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Toggle“…ENTRE VOS não SEJA ASSIM…”
Marcos 10:32-37,41-45
1. Introdução
Quero começar esta reflexão traçando algumas características centrais da nossa sociedade.
A competição é uma das marcas registradas da nossa sociedade. Aprendemos desde cedo a competir, a querer os melhores lugares, as maiores posições, os melhores salários. Percebemos que esta atmosfera de competição, deixa muitas pessoas ficam ansiosas. É bom lembrar que o conselho do mestre é: “não andeis ansiosos pelo que haveis de vestir ou de comer…”.
Este espírito de competição tem atingido o segmento evangélico. As vezes nós observamos igrejas disputando membros, como se fossem empresas que disputam clientes. As vezes, observamos cristãos e até mesmo lideres competindo por cargos, por funções e privilégios. Porém, não vemos em Cristo um sentimento de competição, mas de cooperação, de unidade com o pai, e com o seu corpo.
Outra marca da nossa sociedade é o materialismo, que a base da nossa estrutura econômica. Há muitas pessoas que vivem para a vida material. Jesus também encontrou muitas pessoas materialistas em seu caminho. Certa vez um jovem pede a Cristo que resolva um problema de origem material. Lucas 12:13-15:
“13 Disse-lhe alguém dentre a multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparte comigo a herança. 14 Mas ele lhe respondeu: Homem, quem me constituiu a mim juiz ou repartidor entre vós? 15 E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui.”
Estou falando sobre competição e materialismo, porque no texto que acabamos de ler, vemos que até mesmo alguns daqueles discípulos que andavam com Jesus, tinham suas mentes dominadas por estas coisas. Muitos dos discípulos de Cristo estavam mais preocupados com regalias e honras do que com a compreensão do significado da cruz. Muitos ainda não entendiam a essencialidade da autonegação de si mesmos para adquirirem verdadeiro status de discípulos.
2. Principais lições de vida neste texto:
2.1) Nunca percamos a sensibilidade v.32-34
Jesus viajando com os discípulos a Jerusalém. Não podemos deixar de admirar a coragem de Jesus em seguir para Jerusalém consciente do seu calvário, e devemos adorá-lo ainda mais por fazer isso por nós.
Naquela viagem, Jesus declara estar consciente da sua crucificação. Quando consideramos a declaração de Jesus sobre sua morte, ficamos envergonhados ao ver Tiago, João pedindo tronos. Como puderam ser tão insensíveis e egoístas? Um pouco mais adiante, a reação dos discípulos foi discutir entre si quem era o maior (Mc 9:30-34). Pareciam não perceber o significado da cruz, e nem a ânsia que Jesus tinha de compartilhar a importância de tudo aquilo com Eles.
Jesus estava com os discípulos em um momento que fazia revelações importantes sobre a sua morte, a crucificação, o seu sofrimento. Jesus estava abrindo o seu coração naquele instante. Ele desejava compartilhar seus problemas, suas necessidades, e suas crises. Mas, os discípulos estavam preocupados com tronos, disputas de melhores lugares, colocando em segundo plano a sensibilidade cristã.
Neste mundo nós encontramos muitas pessoas que estão vivenciando crises, momentos difíceis, e querem apenas ser ouvidas. Nós mesmos, em certos momentos, queremos ser ouvidos, escutados, precisamos de pessoas que nos apóiem.
Nunca percamos a capacidade de ser humanos e sensíveis. O reino de Deus e a sociedade está a procura de pastores, lideres e crentes que sejam capazes de agir com sentimento de misericórdia, que saibam escutar a voz dos necessitados e a voz de Deus, que sejam mais sensíveis ao evangelho da cruz do que as propostas do evangelicalismo ou ainda da teologia da prosperidade.
ILUSTRAÇÃO: Há alguns anos, nas olimpíadas especiais de Seattle, também chamada de Paraolimpíadas, nove participantes, todos com deficiência mental ou física alinharam-se para a largada da corrida dos cem metros rasos.
Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com a vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar. Todos, exceto um garoto, que tropeçou no piso, caiu rolando e começou a chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo olharam para trás. Viram o garoto no chão, pararam e voltaram. Todos eles!
Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou-se, deu um beijo no garoto e disse: “Calma, você vai sarar”.
E todos os noves competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e não tinha um único par de olhos secos. E os aplausos duraram longos minutos.
MORAL DA ILUSTRAÇÃO: O que importa nesta vida, mais do que ganhar sozinho, é ajudar o próximo a vencer também, mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso. Que aprendamos a nos alegrar com a alegria dos outros, com o crescimento dos outros. Que não sejamos aquele tipo de crente ou mesmo de líder que fica triste por ver que a Igreja de outro colega pastor cresceu mais do que a nossa, ou que um determinado irmão prosperou mais do nós.
Que cada um de nós possa ser capaz de diminuir o passo ou mudar de curso para ajudar alguém que em algum momento de sua vida tropeçou e precisa de ajuda para continuar!
