que a Escritura erra em ensinos mais centrais.
O problema da inerrância é importante, também, no campo da hermenêutica. Se partirmos do pressuposto de que a Bíblia contém erros, e então encontrarmos uma aparente discrepância entre dois ou mais textos, talvez nossa decisão seja de que um deles está errado, ou ambos. Se partinnos do pressuposto de que a Bíblia não contém erros, nossa motivação será no sentido de encontrar um modo exegeticamente justificável de resolver qualquer aparente discrepância. Os resultados diferentes a que chegamos em virtude das pressuposições tomadas por base tomam-se sobremaneira evidentes na parte da hermenêutica chamada “análise teológica” (veja o capítulo 5, Análise Teológica), que consiste essencialmente em comparar um texto dado com outros que tratam do mesmo assunto. O tratamento que dermos à análise teológica diferirá de acordo com nossa suposição de que o ensino dos vários textos, adequadamente interpretados, representa uma unidade de pensamento, ou de que tais textos podem representar uma diversidade de pensamento ocasionada pela inclusão de erros. Em virtude da importância que este problema representa para a hermenêutica, na última parte deste capítulo examinaremos os argumentos apresentados no debate da inerrância.
(4.3.3) Conclusão do Assunto
Quando afirmamos que a Palavra de Deus não contém erro, devemos entender esta declaração do mesmo modo que entenderíamos a dedaração de que um relatório ou uma análise especiais são exatos e sem erro. E importante distinguir níveis de precisão intencional. Por exemplo, quase todos nós aceitamos que a população dos Estados Unidos é de 220 milhões, muito embora esta cifra possa, em realidade, estar incorreta por alguns milhões de pessoas. Contudo, tanto o orador como o ouvinte reconhecem que este número é uma aproximação, e quando entendido dentro de seu nível intencional de precisão, não deixa de ser uma dedaração verdadeira.
O mesmo princípio se aplica ao entendimento de afirmações bíblicas: devem ser entendidas dentro dos parâmetros de precisão que seus autores tinham em mente. Princípios específicos de interpretação incluem os seguintes:
1. Muitas vezes os números são dados aproximadamente, praxe muito frequente em comunicação popular.
2. Os discursos e citações podem ser parafraseados em vez de reproduzidos textualmente, prática muito costumeira quando se resumem as palavras de outrem.
3. O mundo pode ser descrito em termos fenomenológicos (como os eventos parecem aos observadores humanos).
4. Os discursos feitos por homens ou por Satanás estão registrados com exatidão sem que isso signifique que era correto o que eles afirmaram.
5. Às vezes um escritor usou fontes para alcançar seu objetivo sem implicar afirmação divina de tudo o mais que essa fonte haja dito.
Essas qualificações são tão universais que as aplicamos a toda comunicação natural, geralmente sem mesmo conscientizar-nos de que estamos assim procedendo. Considera-se exata uma declaração quando ela satisfaz o nível de precisão tencionado pelo escritor e esperado por sua audiência. Um artigo científico, técnico, pode ser muito mais pormenorizado e preciso do que um artigo escrito para o público em geral, mas ambos são exatos quando entendidos dentro do contexto do propósito que tinham em mira. Assim, a afirmação de que Deus é exato e fiel em tudo o que ele diz na Escritura deve ser entendida dentro do contexto do nível de precisão que ele tencionava comunicar.