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ToggleNão desista de adorar em tempos difíceis
Referência: Salmos 137.1-9
1 Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião.
2 Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas,
3 pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.
4 Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha?
5 Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita.
6 Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria.
7 Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, do dia de Jerusalém, pois diziam: Arrasai, arrasai-a, até aos fundamentos.
8 Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste.
9 Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra.
INTRODUÇÃO
Um escritor afirmou: “Antigas bênçãos não são suficientes para a vida de hoje nem antigas mágoas devem estragar o presente”. De fato, esta é uma grande verdade. Ao escrever este Salmo os judeus se lembraram das bênçãos do passado, da vinha que tinham em Jerusalém.
Mas agora eles viviam no cativeiro Babilônico. A gloriosa cidade de Jerusalém havia sido invadida, saqueada e destruída por Nabucodonosor em 586 antes de Cristo. O povo de Judá por não ouvir a voz de Deus e por se corromper moral e espiritualmente foi levado cativo.
Foi um cerco doloroso. Os jovens foram esmagados e passados ao fio da espada. As crianças esmagadas sob as pedras. As jovens foram forçadas. Os que morreram à espada foram mais felizes do que aqueles que morreram de fome dentro das muralhas. Os que tentavam escapar do cerco da morte eram encurralados pelos Edomitas que festejavam a ruína de Jerusalém.
O povo viveu no cativeiro setenta anos. Aqueles que voltaram estão relembrando o passado. Eles estão vivendo de reminiscências amargas. Eles desenterrando o passado de dor. Estão fazendo incursões pelos corredores sombrios das lembranças que um dia os fizeram sofrer. Eles se lembram quando deixaram de cantar. Eles se lembram quando dependuraram suas harpas. O cativeiro havia passado, mas as memórias amargas não.
De vez em quando somos também assaltados por crises medonhas. A vida fica estranha. Perdemos a doçura da vida. Ficamos amargos, azedos, fechados. Deixamos que as circunstâncias determinem nossas emoções. Deixamos de cantar. Tornamo-nos um poço de amargura.
É fácil cantar em Sião, os cânticos de Sião. Mas, somos chamados a entoar os cânticos do Senhor no cativeiro, no aperto, debaixo da opressão, na dor, no luto, no prejuízo, na afronta, na enfermidade. Não podemos deixar que a crise nos endureça e nos torne secos.
Nossa espiritualidade não pode ficar presa só no contexto do sagrado. Tem gente que é uma bênção na igreja, canta os cânticos de Sião com exultação em Sião, mas ficam amargos e duros e praguejam diante da adversidade, dos problemas e do estranho.
Devemos cantar como Jó: mesmo no prejuízo financeiro, mesmo surrado pela dor luto, mesmo na agonia da enfermidade, mesmo diante da incompreensão conjugal, mesmo que os amigos nos façam acusações levianas. Jó disse: “O Senhor Deus deu, o Senhor Deus tomou, bendito seja o nome do Senhor”.
Mas porque muitos tem desistido de adorar e se seguir com Cristo em tempos difíceis? Essa será a pergunta sobre a qual iremos refletir nesta ocasião.
I. MUITOS DESISTEM POR CAUSA DAS LEMBRANÇAS AMARGAS (Sl 137.1-4)
Lembranças amargas podem fazer com que uma pessoa entre em crise. E era exatamente isso que acontecia com o povo de Deus. Eles estavam mergulhados num oceano de profunda crise.
Que tipo de crise eles enfrentavam?
1. Enfrentaram a crise da desinstalação (Sl 137.1)
“Às margens dos rios da Babilônia”.
Eles estão onde não gostariam de estar, pisando um chão onde não gostariam de pisar. Eles foram arrancados do seu lar. Seus vínculos foram quebrados. Tudo que eles amavam foi violentado. Perderam suas raízes.
A vontade deles não foi respeitada. Não são livres. São tratados como coisas, como objetos. Perderam seus bens, suas casas, suas famílias, seu templo, sua cidade, sua cidadania. Foram despojados. O verso 3 diz: “… aqueles que nos levaram cativos”. Eles se tornaram impotentes para reverter a situação. Não se sentir livre é uma sensação muito ruim.
Talvez você também desistiu de cantar e dependurou suas harpas porque você está onde não gostaria de estar, fazendo o que não gostaria de fazer. Sua vida foi virada de cabeça para baixo. Deus quer mudar esse quadro.
2. Enfrentaram a crise da apatia coletiva (Sl 137.1)
“Nós nos assentávamos…”.
Apatia é desânimo crônico. É morte da esperança. É aceitação passiva da derrota. É a decretação do fracasso. Apatia é desistir de lutar, é se dar por vencido. É aceitar o caos com naturalidade. Apatia é apostar que a crise é imutável, que as tragédias são irremediáveis, que nada nem ninguém dá jeito no caos.
Eles não se assentam para formularem uma estratégia de reação diante do barbarismo histórico. Eles se assentam para contemplarem a tragédia, para flertarem com a miséria. Eles só olham na direção do nada. Eles se assentam para achar que não existe mais solução; não existe mais volta nem retorno.
Estamos em processo de profunda apatia quando nos falta sonho para sonhar, ou esperança para esperar. Não aceite a o domínio da apatia, a morte da esperança e a soberania do fracasso. Reaja. Busque uma renovação de seu ânimo em Cristo. Não de como perdida, circunstâncias que Deus tem poder de reverter.