Vejamos alguns textos sobre sensibilidade:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” – Mateus 19.19.
Gálatas 6:2: Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.
2.2) Cuidado com os desejos ambiciosos. (v.5- 37, 41)
Naquele momento, em que Jesus estava abrindo o seu coração, e falando sobre os aspectos de sua morte em Jerusálem, Tiago e João pedem: “mestre queremos que nos concedas o que te vamos pedir”. E Jesus diz: “Que quereis que vos faça”. Tiago e João dizem: “Concede-nos que na tua glória, nos assentemos, um a tua direita, e o outro a tua esquerda”.
Aprendo aqui algo importante. A ambição em seus corações os impedia de escutar a quem desejava transmitir o significado e o propósito do reino de Deus.
Acho interessante que eles não ambicionaram compartilhar os sofrimentos de Cristo, não almejaram ser grandes pregadores do evangelho, não ambicionaram a mortificação da carne e a morte do eu, não planejaram servir ao próximo e ao reino de Deus. Seus corações e mentes estavam dominados pelo sonho das honras e poder que poderiam receber se ficassem assentados ao lado de Cristo em sua glória.
Tiago e João não entendiam ainda, que a glória de Cristo consistia em passar pela cruz, em ser humilhado, em agir como servo, e em negar-se a si mesmo para que a vontade do Pai fosse consumada.
A nossa glória não será obtida se construirmos grandes templos, se realizarmos grandes cruzadas, se recebermos inúmeros reconhecimentos sociais, ou muitas honras, ou se formos os autores de grandes projetos missionários. Se queremos alguma glória, ela pode ser encontrará no caminho da humilhação, da obediência, da auto negação do eu e do compromisso em servir a causa do reino.
Atente para o que diz o verso v.41, diz: ”Quando os dez ouviram isso começaram a indignar-se contra Tiago e João.”
Tiago e João provocaram a indignação dos outros discípulos e causaram discórdia no grupo. A indignação dos outros 10 discípulos não pode ser considerada como atitude zelo espiritual. Os outros se exasperam por não terem pensando nisso antes que Tiago e João. A reação dos 10 demonstra que ainda havia entre eles sentimentos de competição por cargos, privilégios, e uma ânsia por status e importância.
Sejamos honestos em confessar que nos reagirmos, as vezes, como os 10 discípulos. Ficamos descontentes com uma honra que é dada a outro. E dizemos em nossa coração: “eu, é que deveria ser honrado. Estou a tanto tempo fazendo isso, e ninguém reconhece”. Estes sentimentos de insatisfação, projetam no corpo de Cristo um ambiente de competição e disputa. E nós podemos passar a agir ativamente no corpo para mostrar que podemos ser os melhores.
Aqui faço menção as palavras do apostolo ditas aos Filipenses: “façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.”
2.3) Quais são as nossas motivações no reino v.43
Para nós que estamos vivendo neste mundo dominado pela competição Jesus diz: “Entre vós não seja assim”. V.43.
Como tantas pessoas hoje em dia, os discípulos seguiam exemplos errados, porque tinham motivações, também erradas. Em vez de imitarem a Cristo, eles admiravam a glória e a autoridade dos governantes romanos, de homens que amavam a fama e o poder. Seus conceitos de poder e grandeza ainda eram os conceitos mundanos.
Jesus passa a construir um novo significado de grandeza e poder. No reino, devemos ter cuidado com a forma de definir a “grandeza” e os motivos pelos quais desejamos alcançá-las. Jesus disse: “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos” (Mc 10:43, 44).
Deus mostra claramente nas Escrituras que todo indivíduo precisa ser um servo fiel antes de Deus elevá-lo a governante. Foi o que aconteceu com José, Moisés, Josué, Davi, Timóteo e até mesmo com Jesus (Fp 2:1-11). A menos que sejamos capazes de obedecer a ordens, não teremos o direito de dar ordens. Antes de exercer autoridade, é preciso saber o que significa estar debaixo de uma autoridade.
Se Jesus Cristo seguiu esse modelo para realizar sua grande obra de redenção, certamente não há outro modelo a seguir. Para que tenhamos sucesso neste reino, caminhemos nas trilhas da obediência e do compromisso em servir.
3. Conclusão
Ao terminar esta reflexão preciso ainda destacar as palavras espantosas de Cristo em Marcos 10:45: “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
Ao refletirmos sobre a natureza de Deus e seu infinito poder, descobrimos que somos partículas pequenas e desprezíveis diante da sua majestade.
E este Deus majestoso esta dizendo através do Filho, que veio para “servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
As vezes, reflito sobre quais são os grandes desafios da vida pastoral. Será que é o de ter uma boa pregação? Ou ser de se ter um grande domínio sobre a doutrina? Ser um grande construtor? Ser um grande ganhador de almas? Ser conhecido como um profundo estudioso da palavra?
Há um desafio maior do que todos estes: É que sejamos capazes de fazer tudo isso, sempre lembrando que somos apenas servos.
Deus esta a procura de crentes e lideres que tenham coração de servo.