3. Enfrentaram a crise da nostalgia (Sl 137.1)
“… lembrando-nos de Sião”.
Nostalgia é um estado de profunda tristeza causado pela falta de algo. É a sensação de saudade pela lembrança de um momento vivido no passado. O povo de Deus vivia em profunda nostalgia, lembrando-se de Sião.
Esses israelitas não fizeram como Daniel. Daniel resolveu ser uma bênção da Babilônia antes da Babilônia azedar sua alma. A espiritualidade de Daniel não era geográfica. Não se limitava a Sião, à igreja, ao templo. Ele não vivia de saudosismo. Ele resolveu andar com Deus na Babilônia e cantar os cânticos do Senhor em terra estranha.
Os israelitas deixaram de cantar e testemunhar na Babilônia porque a nostalgia de Sião os dominou. Eles estão amargos com o presente porque não deixaram o passado no passado.
Deixar de cantar na crise é negar a fé, é renunciar o testemunho, é viver o projeto da anti-espiritualidade.
II. MUITOS DESISTEM POR CAUSA DA FALTA DE PERDÃO (Sl. 137.5-9)
Os versículos 5-9 revelam que eles desistem de cantar porque desistem de perdoar. O texto está empapuçado de violência, do desejo de vingança. Eles ficaram amargos, revoltados, cheios de ódio. Até seus opressores pediram para eles serem alegres. Eles estão como um boldo existencial, vivendo a espiritualidade do absinto.
O povo judeu tinha uma religiosidade forte. Tinha o melhor sistema doutrinário do mundo. Tinha uma teologia da História. Conhecia as intervenções libertárias de Deus, mas agora, sua religiosidade está morta, não cantam na crise.
Eles só cantam em Sião quando tudo está bem. Eles não sabem cantar em terra estranha. Eles não sabem celebrar no aperto da história. No versículo 2, eles aposentam as harpas, instrumentos usados para cantar canções de alegria e festividade. A fé deles é circunstancial. Só cantam em Sião.
A primeira vez que olham para o futuro é para desejar a tragédia e destruição de seus inimigos (Sl 137.8). Seu futuro é de ódio. Por isso profetizam o trágico, de forma irremediável. “Que hás de ser destruída”.Eles não deixam a possibilidade de mudança de arrependimento para a Babilônia. Eles sonham com o caos irremediável. Eles se colocam na contramão de toda espiritualidade. Eles perdem a capacidade de amar e perdoar.
Eles estão presos ao DIA da tragédia, ao dia da dor, do saque, da espoliação, do massacre, da desinstalação de Sião. Eles se lembram da covardia dos Edomitas que os esperavam nas encruzilhadas para matá-las em sua fuga desesperada. Eles se lembravam das palavras de alegria dos Edomitas enquanto eles eram perseguidos e mortos. Eles não perdoam. Eles não têm paz. Eles não esquecem esse dia que foram agredidos.
A ferida está aberta e sangrando. Ferida que precisava fechar, curar. O perdão cura feridas e restaura a relação que temos com Deus.
III. MAIS QUAIS MOTIVOS ELES TINHAM PARA NÃO PARAR DE ADORAR
1. Eles estavam às margens dos rios da Babilônia (Sl 137.1).
Eles não estavam num deserto. Estavam perto dos rios (Eufrates e Tigre), lugares férteis, cheios de verdor e de fartura. A vida não estava tão dura assim. Eles é que estavam duros. Estavam olhando para a vida de forma vesga.Os recursos não haviam se esgotado. Eles tinham água, tinham vida, tinha sobrevivência.
2. Eles tinham sombra para o descanso (Sl 137.2).
Eles tinham sombra, descanso, refrigério. Os salgueiros eram árvores frondosas das grandes e úmidas planícies da Babilônia. Eles não vêem a bondade de Deus nem discernem o propósito da disciplina de Deus.
Olhe ao seu redor. Deixe de reclamar. Pare de murmurar. Dê um basta nesta hemorragia de murmuração. Isaías 54.1 diz: “Canta alegremente, ó estéril” = Deus nos convida a cantar no estranho, na agenda do absurdo.
Temos muitos exemplos de pessoas que não murmuraram. Marcos 14.22-26, Jesus cantou um hino na cena da Ceia. A hora era dramática. Era o momento dele entregar seu corpo, dar o seu sangue, enfrentar a traição, viver a ausência da amizade, ser escarnecido, espancado. Ainda assim, ele canta em vez de praguejar. Atos 16.25 = Paulo e Silas mesmo surrados, esfolados e agredidos cantam na cadeia sem mágoa porque sabiam que Deus converte até as tragédias para o nosso bem.
CONCLUSÃO
Quero finalizar esta palavra lhe recomendando a fazer alguns exercícios espirituais. Exercite em sua memória as lembranças positivas e não as negativas. Exercite a prática do perdão contra pessoas que de alguma forma lhe atingiram.
A última palavra é de Deus e não das circunstancias. Não perca a doçura da vida. Deus é quem dirige tudo. Faça da vida uma canção de glória ao Salvador. Tire agora mesmo as suas harpas dos salgueiros e entoe uma canção ao Senhor.
Pr Josias Moura